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Skate: das ruas para as pistas olímpicas

E aí, pessoal! Hoje vamos falar sobre uma história super legal: a evolução do skate, de simples brincadeira nas ruas até se tornar um dos esportes mais esperados nas Olimpíadas de Tóquio 2021. E tem mais: vamos destacar a trajetória incrível de Felipe Gustavo, um skatista que não só representou o Brasil, mas também fez história como o primeiro negro na nossa delegação olímpica de skate. Preparados para essa viagem sobre quatro rodinhas?

O skateboard faz a estreia nos Jogos de Tóquio 2021 e deve ser o carro-chefe das medalhas do Brasil. Na delegação, um negro – Felipe Gustavo, o primeiro a dar a volta de estreia do esporte no programa olímpico na pista da modalidade street.

Felipe Gustavo exibindo seu shape assinado, com marcas dos patrocinadores. (Imagem: divulgação)
Felipe Gustavo exibindo seu shape assinado, com marcas dos patrocinadores. (Imagem: divulgação)

A história desse esporte realizado em uma prancha – chamada shape, tábua ou deck -, com quatro rodas pequenas e dois eixos chamados de “trucks”, rolamentos, parafusos, lixa ou griptape começa nos anos 1950.

As manobras, executadas com baixo e alto grau de dificuldade, consistem em deslizar sobre o solo, rampas e obstáculos (construídos, improvisados ou da própria rua, na modalidade street), características que resultam na classificação como esporte radical e criativo. 

Primeiros deslizes

O skate nasce na Califórnia…  Os surfistas faziam das pranchas um divertimento também nas ruas em época de marés baixas e seca na região.

Os primeiros campeonatos surgem 1965, porém o esporte só é mais reconhecido uma década depois, quando começam a construir pistas de skate afastadas das periferias, reforçando a característica de ser uma prática elitizada e branca.

As pistas, chamadas skateparks, têm suas raízes nas piscinas drenadas que os skatistas usaram pela primeira vez em Los Angeles.

Um dos acontecimentos que revolucionaram o esporte foi a invenção das rodinhas de uretano, pelo norte-americano Frank Naswortly, em 1973. 

Skatista em Hyde Park, Londres
Skatista em Hyde Park, Londres, 1977. (Foto: Frederick Wilfred)

A criação da manobra Ollie-Air, em 1979, que possibilitou uma abordagem inacreditavelmente infinita por parte dos skatistas, flip, heelflip, hardflip, kickflip de Rodney Mullen representam, também, uma mudança de patamar do esporte.

Mas a consolidação do esporte, pra valer, acontece nos anos 1990, quando surge o maior skatista de todos os tempos, o norte-americano Tony Hawk, acompanhado de um número crescente de campeonatos disputadíssimos, inclusive por patrocinadores

Funil olímpico

Não por acaso, a  escolha dos atletas para Tóquio 2021 baseou-se nos eventos: Skateboarding World Championships, X Games, Dew Tour, Street League, Copenhagen Pro, Tampa Pro, Simple Sessions, Mystic Cup, PS4 Series, Adrenalin Games, and DC Invitational Sao Paulo.

E o critério de classificação olímpica é estar entre os vinte melhores skatistas do ranking, com limite de três vagas por país, tanto no feminino quanto no masculino.

O Japão, país-sede, tem uma vaga garantida e caso um continente não esteja representado no top 20, o atleta mais bem ranqueado garante a vaga.

Os melhores skatistas olímpicos para Tóquio 2021 estarão divididos entre os estilos Street (skate de rua) e Park, das pistas. 

A modalidade Street se caracteriza por andar ao longo de meios-fios, saltando no ar sem usar as mãos.

A disputa

A competição no Estilo Street será em percurso reto com escadas, corrimãos, meios-fios, bancos, paredes, pistas e declives, parecidos com os encontrados em locais urbanos. Já no Estilo Park, os percursos vão lembrar grandes bacias com seus lados mais íngremes, quase verticais no topo. Os skatistas se lançarão a alturas vertiginosas, realizando giros até refazer tudo de novo do outro lado.

Felipe Gustavo no Dew Tour 2021, realizando manobra em pista do tipo Park (Imagem: Julio Detefon/ CBSk)
Felipe Gustavo no Dew Tour 2021, realizando manobra em pista do tipo Park (Imagem: Julio Detefon/ CBSk)

Dificuldade das manobras, altura, velocidade, originalidade, execução e composição, além da capacidade de estar suspenso no ar estão entre quesitos a serem utilizados para calcular as pontuações.

