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BALANÇO ELEIÇÕES NEGRAS 2022

Avanços e Retrocessos

por Primeiros Negros

Inflável em manifestação (Imagem: Reprodução | Malu Delgado)

O Brasil continua racista, homofóbico, machista, excludente, ignorante. E seguimos perdendo, todos, todas, todes. Até aí, nenhuma novidade. Mesmo assim, avançamos. Em especial as mulheres pretas, de protagonistas invisíveis passam a ocupar lugar de destaque na construção da sociedade que queremos e iremos construir.

“Exu matou um pássaro ontem, com uma pedra que jogou hoje”

São Paulo elege a já pioneira Erika Hilton (PSol) como a primeira deputada federal trans, a primeira a tomar assento na Câmara dos Deputados e no Congresso Nacional, a segunda mais votada de seu partido e entre os 10 primeiros candidatos ao cargo com mais de 255 mil votos.

Na sua jornada política, Erika Hilton passa pela Assembleia Legislativa de São Paulo e é a mulher mais bem votada para vereadora da cidade de São Paulo em 2020. Lá, na Câmara Municipal da capital paulista, preside a Comissão de Direitos Humanos e encabeça a primeira CPI que investiga a violência contra pessoas trans do país.

No Twitter, a agora deputada federal eleita comemora escrevendo:

“Já dá para dizer: TRAVESTI PRETA ELEITA!”.

Na mesma pegada, Robeyonce Lima (PSol), primeira advogada travesti preta de Pernambuco, com uma das maiores votações no seu estado – 80.732 votos. Só que devido ao cálculo eleitoral (votos nominais + votos no partido) não conquistou o cargo de deputada federal, mas está na primeira suplência de sua chapa. 

E Pernambuco elege, também, a jovem negra lésbica Rosa Amorim, primeira sem terra do estado eleita deputada estadual. Na mesma bancada, ainda, a preta Dani Portela, mãe e advogada.

Outra eleita do Movimento Sem Terra é Marina do MST (PT), uma das dirigentes do movimento pelo Rio de Janeiro.

É a primeira vez que o MST postula candidaturas coordenadas pela direção nacional. Ao todo, 15 candidatos, com 6 eleitos em Pernambuco, Ceará, Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

Do MTST – Movimento dos Trabalhadores sem Teto, a eleita é Ediane Maria, coordenadora da organização. Preta, periférica, LGBT, nordestina e mãe, a primeira parlamentar do movimento a tomar assento na Assembleia Legislativa de São Paulo.

“Quando a mulher negra se movimenta,
toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela.”

ANGELA DAVIS

Rio de Janeiro, pretas no poder

Ainda para celebrar as conquistas pretas e LGBT+, os quase 200 mil votos – exatos 198 mil – que reafirmaram o compromisso da professora de história e ecossocialista Talíria Petrone (PSol) “de fazer nascer um Brasil novo”, como ela escreveu em um post no Instagram, ao agradecer a votação nas urnas “a cada mulher preta, cada mãe que corre em busca do osso pra alimentar a sua cria, cada jovem negro, cada favelado, cada trabalhador”...

Não abriremos mão da nossa presença nos espaços da política e vamos seguir mudando a fotografia do poderSer a eleita a deputada federal mais votada da esquerda e a mulher negra mais votada da história do Rio de Janeiro aumenta ainda mais o nosso desafio.

Em 2018, Talíria obteve 107 mil votos para exercer seu mandato preto, feminista, antirracista e popular na Câmara Federal.

Como nada é fácil para as pretas, Talíria terá que, mais uma vez, conviver com o ex-”Hélio Bolsonaro”, ex-”Hélio Negão”, que se reelegeu, desta vez, com o nome de Helio Fernando Barbosa Lopes, pelo PL do Rio de Janeiro.

Na composição da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), a mudança da fotografia é mais radical, mais escura! Atualmente, 50 das 70 cadeiras são ocupadas por pessoas brancas. Mas a partir de janeiro de 2023, esse número vai cair para 45. Ao todo, 24 deputados eleitos se autodeclaram pardos e oito como pretos.

E tem mais! A Alerj vai ter mais mulheres entre as representantes. De 13 para 15, 21,4% do parlamento, incluindo uma deputada indígena e uma asiática.

