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Pioneirismo na Esplanada dos Ministérios do Brasil

É verdade que já tivemos na Presidência da República e na Esplanada dos Ministérios alguns pretos e pretas, mas pela primeira vez tal conquista tem robustez e o DNA do movimento negro, embora não reflita – ainda – os mais de 50% da população brasileira que somos!

Anielle Franco do Ministério da Igualdade Racial
Anielle Franco do Ministério da Igualdade Racial

Primeiros Negros

Nunca antes neste país – poderia afirmar Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em seu terceiro mandato à frente da Presidência da República – tantas pessoas pretas assumiram o primeiro escalão na Esplanada dos Ministérios! 

E é verdade, apesar de ser uma verdade menor do que temos direito!

O presidente Lula, mesmo antes do terceiro mandato, já detinha a marca de governo com o maior número de negros no primeiro escalão – tanto em 2003 como em 2007, quatro afrodescentendes foram nomeados, mas restrito a cinco nomes

Desta vez, ele se superou: somos 11 dos 37!!! 

E o número embute “negros de ocasião”.  

Jornada negra na Esplanada

Entre o primeiro e o segundo mandatos (2003-2010), foram empossados oito dos nossos: Benedita da Silva, ministra da Assistência e Promoção Social (2003-2007); Gilberto Gil, ministro da Cultura (2003-2008); Marina Silva

ministra do Meio Ambiente (2003-2008); Matilde Ribeiro, ministra da Igualdade Racial (2003-2008); Orlando Silva, ministro dos Esportes (2006-2011); Edson Santos e Eloi Ferreira, como ministros-chefe da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.

Saiba mais sobre Orlando Silva, o primeiro e único presidente negro da União Nacional dos Estudantes, e Benedita da Silva, primeira governadora negra do Brasil.

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva: “Estamos e situação de emergência climática” (Fernando Donasci/MMA/Divulgação).

Dos cinco ministros e ministras negras do passado, apenas Marina Silva, do Partido Rede e Sustentabilidade, retorna ao, agora, Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. As outras mulheres pretas do primeiro escalão são: Luciana Santos  (PCdoB), no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação; Margareth Menezes, no Ministério da Cultura; Anielle Franco (PT), no Ministério da Igualdade Racial, e Cida Gonçalves (PT), no Ministério das Mulheres.

Aos homens negros coube o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, com Silvio Almeida e mais…

Flávio Dino, na Justiça; Rui Costa, na Casa Civil; Juscelino Filho, das Comunicações; e Wellington Dias, no Desenvolvimento Social.

‘Negros de ocasião’?

Não é um dado novo o surgimento de ‘negros de ocasião” quando se olha a história de apropriação de tudo que é do povo preto pela branquitude. Dos 37 ministros de Lula, 11 se autodeclararam pretos ou pardos. 

Anielle Franco, Luciana Santos, Margareth Menezes, Marina Silva e Silvio Almeida, ok. Mas Juscelino Filho, novo ministro das Comunicações, mudou a autodeclaração de branco para pardo nas Eleições 2022!

Flávio Dino, ministro da Justiça e da Segurança Pública, agora se diz “pardo”,  bem como Rui Costa, ministro da Casa Civil da Presidência da República; Carlos Lupi, ministro da Previdência Social, e Waldez Góes no Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional. engrossam a lista dos “novos negros”.

O levantamento é da equipe do site Alma Preta Jornalismo, baseado na autodeclaração de raça dessas pessoas, feita em sites oficiais, como o do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para os casos de ministros que já ocuparam algum cargo público. Para outras situações, foram consideradas declarações públicas encontradas.

Incluindo os “negros de ocasião”, no terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, o atual presidente que dividiu pastas que haviam sido unificadas e aumentou a quantidade de ministros, aumentou também a representatividade negra, chegando a 27% do total

Quem é quem

Ministros-Negros
(Reprodução)

Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial – Educadora, jornalista, escritora, ativista pelos Direitos Humanos, feminista preta, mãe, é cria do complexo de favelas da Maré, na zna norte do Rio de Janeiro. É formada em Jornalismo e Inglês pela Universidade Central da Carolina do Norte (EUA); bacharel licenciada em Inglês e  Literatura pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ); mestra em Jornalismo e Inglês pela Universidade da Flórida (EUA); mestra em Relações Étnico-Raciais pelo Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro e doutoranda em Linguística Aplicada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Após o brutal assassinato de sua irmã em 14 de março de 2018, a ex-vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, fundou o Instituto Marielle Franco. À frente do Instituto, em 2020, lançou a Plataforma Antirracista nas Eleições para apoiar candidaturas negras nas eleições municipais. É referência na defesa dos direitos humanos e das mulheres negras e periféricas. Em 2022, lançou o livro “Minha irmã e eu”, com cartas que escreveu para a irmã após a sua morte e memórias da infância.” Anielle também foi jogadora de vôlei profissional. Por conta disso, ganhou uma bolsa esportiva para estudar nos Estados Unidos aos 16 anos.

Luciana Santos, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovações: Formada em Engenharia Elétrica, inicia sua trajetória na política em movimentos estudantis. Presidente nacional do PCdoB, já cumpriu dois mandatos como deputada federal, além de integrar as comissões de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, de Desenvolvimento Urbano e de Cultura. Deputada estadual e  prefeita de Olinda, por dois mandatos, em 2018 é eleita a primeira mulher vice-governadora de Pernambuco, estado onde nasceu.

Margareth Menezes, ministra da Cultura: Cantora e compositora baiana, com 35 anos de carreira artística, é considerada um ícone do carnaval baiano. Fundou há 18 anos, em Salvador, a Associação Fábrica Cultural, uma organização social sem fins lucrativos que desenvolve projetos nos eixos de cultura, educação e sustentabilidade.

Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima: Ambientalista e historiadora, é dona de uma longa carreira na política, tendo sido vereadora de Rio Branco, capital do Acre;  deputada estadual e senadora pelo seu estado. Nas últimas eleições, foi eleita deputada federal por São Paulo. É uma das fundadoras da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Acre, ao lado do seringueiro Chico Mendes.

Leia sobre Marina Silva, a mais jovem senadora e primeira negra candidata à Presidência da República do Brasil, aqui.

Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos e Cidadania: Natural de São Paulo, é um dos mais reconhecidos intelectuais brasileiros da atualidade por seus estudos sobre racismo estrutural e políticas discriminatórias. Advogado, filósofo, professor universitário e palestrante, preside o Instituto Luiz Gama, organização que reúne acadêmicos, juristas e ativistas que atuam em favor de negros e outras minorias.

Outros pioneiros

Edson Arantes do Nascimento, o rei do futebol, Pelé, foi o único ministro negro nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, entre 1995 e 2002. Pelé esteve à frente do Ministério dos Esportes, de 1º de janeiro de 1995 a 29 de abril de 1998. E, após a sua exoneração, a pasta foi extinta. 

Leia também Pelé, um homem negro.

Dilma Roussef foi um pouquinho além. No seu primeiro mandato (2011-2015), duas pessoas pretas fizeram parte do primeiro escalão – Luiza Bairros, ministra da Igualdade Racial, e Orlando Silva, ministro dos Esportes, Orlando Silva , só no ano de 2011. E, no segundo mandato (2015-2016), colocou apenas uma pessoa negra no poder, Nilma Lino Gomes, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos. Nos outros 39 ministérios que criou, a presidenta confirmou o privilégio da branquitude empossando 5 mulheres e 33 homens! 

Saiba mais sobre Nilma Lino, primeira reitora negra em universidade federal do país

Em 2017, após o impeachment de Dilma Rousseff, Michel Temer criou o Ministério dos Direitos Humanos e a negra Luislinda Valois, primeira juíza negra do Brasil, assumiu a pasta na tentativa de “melhorar a imagem do governo”.

No início do governo Bolsonaro, dos 23 ministros, apenas um se autodeclarava “pardo”: Wagner de Campos Rosário (clique para ver a foto), na pasta da Controladoria-Geral da União, remanescente do governo Temer. O segundo foi Carlos Decotelli para o Ministério da Educação, o primeiro ministro negro de fato, mas que ocupou o cargo por apenas cinco dias.

Nos governos de José Sarney, Fernando Collor e Itamar Franco, as fotos do primeiro escalão denunciam a ausência de afrodescendentes.


Fontes: Alma Preta, Mundo Negro, Poder 360, Diário do Estado de GoiásMetrópoles-história, Jota-Info, Metrópoles-paridade, Metrópoles-novos ministros

Escrito em 5/1/2023

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