O político precisou da Justiça de São Paulo para tomar posse e conquistar também o pioneirismo de ser o primeiro presidente negro da Câmara Municipal de Santos. E foi o racismo que o colocou lá!
O que este artigo responde: Quem foi Quintino de Lacerda? Quais são os pioneirismos do vereador Tintino? Qual o apelido de Quintino de Lacerda? Qual o nome do Quilombo que Quintino de Lacerda chefiava? Onde nasceu Quintino de Lacerda? Quando Quintino de Lacerda foi eleito vereador? Como foi a posse de Quintino de Lacerda? Quintino de Lacerda era analfabeto? Qual foi a contribuição de Quintino de Lacerda para a política brasileira? Como Quintino de Lacerda enfrentou o racismo na política? Qual foi o papel de Quintino de Lacerda no movimento abolicionista?
Tintino, como era conhecido, o primeiro líder político negro de Santos, figura central nos movimentos sociais e debates políticos, nasceu escravizado, em Itabaiana, Sergipe, em 8 de junho de 1839.
Alforriado pelo abolicionista Lacerda Franco, oito anos após ter sido comprado, trabalhou como inspetor de quarteirão, administrador da Limpeza Pública Municipal, cozinheiro, político…
Santos não era uma cidade racista. Incentivou a luta abolicionista, antecipou a libertação dos escravos. Acolheu por muito tempo mais de 10 mil escravizados fugidos do interior paulista e elegeu Tintino, o terceiro vereador mais votado.
Da urna à posse
Sua vitória, entretanto, revelou a outra face da cidade – os setores racistas não queriam dar-lhe posse.
Ele teve de recorrer à Justiça várias vezes. E na batalha judicial, venceu. Conhecia a lei o suficiente para defender seus direitos.
Prevendo o resultado a favor do líder abolicionista, o presidente da Câmara, Manoel Mario Tourinho, renunciou ao mandato, sendo seguido pelo vereador Alberto Veiga.
O novo presidente, José André do Sacramento Macuco, teve de dar posse ao negro – garantida graças a um Acórdão do Tribunal de São Paulo. Só que foi demais para ele – renunciou, em seguida, declarando-se “enojado”.
A Câmara teve de suspender as atividades, por mais de uma semana, para preencher os cargos vagos, tão grave a situação ficou. E quando voltou a funcionar, o próprio Tintino estava na presidência.
Cassação
Sua passagem pela Câmara Municipal de Santos é marcada pela sessão ordinária de 10 de junho de 1895. Nela, Tintino propõe a cassação do mandato do jornalista Olímpio Lima por faltar às sessões sem dar justificativa. Sua proposta – baseada na Lei Eleitoral 16 – é aprovada por unanimidade.
O vereador cassado – fundador do jornal A Tribuna do Povo, à época, e hoje jornal A Tribuna – havia abandonado a Câmara Municipal em sinal de protesto.
O jornalista contestava a capacidade do escravizado liberto e líder quilombola para exercer a função, por ser analfabeto.
Na verdade, Quintino estudou os rudimentos da leitura e da escrita com as filhas de seu senhor, durante os oito anos em que esteve escravizado .
Quintino tomou posse como o vereador em 9 de julho de 1895 e terminou seu mandato em 7 de janeiro de 1896. Morreu dois anos depois, em 10 de agosto de 1898, de ataque cardíaco, viúvo e deixando três filhos.
Nasce um líder
O Quilombo do Jabaquara, criado em 1882, foi o ponto de partida para a trajetória política de Quintino de Lacerda. É o abolicionista Lacerda Franco, seu antigo dono, quem o indica para chefiar o refúgio dos fugitivos. O que faz espetacularmente.
O local era organizado, inexpugnável.
Quando da festa do 13 de maio, Quintino é o centro das atenções. Nos oito dias de comemoração acontecem comícios, passeatas, música, dança e até uma homenagem, e que é presenteado com um relógio de ouro, reconhecendo-o como o mais popular abolicionista de Santos.
E ele se serviu de sua popularidade.
Em 1891, atua ativamente na greve contra os trabalhadores portuários imigrantes grevistas, organizando e chefiando as chamadas “turmas de homens de cor”.
Dois anos depois, em outra frente de batalha, é condecorado major honorário do exército brasileiro, por sua atuação durante a Revolta da Armada, assumindo o controle do porto de Santos, para defender o então presidente da República, Floriano Peixoto.
Na memória
Desde 1953, Quintino empresta seu nome a uma das ruas no Jabaquara, na cidade de Santos. E, em 2004, o bairro ganhou um busto de seu líder também.
Uma lei de 1962 instituiu o 13 de maio como o seu dia. E seu nome, desde 2000, é ostentado em medalha entregue a pessoas reconhecidas por seu trabalho em defesa da integração racial, da solidariedade e da fraternidade.
No final de 2018, sua foto na galeria dos presidentes da Câmara Municipal foi substituída pela gravura que consta nos livros de história. Até então, permanecia uma imagem colorida, uma caricatura.
Quintino de Lacerda simboliza a resistência do povo negro.
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Fontes: Novo Milênio, Câmara de Santos, Notícia Preta, Facebook – Centro Cultural Escola de Bambas, Memória Santista, Wikipédia
Escrito em 16 de julho de 2020
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Muito bom eu n conhevia parabens aos editores bom dia
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