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InícioWole Soyinka, primeiro africano a ganhar o Nobel de Literatura

Wole Soyinka, primeiro africano a ganhar o Nobel de Literatura

Intelectual militante, dentro e fora de seu país, Wole Soyinka foi o primeiro escritor africano a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, em 1986, sendo considerado o dramaturgo mais notável da  África.

Nigéria
Wole Soyinka (Imagem: Reprodução)

O primeiro Nobel de Literatura – prêmio literário atribuído a um autor de qualquer nacionalidade que, de acordo com as palavras do próprio Alfred Nobel, criador da distinção, tenha produzido, através do campo literário, o mais magnífico trabalho em uma direção ideal – foi concedido em 1901. A premiação acontece uma vez ano. Mas foram precisos 85 anos para que um escritor do continente africano recebesse a honraria. Seu nome é Wole Soyinka.

O poeta, dramaturgo, romancista, crítico, editor, tradutor, homem-orquestra da literatura africana, nasceu Akinwande Oluwole Soyinka, em Abeokuta, no oeste nigeriano, em 13 de julho de 1934, onde aprendeu as primeiras letras. Filho de família humilde, de origem yorubá, no curso secundário, foi aluno no Government College, em Ibadan. O nível superior, se dividiu entre a University College (1952-1954), em Ibadan, e a University of Leeds (1954-1957), na Inglaterra, onde se formou com menção honrosa em Literatura Inglesa.

Em Londres, trabalhou no Teatro da Corte Real (Royal Court Theater), antes de retornar ao seu país, na década de 1960, para se dedicar ao estudo da dramaturgia africana, lecionando nas  universidade de Lagos e Ife – Soynka é professor de Literatura Comparada – e participar ativamente da história política da Nigéria.

Combativo

Intelectual militante, dentro e fora de seu país, Wole Soyinka foi o primeiro escritor africano a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, em 1986, sendo considerado dramaturgo mais notável da  África, admirado em todo o continente por sua obra e sua participação ativa na luta pela independência de seu país nos anos de 1960 e pela batalha intransigente, por meio de seus escritos, contra os ditadores que se sucederam após a independência. Ficou preso durante dois anos, entre 1967 e 1969.

Wole Soyinka (Imagem: Reprodução)
Wole Soyinka (Imagem: Reprodução)

 Dezenove  anos antes de apresentar, oficialmente, a Literatura africana ao mundo, em 1967, durante a guerra civil nigeriana, Soyinka, já escritor, foi preso, a mando do  Governo federal e mantido em confinamento solitário, por 22 meses, por suas tentativas de mediar a paz entre os partidos em guerra.

A forte ligação com sua terra, entretanto, o fez voltar à Nigéria no início dos anos 1990 e se envolver, mais uma vez, com a política, participando de manifestações contra a ditadura do general Sani Abacha (1993-1998).

Após sofrer ameaças de morte, Soynka, em exílio voluntário, passou cinco anos  Estados Unidos onde lecionou na University of Emory, na cidade de Atlanta. O escritor só retornou ao país quando da morte do ditador.

Obras

Ao longo de sua carreira, Wole Soyinka publicou mais de 20 livros de ficção e diversas peças teatrais.

Seus livros descrevem as fases de transição da vida social, política e cultural da Nigéria. “Quem se cala diante da tirania está destinado a morrer” ou “a justiça é a primeira condição da humanidade” são frases que revelam sua disposição ao combate.

Para alguns críticos, uma observação cronológica das peças teatrais de Soyinka equivale ao estudo da política nigeriana. Sua peça A dance of the forest (1963) foi escrita sob encomenda para ser encenada na celebração da independência da Nigéria, por exemplo.

Muitos de seus escritos tratam do que ele chama de “the oppressive boot and the irrelevance of the colour of the foot that wears it”, ou seja, parafraseando: o coturno opressivo e a irrelevância da cor do pé que a calça.

Sua forma de pensar e se expressar sempre o colocou em risco, mas jamais o calou. Mesmo atrás das grades, ele escreveu poemas que mais tarde viriam a ser publicados em uma coleção sob o título Poems from Prison (1969). E depois, liberto, ele recontou o período de confinamento no livro: The Man Died: Prison NoteI (1972).

Capa do livro “The Lion and the Jewel”

Entre suas principais obras estão também: The Lion and the Jewel (1963), The Interpreters (1965),  Aké, The Years of Childhood (1981) e The Past Must Address(1986).

Seu primeiro livro só foi publicado no Brasil em 2012, pela Editora Geração! É O Leão e a Joia (The Lion and the Jewel), peça teatral que narra a disputa pelo amor de uma jovem, entre um velho líder de aldeia e um professor interessado na modernização dos hábitos, influenciado pela cultura ocidental.

Hoje

Soynka está com 90 anos – nasceu em 13 de julho de 1934 e, desde a década de 2010,  vive em Abeokuta, sua cidade natal. Localizada no estado de Ogum, às margens do Rio Ogum.

Abeokuta fica na região que é o berço da cultura iorubá, a 90 quilômetros da megalópole Lagos, é uma cidade tranquila, com cerca de 600 mil habitantes, que cresceu desde o início do século XIX ao redor da Olumo Rock, formação rochosa considerada sagrada.

O idioma iorubá é falado nas ruas e divide espaço com o inglês nos cartazes e placas de trânsito, mostrando que ali se preservam as tradições.

Wole Soyinka, primeiro ganhador do prêmio Nobel de Literatura da África.
Wole Soyinka, escritor nigeriano e primeiro ganhador do prêmio Nobel de literatura do continente africano (Foto: Reprodução/Pinterest)

E Soyinka – em entrevista ao jornal O Globo, em 2015 – disse que a visão de mundo iorubá, com seus mitos e rituais, foi uma influência decisiva para sua obra e sua personalidade:

“Ogum (orixá guerreiro) é, para mim, um símbolo da multiplicidade da natureza humana. Ele me ajuda a entender que no mesmo indivíduo podem conviver um pacifista e um guerreiro. Posso adorar a tranquilidade, mas ao mesmo tempo ser energizado pelas lutas do mundo.”

Sua luta atual é contra o extremismo, que se opõe à educação ocidental, que é a antítese da cultura iorubá, marcada pelo sincretismo.


Fontes: Globo; Uai; Wikipédia; Tiro de letra

escrito em maio de 2019

4 comentários em “Wole Soyinka, primeiro africano a ganhar o Nobel de Literatura”

  1. Pingback: Primeiros Negros

  2. Frases que ouvi numa das suas entrevistas em Portugal: “O mundo está em declinio”; “O ser humano perdeu a noção do outro”; “Entrámos num novo periodo de escravização. BSta ver o que se passa no mundo com a devastação dos povos, que fogem da fome, miseria; Basta ver o tráfico humano, sexual, de orgãos, etc. Nós por cá, basta olhar para o nosso Alentejo, monstruosamente escravizado. Basta olhar para o resto do País em geral. estamos inundados de mão de obra, -dizem barata-, escravizada. São pessoas que se sujeitam a trabalhar em condições desumanas, auferindo ordenafos de miséria, sem qualquer regalia social, escravatura PURA. A maioria não tem visto de residência. A autorização de permanência é vaga, roça a falsidade. “Trata-se de um problema mundial. As populações têm vindo a aceitar o INACEITAVEL. Trata-se do que fazemos e do que apendemos a tolerar. Comecámos a ceitar como sendo NORMAL. Em alguns caos é excessivo. Tornamos-nos tão culpados como os governantes. Merecemos estes governantes. Cabe a NÓS mudar.

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