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InícioMelânia Luz: a única preta a iluminar uma pista olímpica nos anos 1940

Melânia Luz: a única preta a iluminar uma pista olímpica nos anos 1940

Pioneira, Melânia é Luz. Seus feitos, históricos no esporte, ainda permanecem vivos e inspiram muitos e muitas dos nossos. Sozinha, com sua pele preta, ela integra a equipe olímpica do Brasil. Não traz medalhas, mas é vitoriosa!

Melânia posa no bloco de partida, uma novidade no Brasil na década de 1940 (Imagem: Acervo SPFC)
Melânia na década de 1940, primeira negra a posar no bloco de partida (Imagem: Acervo SPFC)

A velocista nasce em 17 de maio de 1928 e, aos 20 anos, entra para a história mundial como pioneira, livre para correr 60 anos depois de, oficialmente, abolida a escravidão no Brasil.

O ano é 1948, de 29 de junho a 14 de agosto. A Inglaterra sedia os Jogos Olímpicos, em Londres, capital do país e do Reino Unido, no pós Segunda Guerra Mundial. Há 12 anos, a competição – símbolo de paz e união entre os povos, como refletem seus anéis – estava suspensa. No improviso, instalações militares e escolas se transformaram em locais de provas, de treinamento, em alojamentos.

Primeira entre as primeiras

O Brasil, pela primeira vez, envia uma equipe feminina de atletismo, pela então Confederação Brasileira de Desportos (CBD). 

Dos 77 competidores, sete mulheres e uma negra: Melânia Luz dos Santos.

Ela não conquista medalhas de ouro, prata ou bronze. Não disputa nenhuma final. 

Nos 200m rasos, obtém a marca de 26 segundos, quarto lugar.

No revezamento 4x100m – ao lado das colegas Benedita Oliveira, Elizabeth Clara Muller e Lucila Pini – finaliza a volta em 49 segundos cravados e, com o seu grupo, estabelece um novo recorde sul-americano.

Melânia escreve o seu nome na história da competição. Sua história é campeã, quarto lugar, recorde, ser a primeira atleta negra a disputar Jogos Olímpicos pelo Brasil, tudo é sinônimo de vitória.

Mais que olímpica

Melânia Luz é um grande nome do atletismo. Esteve presente na maior parte das conquistas dos Campeonatos Paulistas e Troféus Brasil de Atletismo nas décadas de 1940 e 1950, usando a camisa do São Paulo Futebol Clube.

A atleta viveu entre o Bom Retiro e Santana, bairros da capital paulista. Filha de policial militar apaixonado por esportes, frequentava com toda a família os estádios de futebol, para torcer pelo tricolor paulista.

Melânia, ao centro, com uniforme tricolor, se esforça na corrida (Imagem: Arquivo pessoal)
Melânia Luz com uniforme tricolor (Imagem: Arquivo pessoal)

O centro de treinamento clube era perto de sua casa. E, como em uma conspiração do Universo, em 1945, lá estava Melânia passando da condição de torcedora, para atleta.

Em 1945, Melânia passa a treinar com Dietrich Gerner, alemão radicado no Brasil, o mesmo de de Adhemar Ferreira da Silva, primeiro bicampeão olímpico do país, nos saltos com vara.

Vida de atleta

Os treinos no São Paulo Futebol Clube são intensos e Melânia se destaca nos revezamentos. Seu desafio maior, porém, é combinar as 24 horas do dia com o aperfeiçoamento em outras modalidades sem comprometer os estudos.

E ela se supera. Conclui o colegial – hoje chamado ‘Segundo Grau’, enquanto treina diariamente.

Desafio 2, maior: trabalhar de segunda a sexta-feira e treinar somente aos sábados e domingos. Vitória de novo.

Na época de Melânia, esporte era só amor. Nada de compensações financeiras. E assim foi durante toda a sua carreira. Profissionalmente, ao longo de 30 anos, trabalhou como técnica de laboratório, em dois turnos: de manhã no Instituto de Saúde e à tarde na Santa Casa de Misericórdia.

Sem aposentadoria

A paixão de Melânia Luz pelo atletismo a fez correr nas pistas até os 70 anos e com direito a muitas conquistas, inclusive em campeonatos para veteranos..

No Campeonato Brasileiro +65, de 1995, nos 100m rasos, obteve um tempo de 15 segundos para realizar a prova. No Sul-Americano +60, de 1997, concluiu o revezamento 4x100m rasos com, aproximadamente, 1 minuto de prova.

No Sul-Americano e no Brasileiro +70, nos 200m rasos, de 1998, gravou a marca de 36 segundos. E no Brasileiro +70, ainda, na modalidade salto em altura, alcançou 1,10m.

Medalhas

Como atleta do São Paulo Futebol Clube, seu auge é na quarta edição do Campeonato Brasileiro de Atletismo, em 1946. Ela sobe ao pódio dos 200m em primeiro lugar, após concluir a prova em 27 segundos. E em segundo lugar nos 100m, com o tempo de 13 segundos.

Registre-se, ainda, outros quatro títulos defendendo o clube paulista: no revezamento 4x100m, uma medalha de prata, no Rio de Janeiro, 1947, e uma prata em São Paulo, em 1954. Nos 100 e 200m rasos, prata e bronze em 1947.

Melânia desfila com o uniforme da CBD (Imagem: Arquivo pessoal)
Melânia desfila com o uniforme da CBD (Imagem: Arquivo pessoal)

A Edições do Campeonato Sul-Americano também contam das conquistas de Melânia Luz. Entre elas, medalha de ouro em Lima, Peru, em 1949, e ouro em Montevidéu, Uruguai, em 1958, ambas na modalidade 4x100m. Além de uma prata nos 200m rasos, também no Peru.

No esporte, o amor

Enquanto competia, Melânia Luz conheceu o atleta Waldemir Osório dos Santos, do Vasco da Gama, com quem se casou e viveu por 29 anos. Aos domingos, o casal de atletas era visto ou no Clube Espéria ou no Regatas Tietê. 

Só depois de viúva – ela cuidou do marido até a sua morte, mesmo já separados -, Melânia voltou a competir na categoria máster. 

O casal teve uma filha.

Parada forçada

Em 21 de junho de 2016, Melânia morre. Está com 88 anos, fisicamente saudável, mas há nove anos com diagnóstico de Mal de Alzheimer.

Melânia Luz vive. Vive entre seus familiares. Ganha vida no nosso arquivo ancestral, no coração dos alunos do Faculdade de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que criaram o Grêmio Esportivo Melânia Luz, o Gemel. Melânia Luz vive no ativismo negro. É inspiração.

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Conheça também a inspiradora história de Lightning Bolt, o velocista jamaicano considerado o maior de todos os tempos.

Fontes: Fundação Palmares, Globo Esporte, Wikipédia

Escrito em junho de 2021

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