Um dos fenômenos da eleição municipal de 2020 repetiu-se na disputa regional e nacional no estado em 2022. Dos cinco vereadores negros de Porto Alegre, três se elegeram como deputados estaduais e um como deputado federal. E, pela primeira vez, o Rio Grande do Sul terá mulheres negras como representantes, tanto em Brasília como na Assembleia Legislativa.
Deputadas Estaduais
– Bruna Rodrigues (PCdoB), eleita com 51.865 votos
– Laura Sito (PT), eleita com 36.705 votos
– Karen Santos (PSol), primeira suplente com 40.553 votos
Deputadas Federais
– Daiana Santos (PCdoB), eleita com 88.107 votos
– Denise Pessôa (PT), eleita com 44.241 votos
Bruna, Laura, Daiana e Denise romperam uma barreira que se sustentava há 187 anos! Nunca uma mulher negra havia conquistado assento na Assembleia Legislativa gaúcha, criada em 20 de abril de 1835! Mas, a partir de 2023, a história será diferente!
Feito igualmente inédito vai acontecer em Brasília, na Câmara dos Deputados, também em dose dupla! Lá, foram precisos 198 anos para uma mulher negra representar o Rio Grande do Sul!
A celebrar, a constatação da potência do movimento de mulheres negras, do movimento negro organizado. Aumentar a representação política de gente negra nos espaços de poder é um desafio secular, não sem conquistas!
As mais recentes garantem, desde a eleição de 2018, o cumprimento de cotas mínimas de 30% de candidaturas femininas e negras por parte dos partidos políticos. E, para as eleições de 2022 , determinou-se, ainda, que cada mulher e cada parlamentar negro eleito tenha peso 2 no próximo cálculo da distribuição do fundo partidário.
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Espaços sem poder
A Assembleia Legislativa do RS nunca na história teve mulheres negras entre as parlamentares. Agora, terá duas das 11 eleitas dividindo espaço com 44 homens – um deles Matheus Gomes, negro, eleito pelo PSol, o quinto mais votado, com 82.401 votos.
“Mas quando olhamos para a limpeza, para a manutenção, quando olhamos para aquele espaço que sempre garantiu a estrutura do poder, lá, nós nos vemos”, chama atenção a vereadora Bruna Rodrigues, que toma posse como deputada estadual em janeiro de 2023.
“Olhar para a Assembleia e refletir sobre a nossa chegada é olhar para lugares que há tempos nós mantemos, mas sem falar do cotidiano da nossa vida. Quer dizer, uma parcela da população, do povo, nunca se viu lá, nunca teve as suas demandas atendidas”, avalia a política eleita. “Nós batalhamos para que a luta antirracista fosse concebida, fosse entendida pelo estado do Rio Grande do Sul, e foi”, celebra, mas sem perder a perspectiva de que a luta continua.
Na Câmara Municipal
O resgate do poder negro no Rio Grande do Sul começa pela capital gaúcha Porto Alegre nas Eleições de 2018 com a chegada de duas mulheres negras na Câmara Municipal:
“Nossa chegada é a ruptura de um ciclo, é um marco muito potente do levante que a eleição da Bancada Negra da Câmara Municipal de Porto Alegre despertou na sociedade”, afirma Bruna Rodrigues, a outra vereadora eleita deputada estadual.
O povo preto precisa ocupar o parlamento e a chegada de não uma, mas duas mulheres negras, fala muito sobre essa tomada de consciência que conquistamos. E Bruna reforça ainda a importância de romper o lugar comum em que o negro atua apenas em serviços de limpeza ou manutenção e não está sentado no parlamento com mandato.
Eleita vereadora em Porto Alegre em 2020 e, desde então, compondo a chamada Bancada Negra na Câmara com outros quatro parlamentares, Bruna Rodrigues acredita que a sua vitória deve-se à compreensão do eleitor sobre a necessidade de novos rumos.
O PCdoB, seu partido, teve a primeira bancada 100% negra e feminista de Porto Alegre que, nas Eleições 2022, replica o mesmo feito na Assembleia Legislativa e na Câmara Dos Deputados.
Atuação na Assembleia
Também eleita junto com Bruna para a Assembleia Legislativa, Laura Sito interpreta o feito histórico como um movimento nacional que reafirma a necessidade de uma agenda antirracista para o Brasil.
“Foram várias mulheres negras que nós elegemos deputadas pelo País afora, um fortalecimento que já vem de 2018 e 2020 e que cresce ainda mais em 2022, quando o Rio Grande do Sul não poderia ficar de fora desse movimento”, afirma a atual vereadora da Capital.
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“É importante que a gente compreenda que combater o racismo no Rio Grande do Sul é um dos gargalos fundamentais no combate às desigualdades estruturais do nosso Estado”, avalia.
A mais nova deputada do PT prevê o enorme desafio que terão de enfrentar devido à correlação de forças na Assembleia. Em 2023, o PT terá 11 parlamentares que, somados com PCdoB e PSOL, formarão uma bancada de 14 nomes, ainda bem distante da maioria de uma Assembleia composta por 55 deputados.
Enegrecendo Brasília
Denise Pessôa, atual presidente do legislativo municipal em Caxias do Sul, é a primeira mulher negra, junto com Daiana Santos (PCdoB), eleita para a Câmara dos Deputados.