Mas os skatistas olímpicos experimentarão um pouco da liberdade criativa nas competições, uma vez que, apesar do tempo pré-estabelecido, estão livres para escolher quais partes do percurso percorrer e quais manobras executar. 

Apenas um atleta participa de cada vez, e os competidores obtêm três corridas cronometradas para registrar sua melhor pontuação.

A parte preta da história

A revista Trip publicou, em abril de 2014, uma lista com os mais emblemáticos skatistas negros brasileiros de todas as gerações e modalidades, os que marcaram época e deixaram um legado seja em estilo, atitude, manobras ou influência. 

Vale observar a “tendência racial” nos nomes ou apelidos:

Bola 7 (in memorian), Fabio Bolota, Paulo Coruja, Bruno Brown, Sergio Negão, Luis Neguinho, Antonio ‘Thronn’ dos Passos Junior, Wilson Ito, Wilson Neguinho, Beto or Die, Taroba, Tarobinha, Ari Bason, Willians Indião (in memoriam), Ricardo Mikima, Alessandro Ramos, Luis ‘Come Rato’ Jesus, Roberto Ho Ho, Sinistrinho (in memorian), Rogério Sammy, Kamau, Sorrico, Fabio Luiz Parteum, Everton Tutu, Alexandre TizilZik Zira, Rodrigo TX, Alex Carolino, Gui Da Luz, Jay Alves, Cara de Sapo, Ricardinho Pires, Paulo Piquet, Jorge Negretti, Cristiano Nego Bala, Denis Buiú, Ataliba Campon (in memorian),  Zé Bolha Campon, Diego Oliveira, Marcelo Formiguinha, Maninho, Sandro Testinha, Augusto Fumaça e Felipe Gustavo – este último é o nosso cara das Olimpíadas.

Felipe Gustavo nasce brasileiro, integra a delegação brasileira de skate, mas se profissionaliza no berço desse esporte, os Estados Unidos, terra do racismo explícito, como comenta o skatista, fotógrafo e músico americano Ray Barbee, em entrevista para o agregador de blogs The Huffington Post:

“Ser skatista negro é  andar em uma zona cinza. Há quem não considere o skate um espaço racista. Pode ser. Mas por estar dentro de uma estrutura racista de mundo, ele reflete muita coisa que a gente deixa passar batido. E é preciso olhar historicamente.”

O No Comply, manobra realizada sem colocar as mãos no skate, de Ray Barbee revolucionou o esporte. (Imagem: Ogden)
O No Comply, manobra realizada sem colocar as mãos no skate, de Ray Barbee revolucionou o esporte. (Imagem: Ogden)

Barbee lembra que quando ele, junto com outros negros e negras, andavam de skate, eram confrontados pelos outros skatistas que perguntavam: “Por que você está tentando ser branco?” Na época – ele está com 49 anos -, ele simplesmente respondia:

“Estou andando de skate, adoro o que estou fazendo – espero que você goste do que está fazendo.”

Ray Barbee acredita que, na atualidade, o olhar, o sentimento pessoal, pode ter mudado, mas as estruturas permanecem muito similares.

“Não se vê skatistas negros andando em bowl, ou em outra categoria. Isso porque existe uma ideia de que o que é branco é universal, e o que é do negro é só para os negros. E a gente vê isso na música, na literatura, na moda…”, denuncia. “Não é um problema de indivíduos, mas de estrutura”. 

TX, Dwayne, Formiga… Ou seja, todos dentro de um mesmo estilo. Stevie Williams, Tiago Lemos, TK, Antwuon Dixon… E a lista, que inclui o atleta olímpico Felipe Gustavo, poderia continuar…

Skate feminino

Com as mulheres negras, multiplica-se a discriminação. Soma-se à questão racial a questão de gênero. Thayná Gonçalves recentemente mandou o papo expondo casos de racismo,  machismo e homofobia dentro do skate feminino.

Eloiza manda backside feeble no coração do Rio (Imagem: Uine Monteiro)
Eloiza manda backside feeble no coração do Rio (Imagem: Uine Monteiro)

“Se já é difícil ser negra, imagina ser negra, lésbica e periférica! Mano, vamos sempre ser jogadas para trás”, aponta nas redes sociais a ativista, videomaker e uma das fundadoras do maior coletivo de skate feminino no Brasil, o Britneys Crew. 