Destaques para:

  • Renata Souza (PSol), jornalista e doutora em Comunicação e Cultura, cria da Favela da Maré, Zona Norte do Rio, feminista, chefe de gabinete da vereadora Marielle Franco, eleita pela primeira vez deputada estadual em 2018, sendo a mais votada da esquerda em todo o estado;
  • Verônica Lima (PT), a primeira mulher negra a assumir o cargo de vereadora na história da cidade de Niterói (RJ), defensora do direitos humanos, do povo preto, das mulheres e das políticas de assistência social para os que mais precisam, e 
  • Dani Monteiro (PSol), favelada, socialista e feminista, que preside a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania, além de ter sido eleita a mais jovem da Alerj em 2018.

 

A Alerj terá em 2023 também a primeira professora transsexual da Escola de Comunicação Social da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro, doutora em literatura, Dani Balbi (PC do B), eleita deputada estadual no seu estado, pioneira na história da Alerj.

Vale registrar que a representatividade LGBTQIAP+ dobrou nas Eleições 2022, comparando com as Eleições 2018 – são 18 as candidaturas vitoriosas, conforme levantamento da organização VoteLGBT, um recorde histórico e duas vezes maior que o obtido em 2018, quando se confirmaram 9 candidaturas LGBTs vitoriosas no Brasil – 9 pelo PSol, 4 pelo PT, 3 pelo PC do B e duas pelo PDT.

Entre elas, ainda, as candidaturas da Bancada Feminista e do Movimento das Pretas para a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

Pretas velhas

Para a Alesp. também, destaque para a continuidade do mandato da pioneira Leci Brandão (PC do B), mulher negra homessexual, deputada estadual por São Paulo desde 2011 e que, para este quarto mandato, do alto de seus 78 anos, conquistou a maior votação de sua própria história: 90.496 votos!

Outra preta velha do poder na – após as Eleições 2022, maior bancada federal do Rio de Janeiro é a deputada federal Benedita da Silva (PT), a primeira governadora negra do Brasil, de 80 anos, reconduzida a Brasília com 113.831 votos.

De volta!

Retorna ao Parlamento, só que em Brasília – não mais como senadora pelo Acre -, como deputada federal por São Paulo, na defesa do meio ambiente, Marina Silva (Rede). 

Pelo Partido dos Trabalhadores, só que em Minas Gerais, registre-se a eleição de Andreia de Jesus. Deputada estadual pela defesa das mulheres e das populações tradicionais, advogada popular, preside a Comissão dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de seu estado. E traz consigo, ainda, a luta antiprisional.

Outra mineira, em defesa da educação pública, é Macaé Evaristo (PT), eleita deputada estadual, bem como Leninha (PT), que vão continuar representando o povo preto.

 Na Bahia, Olívia Santana (PC do B), a primeira mulher negra deputada estadual, é reeleita, com votação histórica para a Assembleia Legislativa – 92 mil votos – 60% a mais em relação aos votos que obteve em 2018, a sexta mais votada. E que seguirá como a única mulher negra da Casa.

Pela primeira vez!

Camila Valadão (PSol) é a mulher mais votada da história do Espírito Santo, eleita deputada estadual com agenda pautada na luta das mulheres, dos povos pretos e periféricos, da população LGBT+, das juventudes, infâncias, trabalhadores e trabalhadoras.

Já no Congresso Nacional, Jack Rocha (PT) é a primeira mulher negra capixaba na bancada federal do estado.

No Rio Grande do Sul, Laura Sito (PT) faz parte da primeira bancada negra do estado! A seu lado, Bruna Rodrigues, do PC do B, vereadora, que agora vai levar a pauta antirracista à Assembleia Legislativa. Bruna busca reparação histórica pela série de violências vividas pelas mulheres negras e periféricas. E também a educadora e sanitarista Daiana Santos, a terceira mulher mais votada para deputada federal no estado.

No Paraná, Carol Dartora é a primeira deputada federal negra eleita do estado! Resistência histórica! Luta ancestral! A ex-vereadora vai representar as chamadas minorias no Congresso Nacional.

No Norte do país, também tem mulher preta eleita: Livia Duarte vai representar nosso povo na Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) com o objetivo de recontar a nossa história como parte da luta antirracista.

