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Leci Brandão, primeira mulher negra, homossexual, na ala de compositores da Mangueira

Você já ouviu falar de Leci Brandão? Ela não é apenas uma cantora e compositora extraordinária, mas também uma figura emblemática na história do samba e da política brasileira. Leci foi a primeira mulher negra e homossexual a fazer parte da ala de compositores da Mangueira, uma das escolas de samba mais tradicionais do Rio de Janeiro. Sua história é uma poderosa narrativa de superação, talento e compromisso com a justiça social. Vamos mergulhar na vida dessa mulher incrível que, com sua arte e ação, tem inspirado gerações.

Segunda mulher negra deputada estadual por São Paulo, levantou bandeiras consideradas indigestas mesmo antes de entrar para a política partidária. Viu portas se fecharem e abriu uma a uma. Ao gravar seu primeiro compacto, em 1974, por exemplo, já trazia na bagagem este pioneirismo contra o machismo e a homofobia. 

O que este artigo responde:
Quantos anos tem Leci Brandão?
Quando Leci Brandão se candidatou a deputada estadual pela primeira vez?
Leci Brandão é a primeira mulher em uma ala de compositores de escola de samba?
O que Leci Brandão fez para entrar na ala de compositores da Mangueira?
Leci Brandão sempre levantou a bandeira LGBT?
Leci Brandão já interpretou samba-enredo em desfile de escola de samba?

Leci Brandão da Silva nasce em 12 de setembro de 1944, cantora, compositora, atriz, ser político, é a primeira mulher negra e homossexual, a integrar a ala de compositores da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, do Rio de Janeiro, a sua cidade natal. Ao gravar seu primeiro compacto, em 1974, ela já trazia na bagagem este pioneirismo. 

Ela lembra como tudo aconteceu:

“Na minha época, a coisa era infinitamente mais difícil. Tínhamos  Dona Ivone Lara no Império Serrano, desde os anos 1960, e só. Então, causou espanto quando o Zé Branco, tesoureiro da ala de compositores da Mangueira, me apresentou, porque já sabia que eu compunha sambas. Aí me disseram: ‘Volta semana que vem, com uma carta, explicando os motivos…”

E Leci escreveu a carta para os aproximadamente 40 homens que participavam da ala de compositores, comparando a Mangueira a uma Universidade do Samba – este foi o seu passaporte. 

Mas o carimbo só aconteceu depois de um ano, tempo de estágio em que ficou compondo sambas de terreiro.

Ser político

Sua presença na ala dos compositores altera o protagonismo feminino nas escolas de samba, até então restrito às posições de musas e dançarinas. E muda também sua trajetória artística, colocando-a na frente com um sucesso e um contrato com uma gravadora multinacional.

A parceria com uma gravadora multinacional, entretanto, não durou muito.  As letras da compositora passaram a ser vistas como demasiadamente críticas e seu contrato acabou rescindido em 1980.

Leci volta a gravar em 1985, sem mudar o cunho social de suas canções.

Reconhecimento

Mas é na carioca Acadêmicos de Santa Cruz  que Leci Brandão conquista a posse do microfone na avenida, interpretando o samba-enredo  “Deuses e Costumes na Terra de Santa Cruz, em 1995. 

Em 2012, é São Paulo que se  inspira em sua história para o  enredo da Acadêmicos do Tatuapé“Nasci Pra Comunidade, Defesa e Essência. Sou Guerreira! Sou Leci Brandão!”  Desde então, ela é madrinha da escola:

“Um exemplo de amor e fé
Azul e branco, Tatuapé
Essência do samba, raiz, tradição
60 anos de emoção. 

O samba hoje pede passagem
Tão linda homenagem do meu pavilhão
Com a pureza de uma flor
Em Madureira a estrela nasceu
A filha da Dona Lecy nos palcos brilhou
Guerreira, subiu o morro ao som do surdo de primeira
Mangueira, sua paixão verdadeira
Sublime o dom de compor
Eu quero sim, seu ombro amigo
Com o axé dos orixás
Não se deixou calar
Bate tambor que o povo quer cantar.

Vem na palma da mão, vem pagodear
Quem avisa é o zé do caroço
Olodum força divina vai brilhar.