No âmbito feminino, a Câmara Federal vai passar de 77 para 91 deputadas federais eleitas, representando 17,7% do parlamento.
Denise e Daiana, além de pautas comuns – ambas fazem parte da Federação Brasil da Esperança -, elegeram-se no cumprimento de mandatos como vereadoras em suas cidades, onde já eram pioneiras. Agora, repetem o feito em Brasília!
Não é demais repetir que é a primeira vez que o Rio Grande do Sul será representado também por mulheres negras na Câmara de Deputados.
Assim, a partir de 2023, o Congresso Nacional terá o dobro de mulheres gaúchas representando o estado na Câmara dos Deputados. As reeleitas Fernanda Melchionna (PSol) e Maria do Rosário (PT), Denise e Daiana.
Para ela, a conquista de mandatos na esfera federal, é um marco importante e que não assusta:
“Trabalhar em ambientes um pouco adversos é algo que eu já tenho experiência. Dentro do parlamento caxiense, cheguei a ser a única eleita do PT entre 23 vereadores. Mesmo assim, hoje eu presido a Câmara. Com diálogo, conseguimos avançar e garantir representatividade”.
Quem é quem?
Bruna Rodrigues, 35 anos, vereadora de Porto Alegre, eleita deputada pelo PCdoB, é mãe desde os 16 anos, quando inicia sua militância política. Estudante cotista do curso de Administração Pública e Social na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS é a primeira mulher negra a dirigir um partido político na capital gaúcha, o PCdoB.
Seu partido combateu a ditadura, vivenciou a ilegalidade, teve muitos dos seus camaradas torturados, presos e mortos ao longo de 100 anos de existência..
Como metas para seu mandato, pretende ampliar o trabalho que já vem fazendo de combate à pobreza menstrual e o projeto que prioriza mulheres em situação de violência e que vivem em vulnerabilidade social..
Na sua jornada, passagem pela União da Juventude Socialista e a presidência da União das Associações de Moradores de Porto Alegre).
Daiana dos Santos (PCdoB) é educadora social e sanitarista. No dia 2 de outubro de 2022, após a confirmação de sua eleição, usou as redes sociais para agradecer os eleitores. Além de destacar a vitória, fez questão de enfatizar sua orientação sexual:
“Agradeço a cada um dos 88.107 votos que me elegeram a primeira deputada federal negra e sapatão do RS. Chegou a nossa vez! Eles vão ouvir as nossas vozes, a nossa luta e os nossos tambores. Nos encontramos na luta”, convocou.
Eleita vereadora em 2020, Daiana é atualmente vice-presidente do PCdoB em Porto Alegre, formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, idealizadora e coordenadora do Fundo das Mulheres POA, projeto social que atende mulheres chefes de família em situação de vulnerabilidade em Porto Alegre.
Como deputada federal, deve manter na atuação com as bandeiras que defendeu na capital gaúcha, como o antirracismo, o feminismo, os direitos LGBTQIA+ e pautas ligadas à educação, saúde e políticas públicas para a periferia.
Denise Pessôa (PT), deputada federal eleita no cumprimento de quarto mandato na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, na Serra, casa da qual é presidente desde 2021, é a política que inaugura a Bancada Negra em Caxias do Sul, e que foi a vereadora mais jovem a se eleger em 2008 e a única mulher e negra a se eleger em 2012.
Arquiteta de formação e servidora pública, a petista tem como bandeiras o desenvolvimento da cidade, a segurança das mulheres, dos idosos e das crianças, a garantia da educação e o direito dos trabalhadores, dos servidores públicos, da comunidade LGBTQIA+, dos imigrantes e dos jovens, além da proteção e defesa dos animais.
Laura Sito (PT), representante do Brasil na Frente Parlamentar de Combate à Fome da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), planeja levar a pauta do enfrentamento da fome para a Assembleia Legislativa do RS.
Como vereadora, trabalha no combate à fome e à pobreza, construindo uma rede de treze cozinhas comunitárias em Porto Alegre, aprovando o Programa de Aquisição de Alimentos Municipal e lutando pela Renda Básica a partir da Frente Parlamentar que preside.
Jornalista, mãe, servidora municipal de Porto Alegre e atualmente vereadora na cidade, ocupa a Vice Presidência do Partido dos Trabalhadores.
Aos 30 anos, é a vereadora mais jovem e a primeira mulher negra eleita pelo PT de Porto Alegre. Integra a primeira Bancada Negra da história da cidade e é também a primeira mulher negra a compor a Mesa Diretora e a presidir uma sessão da Câmara de Vereadores de Porto Alegre.
Laura também dá centralidade à luta das mulheres e aprovou um Projeto de Lei que obriga o município a garantir salas de aleitamento materno. Além disso, prioriza a defesa de políticas de geração de renda para as mulheres e para o povo negro, de ações para o fortalecimento de pequenos e médio empreendedores e agricultores e de defesa dos serviços e servidores públicos.
Fontes: Brasil de Fato, Matinal Jornalismo, Sul21, G1, Câmara Municipal Porto Alegre
Atualizado em Outubro 2022
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