No Rio Grande do Norte, o nome é Divaneide Basílio (PT). Em Minas Gerais, Dandara Tonantzin (PT), federal, e Denise Pêssoa (PT), do Rio Grande do Sul. Todas integrando a bancada negra no Congresso Nacional.

Candidaturas coletivas

Voltando a São Paulo, registre-se a eleição da advogada e co-vereadora Paula Nunes (Psol), integrante da candidatura coletiva da Bancada Feminista (PSol) para o cargo de deputada estadual – um vitória que vale por cinco: Carol Iara, Simone Nascimento, Mari Souza e Sirlene Maciel.

Outra candidatura coletiva eleita para a Alesp é o Movimento das Pretas (PSol), composta por 7 mulheres negras, encabeçada pela deputada estadual Monica Seixas, que tem o intuito de ratificar a presença de mulheres negras na política e com elas seguir priorizando as pautas e lutas dos grupos vulnerabilizados. Elas defendem a periferia como centro.

Leia sobre os avanços legais para a formalização das Candidaturas Coletivas para as Eleições de 2022.

Os pretos

Renato Freitas (PT), ativista, mestre em Direito e advogado popular que teve seu mandato de vereador cassado, fruto da violência política de raça, perseguido na Câmara Municipal de Curitiba, assume a partir de 2023 uma cadeira como deputado estadual do Paraná, eleito com quase 58 mil votos. Algo que parecia impossível semanas antes – em agosto de 2022, o petista estava com seus direitos políticos suspensos por 10 anos, até que, no final de setembro, uma liminar do Supremo Tribunal Federal restituiu seu mandato, o que tornou legal sua candidatura.

Matheus Gomes (PSol) é o quinto deputado estadual mais votado no Rio Grande do Sul e tem, ainda, Carlos Bordalo, estadual do PT do Pará.

Da bancada federal negra, Henrique Vieira (PSol-RJ) e Valmir Assunção (PT-BA).

Fora!

A celebrar o fato de São Paulo ter banido do mapa de representação política Sérgio Camargo, o ex-presidente da Fundação Palmares, negacionista da própria existência. Junto com ele, o vereador Fernando Holiday, outro afrodescendente sem consciência racial.

A lamentar o fato de Douglas Belchior e Tamires Sampaio, os dois do Partido dos Trabalhadores, não terem conquistado uma cadeira para a Câmara dos Deputados.. 

Os quatro, com propostas contra e a favor do povo negro, queriam ir para Brasília como deputados federais.

Péssima também a ausência de pessoas negras na Assembleia Legislativa de Santa Catarina e representando o estado na Câmara Federal.

Quanto do povo negro tem as urnas?

Vinte e seis é o número de candidaturas vitoriosas do Quilombo nos Parlamentos, iniciativa lançada para as Eleições 2022 pela Coalizão Negra por Direitos para aumentar a representatividade racial no Congresso e nas assembleias estaduais.

São oito deputados federais e 18 estaduais. Além deles, outros 97 candidatos apoiados pela iniciativa ficaram na suplência. Entre eles, o deputado federal Orlando Silva (PC do B), ex-ministro dos Esportes nos governos Lula e Dilma Rousseff e a advogada Robeyoncé Lima, citada no início deste texto.

De acordo com a Coalizão Negra por Direitos, 4,2 milhões de pessoas votaram para mudar o Congresso Nacional, votaram para o movimento negro, por candidaturas dos partidos de esquerda.

Números oficiais

Apesar do aumento de 36,25% das candidaturas de pretos e pardos para a Câmara dos Deputados em 2022 frente a 2018, o número de eleitos efetivamente eleitos – entre homens e mulheres – cresceu apenas 8,94% – 135 deputados e 6 senadores.

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2022, foram registradas 1.424 candidaturas de autodeclarados pretos e 3.462 de autodeclarados pardos – um total de 4.886 do povo preto – quase metade (47%) dos cerca de 10 mil postulantes. 

Na Câmara dos Deputados, a partir de 2023, ocuparemos 24,4%; no Senado Federal, são 13 as pessoas negras eleitas de um total de 81 senadores.

Acesse os outros artigos sobre as eleições 2022.

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