Bailam acordes musicais
Pra embalar os seus ideais
O mundo conheceu
Em sua voz lindas melodias
E na TV foi severina, é divinal
Defesa da igualdade racial
Valeu, por sua luta que emana
Cidadã paulistana, com garra venceu!
O que é isso meu amor, venha me dizer
Isso é Leci Brandão
Uma guerreira pra valer!”

É, a guerreira só foi reconhecida como vitoriosa em sua primeira batalha, aos 74 anos, em 2019! E não foi pela sua Mangueira. Lá, na sua terra natal, a história é outra…

Leia  Elza Soares: pioneira do samba, só no gogó

Na Estação Primeira, ela não foi o tema do enredo, mas, em 2019, pode mostrar o outro lado da História do Brasil, colocada ao lado de personagens históricos e atuais no enredo “História para ninar gente grande’. Entre eles, Dandara, Aqualtune, Carolina Maria de Jesus, Tereza de Benguela e Marielle Franco.

Por quase 20 anos, Leci Brandão foi comentarista dos desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro e de São Paulo, transmitidos pela Rede Globo.

Cantora, compositora e atriz

Sua carreira musical inclui 26 discos, entre LPs, CDs e compactos, além de dois DVDs. Entre seus sucessos, a música “Essa Tal Criatura”; o disco, de 1985, “Isso É Fundo de Quintal”, e a premiação na categoria Melhor Cantora de Samba na 29ª edição do Prêmio da Música Brasileira, em 2016, com “Simples Assim – Leci Brandão.

1968 é o ano que marca o início de sua carreira com a conquista de prêmios. O primeiro foi no programa de calouros A Grande Chance, de Flávio Cavalcanti, na extinta TV Tupi.

Entre os mais recentes e importantes, o que resultado de seu trabalho no ano de 2015, quando a artista completou 40 anos de carreira artística e foi premiada, em 2016, na  categoria melhor cantora de samba na 29º edição do Prêmio da Música Brasileira, com o CD Simples Assim – Leci Brandão.

Como atriz, atuou nos filmes Antônia, de 2010;  Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro, de 2010, e O Samba, de 2015. Na televisão, foi a líder quilombola Severina na telenovela Xica da Silva, de Walcyr Carrasco, exibida pela TV Manchete entre 1996 e 1997.

Atualmente, Leci Brandão se divide entre a carreira artística e o parlamento.

Cidadã Brasileira

Morando na capital paulista desde  o ano 2000, encarou sua primeira eleição pelo PCdoB – Partido Comunista do Brasil, em 2010, transformando-se na segunda mulher negra deputada estadual de São Paulo – a primeira foi a professora Theodosina Rosário Ribeiro.

Atualmente, a parlamentar está em seu quarto mandato e se dedica à promoção da igualdade racial, ao respeito às religiões de matriz africana, à cultura brasileira, à defesa das populações indígena e quilombola, da juventude, das mulheres e da população LGBT+.

Sem subterfúgios, leva os manifestos políticos em defesa de direitos, da liberdade, da educação, do respeito à diversidade, presente nas letras de suas músicas – desde a década de 1970 – para dentro da Assembleia Legislativa de São Paulo – seu gabinete é conhecido como “Quilombo da diversidade”.

Leia mais sobre mulheres negras na política clicando aqui!

Na política, antes de eleita, Leci Brandão atuou como  conselheira da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e membro do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, permanecendo nos Conselhos por dois mandatos, de 2004 a 2008, antes de se tornar deputada.

Bandeira LGBTQIAPN+

Leci se pronunciar como uma mulher lésbica em entrevista publicada em novembro de 1978 na sexta edição do militante jornal Lampião da Esquina, direcionado ao público LGBT da época. Mas o seu ativismo sempre esteve presente nas suas músicas.

Entre elas,  Ombro amigo, uma composição solidária a pessoas em processo de aceitação da homossexualidade; As Pessoas e Eles, considerada uma das primeiras canções brasileiras a falar abertamente sobre homossexualidade, no seu primeiro álbum, Questão de Gosto, em 1976:

“As pessoas não entendem/Porque eles se assumiram/ Simplesmente porque eles descobriram/ Uma verdade que elas proíbem”

Autora da letra e da melodia, ela conta que a ideia da música surgiu a partir de um ato de violência homofóbica presenciado por ela no Rio de Janeiro.

