Pioneira, ela é a primeira atriz africana, queniana e mexicana a ganhar um Oscar, o prêmio mais importante do cinema, e, em uma lista de 50 mulheres, eleita a mais bela.
O que este artigo responde: Quem é a atriz Lupita Nyong’o? Por que Lupita Nyong’o é considerada pioneira? Quais são os principais filmes de Lupita Nyong’o? Como Lupita Nyong’o tem contribuído para o ativismo social? Qual é a importância de Lupita Nyong’o na representação da beleza negra? Quem elegeu Lupita Nyong’o a mais bonita do mundo?


A eleição acontece em abril de 2014. Lupita Nyong’o é escolhida a mulher mais bonita do mundo pela revista People, numa lista de 50 mulheres. A People é uma revista semanal estadunidense de celebridades e de histórias de interesse humano, com um público de 46,6 milhões de pessoas.

Curiosamente, dois meses antes, a mesma Lupita, no Essence Mulheres Negras, em Beverly Hills, havia feito um discurso sobre a beleza das mulheres negras e as inseguranças que tinha na adolescência. Na época, ela lembra como a supermodelo sul-sudanesa Alek Wek foi fundamental para que se visse com outros olhos.
Mas ser eleita a mulher mais bonita do mundo não a poupa da discriminação por ter o cabelo crespo. Aos 35 anos, em entrevista à Porter, a atriz lembra casos de racismo envolvendo suas madeixas:
“Meu cabelo, historicamente, tem sido evitado. Com que frequência você ouve ‘Você não vai conseguir emprego com o cabelo assim’?”. Afinal, lembrou, “meu cabelo natural, africano e crespo” sempre foi lido como um visual nada civilizado, selvagem, indomável – o que prejudica relações profissionais. “Ser capa de uma revista me preenche, pois é uma oportunidade para mostrar a outras pessoas escuras e de cabelo crespo, e particularmente nossos filhos, que eles são lindos do jeito que são”.

Em 2017, Lupita usou o Instagram para denunciar a discriminação da revista Grazia contra seu cabelo. Na época, ela foi capa da publicação, mas se surpreendeu quando viu que a revista “apagou” seus fios na edição das fotos:
“Se eu tivesse sido consultada, teria explicado que não posso apoiar ou tolerar a omissão do que é minha herança nativa, com a intenção de que eles entendam que ainda há um longo caminho a percorrer no combate ao preconceito inconsciente contra a pele das mulheres negras, cabelos, estilo e textura”.
O fotógrafo An Le se desculpou, em comunicado, afirmando que foi “um erro incrivelmente monumental”.

No Met Gala 2019, evento badalado do Metropolitan Museum of Art, em Nova York, Lupita Nyong’o, aproveita os holofotes para, mais uma vez, desfraldar uma bandeira política que importa para o povo afrodescendente. Com um vestido Versace em tons neon, a atriz ostenta um penteado black power com uma coroa de cinco pentes-garfo dourados.
De acordo com o seu hairstylist, Vernon François, as inspirações para a montagem do cabelo foram um autorretrato da atriz Lauren Kelley, além de imagens da própria rainha Maria Antonieta:
“Nosso objetivo foi demonstrar o poder, a maleabilidade e toda a riqueza da textura natural do nosso cabelo”.
Referência
O fato é que Lupita Nyong’o é referência. Para além das revistas People, Grazi e da revista togolesa Africa Top Success, que lhe valeu o título de “Africana do Ano“, em julho de 2014, ela assume o posto de segunda mulher africana na capa da revista Vogue e primeira em edições consecutivas.
Capas de revista têm de ser atrativas e informativas. A capa é a primeira impressão, é o que vende. E lá está Lupita cumprindo este papel não só na Vogue, mas na Elle francesa, na Vanity Fair, Sunday Times… Aparecendo na lista “das mais bem vestidas“, sendo o rosto de campanhas de moda. Rainha dó Ébano, única, incomparável, inconfundível, mulher negra.
Não é por acaso que ela é primeira afrodescendente a aparecer como “o novo rosto da Lancôme”, marca francesa de cosméticos, e uma das primeiras celebridades a estrelar a campanha de jóias da americana Tiffany & Co.
Na música, também, Lupita inspira. O rapper cristão Lecrae a menciona em Nuthin (Nada), em seu álbum de 2014, Anomaly (Anomalia). Jay-Z faz o mesmo em seu verso da música We Made It (Nós conseguimos). Na música paródia Girls (Garotas), das drag queens Willam Belli, Courtney Act e Alaska Thunderfuck. lá está ela!
Na música africana Nerea“, de 2015. da banda afro-pop queniana Sauti Sol, ela também é incluída. Nem a cantora Beyonce abre mão de celebrá-la e o faz no single Brown Skin Girl (Garota de Pele Morena), da trilha sonora do filme O Rei Leão, de 2019.
E estes são só exemplos.
Outros interesses
O nome completo desta cidadã afro americana – em agosto de 2024 ela conseguiu seu visto definitivo – é Lupita Amondi Nyong’o. Lupita é uma referência carinhosa à padroeira do México, Nossa Senhora de Guadalupe. Sua origem é queniano-mexicana. Ela é a segunda de seis filhos. Sua mãe, Dorothy Nyong’o ,é diretora da Fundação do Câncer África e tem sua própria companhia de comunicação. Seu pai, Peter Anyang ‘Nyong’o, é professor universitário e político no Quênia.
Ela nasce na Cidade do México, em 1º de março de 1983 e, aos 30 anos, registra seu primeiro pioneirismo é por conta da atuação como atriz coadjuvante no drama histórico americano 12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave), do diretor Steve McQueen.
A conquista do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante faz de Lupita uma pioneira elevada à terceira potência: primeira atriz africana a ganhar o prêmio, a primeira atriz queniana a ganhar o prêmio, a primeira mexicana a ganhar o prêmio, além de a sexta atriz negra a ganhar um Oscar e a 15ª atriz a ganhar um Oscar para uma atuação de estreia em um longa-metragem.
A personagem Patsey, uma escravizada, é seu primeiro papel de destaque no cinema. O filme conta a história do afro americano nascido livre Solomon Northup, interpretado por Chiwetel Ejiofor, que nasce no interior de Nova York, é sequestrado e vendido como escravizado em Washington, no ano de 1841. Os dois se conhecem trabalhando em uma plantação de algodão em Louisiana.
Por sua atuação em 12 Anos de Escravidão, além do Oscar e do SAG Award, Lupita teve indicação para vários outros prêmios como Melhor Atriz Coadjuvante, incluindo Independent Spirit Awards, Broadcast Film Critics Association Award, Washington D.C. Area Film Critics Association e Phoenix Film Critics Society, entre outros.

