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Nyakim Gatwech, rainha da melanina e da moda

Com um discurso de luta e amor à sua pele, a modelo toma para si a responsabilidade da auto aceitação da sua cor negra.

Nyakim Gatwech (Foto: Joey Rosado | Island Boi Photography)
Nyakim Gatwech (Foto: Joey Rosado | Island Boi Photography)

Nyakim Gatwech, modelo americana, nascida na Etiópia, é símbolo de resistência e representatividade ao impulsionar o amor próprio de mulheres de pele negra que passam pelo processo de auto aceitação.

Alvo de ataques racistas, ela alcança milhares de seguidores no Instagram e enxerga essa visibilidade como meio de comunicar sua maneira de lidar com a pressão psicológica de, ao se libertar de uma guerra civil, viver em uma sociedade que tem a pele, negra, como alvo constante. 

Primeira batalha

Afetado pela maior crise humanitária do século XX, o Sudão do Sul – origem de seus pais – foi um dos países que mais sofreu com as consequências de uma guerra civil. Vítima desses conflitos, a família Gatwech abriga-se em campos de refugiados no Quênia e na Etiópia, onde Nyakim nasceu, em 23 de janeiro de 1993 na cidade de Gambela. 

Aos 14 anos, as dificuldades obrigam sua família, em nome da própria sobrevivência, a fugir das armas. E eles vão para os Estados Unidos da América, mais precisamente para a cidade de Buffalo, no estado de Nova Iorque. 

Segunda batalha

E eles são vitoriosos na aventura de mudar de continente: da África para a América. Mas a família tem de enfrentar outra batalha. Isso porque, em pleno século XXI, a paz e a garantia de vida não fazem parte do cotidiano da população afro americana. 

A pele de Nyakim, retinta no tom, não permite que ela tenha uma adolescência tranquila. Os insultos na escola onde estudava transformaram o ambiente estudantil em local de tortura. Os ataques eram constantes. Os colegas de sala a mandavam tomar banho, insinuando que estava suja

De armadura

Todo o ódio, racismo e ofensas que recebe durante a maior parte da sua vida, transforma-se em resistência. Ela tem de enfrentar diariamente o racismo recreativo, que é um discurso de ódio, disfarçado de piada, à população negra.

Nyakim Gatwech em foto publicada no instagram.
Nyakim Gatwech em foto publicada no instagram. (Foto:TBarry Pictures).

Sobre o assunto, existe o livro Racismo Recreativo, de autoria de Adilson José Moreira, para pessoas de todas as raças que entendem que, na vida, não basta não ser racista, é preciso ter atitudes racistas e investir no letramento racial

Nyakim ouvia ‘piadas’ de que não era possível enxergá-la durante a noite e que, para ser vista, precisaria expor os dentes – comentários que transformaram a autoestima em obstáculo a ser vencido. 

“Pensei em clarear minha pele para que os homens me achassem atraente”, revela. 

Beleza única

Mas, mesmo que uma pele mais clara facilitasse a sua vida, Nyakim sabia que “continuaria no caminho difícil”. Ela sonhava ser modelo com sua altura de 1.85m, 65 quilos, 87 cm de busto e quadril e 63cm de cintura.

Nyakim Gatwech (Imagem: Reprodução)
Nyakim Gatwech (Imagem: Reprodução)

Dona de personalidade e beleza indiscutíveis, aposta na mudança de sua família para Mineápolis e é notada pela indústria da moda. 

O sucesso profissional não é suficiente para blindá-la de comentários e abordagens racistas, mas ajuda a construir sua auto confiança e estratégias para lidar com o preconceito, o racismo e a ignorância alheias.

Injúrias

“Vocês não acreditam no tipo de perguntas que eu ouço e os olhares que recebo por ter esta pele”, disse durante uma de suas entrevistas.

Ela contou para seus milhares de seguidores nas redes sociais que, um dia, um motorista de aplicativo perguntou se ela aceitaria clarear a pele por 10 mil dólares. Sua resposta? Uma gargalhada

A esta altura, a modelo enxerga a própria negritude como motivo de orgulho, benção divina. Na verdade, ao aceitar-se, ela fez com que o mundo da moda voltasse os olhos para sua beleza única.

Força da melanina

A ‘Queen of Dark’ ou “Rainha da Melanina” – como é reconhecida – percebe na sua existência, abundante em melanina, a oportunidade de promover a auto aceitação e a consciência racial por meio do seu alcance na internet.

Nyakim Gatwech posa com Khoudia Diop em uma campanha sobre amor próprio (Imagem: Joey Rosado)
Nyakim Gatwech posa com Khoudia Diop em uma campanha sobre amor próprio (Imagem: Joey Rosado)

“Me perguntaram como me sinto ao ser chamada de Queen of the Dark. Eu gosto. A cor escura não deve ser associada à dor e à morte. Eu sou a Queen of the Dark, que leva luz e amor para todos ao seu redor.” 

E ela vai além:

”Eu represento uma nação de guerreiros.”

Inspiração

Além de seu trabalho como modelo ser inspirador para meninas negras, sua voz é vista como uma das mais importantes para a valorização da negritude, principalmente para aqueles que não reconhecem a potência da própria cor e, muitas vezes, optam pela automutilação ao usar cremes branqueadores, altamente prejudiciais à saúde. 

Nyakim Gatwech em cartaz que promove o filme Jogos mortais
Nyakim Gatwech em cartaz que promove o filme Jogos mortais, 2017. (Foto: IMDB)

Em 2020, circulou nas redes sociais um texto em que citava a entrada de Nyakim no livro dos recordes como a mulher com a pele mais escura do mundo. No mesmo ano, o perfil oficial do Guiness World Records negou a informação e declarou não fazer monitoramento para reconhecimento de tons de pele. 

Inspire-se com a história de Naomi Sims, uma das primeiras top models a fazer sucesso internacional!

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Fontes: E-farsas, Twitter – Declaração Guiness, Catraca Livre, Sallve, BBC, Incrível Club, Hypeness, El Pais, Huffington Post, Instagram, Area de Mulher

Escrito em 20 de agosto de 2021

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