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Abdias do Nascimento, um pioneiro revolucionário

“Teríamos que agir urgentemente em duas frentes: promover, de um lado, a denúncia dos equívocos e da alienação dos chamados estudos afro-brasileiros e, de outro, fazer com que o próprio negro tome consciência da situação objetiva em que se acha inserido.” – Abdias do Nascimento

Abdias foi o fundador do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros. Foto: via Enciclopédia Itaú Cultural

O que este artigo responde:
Quem foi Abdias do Nascimento?
Qual a importância de Abdias do Nascimento para o teatro brasileiro?
Onde começa a vida política de Abdias do Nascimento?
Qual a profissão de Abdias do Nascimento?
Abdias do Nascimento foi exilado político?
Quais os livros de Abdias do Nascimento?

Aos 97 anos, na noite de 23 de maio de 2011, morre Abdias do Nascimento, pioneiro na luta contra o preconceito e a discriminação racial.

Abdias nasce em Franca, interior de São Paulo, em 14 de março de 1914 -mesmo dia, mês e ano da escritora Carolina Maria de Jesus – e começa sua militância contra a segregação racial em estabelecimentos comerciais.

Infância e Juventude

Neto de mulheres escravizadas, Abdias tem uma infância pobre. Seu pai, José Ferreira do Nascimento, trabalha como sapateiro e músico. Sua mãe, Georgina Ferreira do Nascimento, é doceira e ama de leite

Leia também: Os que vieram antes na política

Com nove anos de idade, o pequeno Abdias já trabalha, entregando carne e leite nas casas das famílias ricas da cidade. Aos quinze, forma-se em contabilidade na Escola de Comércio do Ateneu Francano, graças a uma bolsa de estudos conquistada por sua mãe. 

Buscando por melhores condições de vida, se alista no exército em 1929, muda para a capital paulista e inicia sua atuação política na Frente Negra Brasileira e na Ação Integralista Brasileira (AIB).

Em poucos meses, rompe com a AIB, por não concordar com o caráter racista do movimento e denuncia, também, o fascismo do meio integralista.

Aos quinze anos, Abdias formou-se em contabilidade na Escola de Comércio do Ateneu Francano. Foto: via Revista Galileu

Expulso do exército por indisciplina em 1936, Abdias se muda para a cidade de Duque de Caxias-RJ, onde trava intenso contato com as religiões de matriz africana e com a cena cultural da cidade, realizando inclusive uma excursão pela América Latina com o grupo Santa Hermandad de la Orquídea.

Teatro Experimental

A experiência de viver a América Latina e sua passagem pela prisão, por problemas com a justiça devido a sua militância antirracista, levam Abdias a fundar, no ano de 1944, o Teatro Experimental do Negro -TEN.

É sobre a atuação do TEN a colocação de Abdias que abre este artigo:

“Teríamos que agir urgentemente em duas frentes: promover, de um lado, a denúncia dos equívocos e da alienação dos chamados estudos afrobrasileiros, e fazer com que o próprio negro tome consciência da situação objetiva em que se acha inserido.”

Abdias em uma das peças encenadas pelo Teatro Experimental do Negro (TEN). Foto: acervo Ipeafro/via Itaú Cultural

A estreia do TEN acontece em 8 de maio de 1945 no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A peça é O imperador Jones, de Eugene O’Neill. No palco, apenas artistas negros.

O TEN também patrocina a Convenção Nacional do Negro em 1945-46 que propõe, à Assembleia Nacional Constituinte de 1946, a inclusão de políticas públicas para a população negra e um dispositivo constitucional definindo a discriminação racial como crime de lesa-pátria.

Arte e exílio

Além do Teatro Experimental do Negro, responsável por formar a primeira geração de atores e atrizes negros do Brasil, o legado de Abdias inclui a fundação do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros – Ipeafro, em 1981; o jornal “Quilombo”, criado em 1968; a organização do Congresso Afro-Campineiro, em 1938, e do 1º Congresso do Negro Brasileiro em 1950, e mais de 20 livros publicados. Entre eles, “Sortilégio”, “Dramas Para Negros e Prólogo Para Brancos” e o “O Negro Revoltado”.

Abdias do Nascimento em discurso
Abdias Nascimento discursa em convenção do Partido Democrático Trabalhista realizada no Congresso Nacional, em 1982. Foto: Acervo Ipeafro

Após o golpe militar de 1964, mesmo exilado, impedido de retornar ao país, ele participa da formação do PDT de Leonel Brizola, o Partifdo Democrático Trabalhista, e, de volta ao Brasil, lidera em 1981 a criação da Secretaria do Movimento Negro do PDT.

O ativista estava nos Estados Unidos quando da promulgação do Ato Institucional nº 5, o AI-5, que determinou o fechamento do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e das Câmaras de Vereadores; a intervenção federal em estados e municípios; a cassação de mandatos políticos e a suspensão de direitos políticos; o estado de sítio; e a apreensão de bens materiais de cidadãos, entre outras medidas.

De acordo com o PDT, Abdias do Nascimento foi o primeiro deputado federal do país a se dedicar à defesa dos negros – mas esta é uma informação equivocada. O primeiro deputado federal negro do Brasil  é Manoel da Motta Monteiro Lopes, eleito em 1909, tendo sua negritude como uma de suas bandeiras de luta.

Mas voltemos a Abdias do Nascimento…

Ele assume o cargo de deputado federal em 1983, eleito pelo Rio de Janeiro. Em seu mandato de quatro anos, segundo dados da Ipeafro, apresenta o primeiro projeto de lei de políticas públicas afirmativas da história do Brasil.

Assista ao documentário ‘Abdias: Raça e luta’, dirigido por Maria Maia

Economista de formação, pintor autodidata, escritor, jornalista, poeta e ator, Abdias do Nascimento elegeu-se também senador da República (1991, 1996-99), secretário de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras do Estado do Rio de Janeiro (1991-94) e primeiro titular da Secretaria Estadual de Cidadania e Direitos Humanos (1999-2000).

Em 2006, em São Paulo, transforma o 20 de novembro em Dia Oficial da Consciência Negra.

Abdias recebe honrarias dos Estados Unidos, Nigéria, México, UNESCO, ONU e a indicação ao Prêmio Nobel da Paz em 2010. No Brasil, o reconhecimento de seu trabalho lhe vale o título de doutor honoris causa da Universidade de Brasília e a Ordem do Rio Branco, no grau de Comendador – a honraria mais alta outorgada pelo governo brasileiro.

Entre seus livros mais relevantes, O Quilombismo – Documentos de uma Militância Pan-Africanista, com textos de Kabenguele Munanga e Valdecir Nascimento, e O Genocídio do Negro Brasileiro, com textos de Wole Soyinka, Florestan Fernandes e Elisa Larkin.

Fontes: Wikipédia, Enciclopédia Itaú Cultural, IPEAFRO, Revista Galileu, Teatro Experimental do Negro: trajetória e reflexões , Portal Geledes, Mundo Educação,

Atualizado em março de 2024

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