Em 2019, ela regravou a faixa Pra Colorir Muito Mais, sobre o arco-íris, em referência à luta pelos direitos LGBTQIAPN+.

Infância e Adolescência

Carioca de Madureira, Leci recebeu o nome de sua mãe, a mangueirense Lecy de Assumpção Brandão, e a influência musical de sua pai, Antônio Francisco da Silva.

Como sua mãe era uma espécie de zeladora de escola pública, Leci vivia o ambiente escolar: estudava, ajudava a limpar as salas de aula, a vender lanches para alunos e professores…

A morte de seu pai, no entanto, tornou obrigatória a busca de um emprego formal. Neste período, ela se viu cara a cara com o racismo – os anúncios de emprego exigiam “boa aparência” (leia-se: gente branca) – e frente a frente com o primeiro amor. Duas fontes de inspiração que despertaram, na compositora, um olhar crítico para a sociedade e para o amor, que fazem sofrer, mas também fizeram  brilhar sua estrela.

Em 12 de setembro de 2024, Leci Brandão completa 80anos.

Leia também Eleições Negras 2022: Avanços e Retrocessos, que conta da reeleição para um quarto mandato como deputada federal de Leci Brandão, com 90.496 votos, a maior votação de sua história como deputada estadual e acompanhe seu mandato na sua página no site da Assembleia Legislativa de São Paulo. 


Atualizado em março de 2024

Leci Brandão: Uma Voz de Resistência e Pioneirismo na Mangueira e na Política

Leci Brandão da Silva, nascida em 12 de setembro de 1944, é uma figura multifacetada: cantora, compositora, atriz e política. Ela entrou para a história como a primeira mulher negra e homossexual a integrar a ala de compositores da Estação Primeira de Mangueira. Desde o início de sua carreira, na década de 1970, Leci enfrentou desafios significativos devido à sua identidade, mas sua paixão pelo samba e seu talento inegável abriram caminho para sua aceitação e sucesso. Além de sua contribuição para a música brasileira, Leci Brandão é reconhecida por seu trabalho como deputada estadual em São Paulo, onde defende a igualdade racial, o respeito às religiões de matriz africana, e os direitos das populações indígenas, quilombolas, mulheres e da comunidade LGBT+. Sua vida é um testemunho do poder da arte e da política como ferramentas de transformação social.

Quem é Leci Brandão? Leci Brandão é uma cantora, compositora, atriz e política brasileira, conhecida por ser a primeira mulher negra e homossexual na ala de compositores da Mangueira.

Qual foi o pioneirismo de Leci Brandão na Mangueira? Leci Brandão foi pioneira ao se tornar a primeira mulher negra e homossexual a fazer parte da ala de compositores da Estação Primeira de Mangueira, quebrando barreiras de gênero e sexualidade no samba.

Como Leci Brandão contribuiu para a política brasileira? Como deputada estadual por São Paulo, Leci Brandão tem se dedicado à promoção da igualdade racial, defesa das religiões de matriz africana, cultura brasileira, e direitos das populações indígena, quilombola, juventude, mulheres e LGBT+.

Quais são alguns dos reconhecimentos de Leci Brandão? Leci Brandão foi homenageada pela Acadêmicos do Tatuapé com o enredo “Nasci Pra Comunidade, Defesa e Essência. Sou Guerreira! Sou Leci Brandão!” e tem sido uma voz ativa na defesa da igualdade e diversidade, recebendo diversos prêmios por sua contribuição à música e à sociedade.

Como a música de Leci Brandão reflete seu ativismo? As letras de Leci Brandão frequentemente abordam temas sociais, refletindo seu compromisso com a justiça social, igualdade racial e a luta contra a discriminação, fazendo de sua música um instrumento de conscientização e mudança.

7 comentários em “Leci Brandão, primeira mulher negra, homossexual, na ala de compositores da Mangueira”

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  6. Sou apaixonada por essa mulher, que exemplo de vida.
    Obrigado por dar essa oportunidade de conhecer um pouco mais da história dela.
    Gratidão

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