
EDIÇÃO
Ubuntu
Nós e a natureza
O adinkra Eze Ne Tekrema representa a expressão “Os dentes e a língua”, ele simboliza evolução, aperfeiçoamento, crescimento, a necessidade da amizade e da interdependência.

A gente quer falar de alimentação, de planeta Terra, de mudanças climáticas, de racismo e justiça ambiental, nutricional, de saúde… E, refletindo sobre qual o título da edição, concluímos que Ubuntu, do idioma iorubá, é a palavra que sintetiza nossa proposta.
Ubuntu é o nome de uma filosofia africana bastante conhecida pela afirmação:
“Eu sou porque nós somos.”
O que nem todas as pessoas sabem é o seu significado profundo, muito além de nossa existência humana…
Ubuntu se refere às nossas relações com todos os seres viventes, com toda a natureza.
Basta imaginarmos que, se compreendêssemos a vida a partir da filosofia ubuntu, não estaríamos, neste momento, sentindo os impactos das mudanças climáticas.
Quando se pensa a Filosofia Ubuntu, por exemplo, ela não é cartesiana – “Penso, logo existo!” -, mas traz reflexões muito mais profundas:
“Eu penso e logo me lembro dos que me antecederam, dos que estão aqui hoje e dos que haverão de vir. É por isso que eu existo.”
Em uma perspectiva Ubuntu, a mudança é radical:
Eu não sou à medida que eu penso, mas à medida que nós existimos, na medida em que o outro me acolhe dentro da comunidade. Eu não posso existir como ser pensante antes de existir como um ser social.
O mito do espelho – que, ao ser quebrado, deixa de refletir o orun e nos ensina que a verdade só será acessada quando unirmos todos os nossos pontos de vista – ensina que tudo se faz de forma comum, comunitária.
Não existe verdade no sujeito compartimentado. Eu sou porque nós somos, embute a ideia de que só seremos juntos – com consciência dos que vieram antes, da ancestralidade em nós; só seremos, juntos como sociedade, construindo juntos, co-existindo.
Em uma sociedade colonial, como o Brasil, não construímos nada juntos. Tentamos ter voz, representatividade para construirmos juntos, mas ainda não chegamos lá.
A Filosofia Ubuntu tem como base os “princípios de partilha e do cuidado mútuo” não só entre humanos, mas entre todos os seres viventes, com o mundo animal, mineral, vegetal, antepassados, ancestrais, divindades…
Na comunidade tradicional de terreiro de matriz africana a saúde é compreendida como força vital, como existência. Ela é produzida na relação entre o mundo visível e o invisível, entre o simbólico e o natural, o mítico e o empírico das divindades e ancestrais.
Nós estamos irmanados no Cosmos em regime de complementaridade e interdependência dos seres a partir de uma noção de totalidade, de integralidade.
A vida é assim. Basta observarmos. Não há possibilidade de existência cotidiana. Tudo implica a ação de outras pessoas, da natureza… Alguém precisou plantar, colher, vender, industrializar, transportar… É assim que é.
Ter esse olhar para a vida produz sentimento de pertencimento, constroi uma identidade coletiva e tem o potencial de produzir saúde, justiça e alimento para todos.



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Rayane de Freitas e Hélio Santos.
No ar dia 5 de junho.
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