Skate no pé

Para Barbee, precisa, mais gente preta fazendo vídeo, fotografando, andando sem se encaixar num lugar pré-definido, estando na frente de marcas etc, como em vídeos como o Selvagem, da Converse, que coloca três negros – Felipe Oliveira, Henrique Crobelatti e Kauê Cossa – “como bons selvagens e exploradores urbanos” das rua das cidades de São Paulo e Rio Janeiro, ao som de “A Coisa tá Preta” de Rincon Sapiência.

Ou, ainda, indica Barbee, do Carlos Dudu do blog Skate é Sujo, sensível ao vídeo da Nautilus que apresentava um time mais diverso; de fotógrafos como Thomas Teixeira fazendo trabalhos de reconhecimento e Black Alien – Skate no Pé, com Parteum e Kamau, estourando nas mídias e Sandro Testinha tocando o projeto Social Skate.

Para os Jogo Olímpicos, o skate é um esporte de ação que envolve manobras usando uma prancha. Também pode ser considerada uma atividade recreativa, uma forma de arte, uma profissão ou até um meio de transporte.

Para quem vive o skate é sinônimo de liberdade: “Skatistas são seres de natureza livre. Estão sempre na atividade, sempre em busca de inspiração, sempre em busca da evolução. Quem habita as ruas sabe que o ecossistema urbano é complexo, e os instintos animais são constantemente instigados. Para um skatista não há instinto mais animal e vital do que se expressar através de manobras. Skatistas não renegam seus instintos. Skatistas são selvagens!” Assim está escrito na apresentação do vídeo do Selvagem. 

É, as Olimpíadas podem parecer “mansas” demais! 

Felipe, pioneiro ao quadrado

Além de ser o primeiro e único negro da delegação brasileira, Felipe Gustavo fez história como o primeiro skatista a competir nas Olimpíadas de Tóquio 2021. Ele deu a primeira volta na primeira bateria do skate ao entrar na pista na modalidade street. Recebeu nota 8,49.

Sua performance não valeu medalha.

Na segunda volta, mais arrojado, ia bem até um pequeno erro – nota de 7,24. Nas manobras individuais, não pontuou nas quatro primeiras tentativas, mas acertou a última manobra, um switchflip crooked, e somou 9,02, terminando a bateria com 24,75.

Os Jogos Olímpicos Tóquio 2021 contaram com cinco grandes novidades. Além do Skateboarding, Surfe, Escalada Esportiva, Karatê e Beisebol.

Inspire-se com a história de Jesse Owens, o atleta negro que deu um tapa na cara do nazismo.

Fontes:

Grito da Rua, DF – Superesportes, Campeonatosdeskate, RedBull,  Dew TourRevista TripSquadisht, Brasil Escola, NSC Total, GE – Globo

De Ruas a Rampas Olímpicas: A Ascensão do Skate e o Legado de Felipe Gustavo

O skate, um esporte que começou como passatempo dos surfistas nas ruas da Califórnia nos anos 1950, alcançou um marco histórico com sua estreia nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2021. O Brasil, conhecido por sua paixão e talento no esporte, teve como destaque Felipe Gustavo, o primeiro skatista negro a representar o país nesta nova era olímpica. A história do skate é marcada por evoluções técnicas, como a invenção das rodinhas de uretano e manobras icônicas como o Ollie-Air, que transformaram o skate em um esporte radical e criativo. A participação de Felipe Gustavo nas Olimpíadas simboliza não apenas o reconhecimento do skate como esporte olímpico, mas também a superação de barreiras raciais e culturais dentro dessa comunidade.

Quando o skate fez sua estreia olímpica? O skate fez sua estreia nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2021.

Quem foi o primeiro skatista negro na delegação brasileira de skate nas Olimpíadas? Felipe Gustavo foi o primeiro skatista negro a representar o Brasil nas Olimpíadas de Tóquio 2021.

Qual é a origem do skate? O skate originou-se na Califórnia nos anos 1950, como uma atividade de lazer para surfistas durante períodos de marés baixas e seca.

Quais inovações técnicas foram importantes para a evolução do skate? A invenção das rodinhas de uretano em 1973 e a criação da manobra Ollie-Air em 1979 foram cruciais para a evolução do skate.

Como o skate é visto dentro das Olimpíadas? Nas Olimpíadas, o skate é considerado um esporte de ação que envolve manobras criativas e técnicas, além de ser uma forma de arte, profissão, e até meio de transporte, refletindo a liberdade e a natureza criativa dos skatistas.

1 comentário em “Skate: das ruas para as pistas olímpicas”

  1. Pingback: Os esportes e a superação negra

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