Os primeiros passos
Lupita inicia sua carreira no cinema trabalhando como assistente de produção de filmes . Em 2008, é a estrela do curta-metragem 2008 East River, dirigido por Marc Grey e filmado no Brooklyn. No ano seguinte, escreve, dirige e produz o documentário In My Genes, sobre o cotidiano de oito quenianos albinos e a luta deles contra o preconceito, e conquista o primeiro lugar no Five Colégio Film Festival.
Sem estabelecer limites para o aprender, para o experimental, Lupita dirige o vídeo musical The Little you do por Wahu, caracterizando Wine Bobi, indicado para o prêmio de Melhor Vídeo nos MTV Africa Music Awards 2009.
Integrante do Programa de Mestrado em Atuação, na Yale School of Drama, aparece em várias produções teatrais, e ganha o Prêmio Williams Herschel para estudantes que atuam com notável capacidade, durante o ano letivo de 2011-2012.
Na série de televisão queniana Shuga, um drama sobre HIV/AIDS focado em prevenção, bancado pela Unicef, Lupita é a protagonista Ayira, na primeira e segunda temporadas.
Em seu currículo, ainda, o pequeno papel de Gwen, uma atendente de reserva de vôo ao lado de Liam Neeson e Julianne Moore no thriller de ação Non-Stop, de 2014.
Além da Terra
Em junho de 2015 e 2019, a atriz é escolhida para estrelar Maz Kanata, respectivamente, em Star Wars: The Force Awakens, de 2015, e Star Wars: Episode IX. E em setembro do mesmo ano tem participação especial na conhecida série para crianças Rua Sésamo, para falar sobre diferenças de pele.
A indicação ao Tony de Melhor Atriz em 2015 coube ao seu aclamado desempenho na peça teatral Eclipsed.
Lupita vive, ainda, Nakia, uma das personagens de Wakanda, no filme do super-herói Black Panther (Pantera Negra).

(Imagem: Marvel Studios)
O papel principal no aclamado filme de terror Us (Nós), de Jordan Peele, em 2019, é outro que chama atenção para seu trabalho de atriz. Em 2020, inclusive, lhe valeu destaque entre as 10 melhores atrizes no Prêmio da Crítica de 2020, por sua performance.
Outros interesses
Fora das revistas e das telas do cinema, Lupita apoia a preservação histórica e aborda questões como prevenção ao assédio sexual, o direito das mulheres e dos animais.
Em 2019, escreveu o livro infantil Sulwe (“Estrela”, em Luo, idioma do Quênia), um best-seller. No livro, ela conta de suas experiências, ao narrar a história de uma menina queniana de cinco anos, que tem a pele mais escura de sua família. Sulwe foi selecionado para o prêmio Honor Illustrator 2020 no Coretta Scott King Awards e ganhou o prêmio de Melhor Trabalho Literário – Crianças no NAACP Image Awards 2020.
O livro, ainda, ampliou seus horizontes artísticos e ela estreou como cantora cantando Sulwe’s Song, música que escreveu para Sulwe.
Além de ter-se tornado cidadã americana, Lupita é cidadã queniana e mexicana – fala, com fluência – em espanhol, inglês, luo e suaíli (ou swahili), uma das línguas oficiais do Quênia, Ruanda, Tanzânia, Uganda e a língua de trabalho da União Africana, utilizada como língua unificadora durante a luta de libertação do continente.
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Fontes: Wikipédia, Universa-Uol
Escrito em 25 de maio de 2019. Atualizado em 1º de fevereiro de 2025
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