Escrita em primeira pessoa, sua história, única documentada entre os milhões de negros trazidos para as Américas, revela detalhes das operações do tráfico negreiro.
O que este artigo responde: Quem foi Mahommah Gardo Baquaqua? Qual foi a contribuição de Mahommah Gardo Baquaqua para a história do Brasil? Qual o tma principal na autobiografia de Mahommah Gardo Baquaqua? Quando a autobiografia de Mahommah Gardo Baquaqua foi publicada? Qual é o legado de Mahommah Gardo Baquaqua na história do Brasil?
Mahommah Gardo Baquaqua nasce no século XIX, entre 1820 e 1830, em Zooggoo, no Bênin. De família de comerciantes muçulmanos, estuda o Alcorão, Matemática e Literatura, e se envolve em conflitos políticos na juventude, ao participar das guerras de sucessão em Daboya, ser capturado e, em seguida, resgatado.
De volta à sua terra natal, torna-se serviçal de um funcionário local, cargo de confiança que desperta inveja de outros empregados. Vítima de emboscada, é sequestrado, aprisionado e embarcado em um navio negreiro. Assim, ele chega ao Brasil, mais precisamente na cidade de Olinda, em Pernambuco.
É o ano de 1845. O tráfico internacional de negros é crime no Brasil, mas a lei não o protege dos grilhões e da chibata!
Cativo
Seu primeiro senhor, um padeiro português, tem requintes de crueldade. Mahommah, no início, é colocado para construir casas carregando pedras. Mas, não demora, ele aprende o português e passa a exercer funções reservadas aos escravos de confiança. Isso não impede, entretanto, que a situação indigna da escravidão o leve ao alcoolismo e à tentativa de suicídio.
Depois de um tempo, vendido para outro senhor, no Rio de Janeiro, Mahommah trabalha no transporte naval até que, em 1847, viajando em um navio com carregamento de café, chega a Nova Iorque, nos Estados Unidos. Lá, abolicionistas locais o encorajam a fugir.
Após a fuga, no entanto, ele é preso. Mas, de novo, abolicionistas interferem na sua história, o ajudam a escapar e o enviam para o Haiti, país que havia passado por uma revolução negra e abolido o trabalho escravo.
Nação negra
No Haiti, uma nação negra, ele vive com o reverendo Judd, um missionário batista, converte-se ao cristianismo, aprende francês e criolo haitiano.
De volta aos Estados Unidos, devido à instabilidade política no Haiti, Mahommah estuda, por três anos, no New York Central College, em McGrawville. Em 1854, vai para o Canadá e, no mesmo ano, tem sua autobiografia publicada.
Não há registros conhecidos da vida de Mahommah após 1857. O que se sabe é que ele vivia na Inglaterra e havia recorrido à Sociedade da Missão Livre Batista Americana para ser enviado como missionário cristão ao continente africano.
A narrativa
Sua autobiografia, em língua inglesa, An Interesting Narrative – Biography of Mahommah G. Baquaqua, é a única história documentada entre os milhões de negros trazidos para as Américas.
Publicada pelo abolicionista americano Samuel Downing Moore, é um relato fundamental, escrito em primeira pessoa, que revela detalhes das operações do tráfico negreiro da época. Repleto de pormenores do cotidiano, como o nome plantas, animais, ferramentas de trabalho, roupas e penteados, e detalhes sobre as estruturas familiares, o livro dá ênfase à violência sofrida por ele e por outras mulheres e homens escravizados no Brasil.
A primeira menção à autobiografia – e à existência de Mahommah Baquaqua – é feita no Brasil em 1989, pelo professor e historiador norte-americano Peter Eisenberg. Mas só em 13 de maio de 2017, 163 após a primeira edição, esta história ganhou uma tradução voltada ao território nacional, pela Editora Uirapuru.
Lucciani Furtado – responsável pela tradução e organização da obra – passa quase seis anos trabalhando na publicação e consegue imagens inéditas com a ajuda de arquivos institucionais do Brasil e do exterior.
Mas é da intensidade do próprio autor que – na opinião do tradutor – vem muito do impacto do livro:
“Somente a escrita pode dar importância a essa história e, mesmo assim, por muito tempo as pessoas se recusaram a acabar com a escravidão. A brutalidade de um trauma violento pode ser mais fácil de suportar do que a brutalidade da insignificância. Esses diversos aspectos vivenciados por um homem e não por uma personagem de ficção nos dão uma visão em primeiro plano de tudo que aconteceu. Mahommah Baquaqua é uma daquelas pessoas que gostaríamos de conhecer. É a pessoa que gostaríamos de ser. Se ele sofreu foi porque teve que enfrentar contingências sobre-humanas. E ele foi um verdadeiro herói.”
Fontes: G1, Wikipedia, Revista Trip, Geledés
Grata por me proporcionar, vastos conhecimentos nesta abordagem temática. Muito feliz por ser impactada com tamanha criticadas. Parabéns! Sou uma mulher negra , que tenho uma história de lutas e resistências neste mundo contemporâneo.
Estou feliz por conhecer este site, muito me trouxe conhecimentos , acerca da história negra no Brasil. Conhecendo um pouco através do poeta Castro Alves, como perdurou o sofrimento dos escravos, na época
Em que a carne era pra o mercado escravocrata a mais barata, ou seja sem valor algum. Aqui deixo expresso meus sentimentos de revolta, pois até hoje, a cor da pele ainda é retratada como insignificante e sem vida.Ou seja carne negra é carne morta!