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Winnie Mandela, na linha de frente

África do Sul

A mãe da nação africana, segunda esposa de Nelson Mandela, a mulher que garantiu a liderança do marido preso por 26 anos.

Winnie Mandela (Imagem: Reprodução)
Winnie Mandela (Imagem: Reprodução)

Sabe aquela frase machista “atrás de um grande homem existe uma grande mulher”? Pois Winnie Madikizela-Mandela é essa mulher. Só que na linha de frente. Indomável e carismática, ela tornou-se importante rosto na luta anti-apartheid ao assumir a bandeira de seu então marido Nelson Mandela.

Eles estiveram casados por 38 anos – de 1958 a 1992 – e se separaram dois anos depois da libertação dele. Ou como ela mesma disse, anos mais tarde:

 “Eu estava casada com o ANC. Foi o melhor casamento que tive”.

Winnie é a primeira negra assistente social da África do Sul. E foi atuando nessa área que começou “a perceber a pobreza abjeta na qual a maioria das pessoas era obrigada a viver, as condições terríveis criadas pelas desigualdades do sistema”.

Nos anos 1980, concluiu seu bacharelado em ciência política com especialização em relações internacionais.

Ela nasce em 26 de setembro de 1936, em Bizana, na província do Cabo Oriental, e morre, aos 81 anos, em 2 de abril de 2018.

Como Winnie viveu essas oito décadas?

  1. Batizada Nomzamo (= aquela que tenta) Winifred Madikizela Zanyiwe, nome de origem xhosa, aos 8 anos fica órfã de mãe.
  2. Depois de formada, recusa uma bolsa nos Estados Unidos, optando por trabalhar num hospital para negros em Johanesburgo.
  3. Durante seu trabalho realiza uma pesquisa de mortalidade infantil no subúrbio de Alexandra, o que a leva a interessar-se pela política, envolvendo-se com o Congresso Nacional Africano (CNA)
  4. Em 1957, aos 22 anos, conhece Nelson Mandela que, na época, respondia a julgamento por Traição.
  5. Um ano depois, em 19 de junho de 1958, se casa e passa a morar no subúrbio pobre de Soweto.

A jovem líder

  1. No mesmo 1958, é presa pela primeira vez, quando participa de um protesto de mulheres contra a livre circulação de pessoas negras em áreas permitidas apenas aos brancos.
  2. Do casamento, nascem duas filhas – Zenani, em 1959, e Zinzi, em 1960.
  3. Mandela, seu marido, é absolvido no julgamento por Traição. Contudo, sua atividade política o leva a sucessivas prisões. A última delas por 26 anos.
  4. A partir de 1962, perseguida pelo regime separatista, é impedida de trabalhar e de lutar em causas sociais. Cassam seu direito de ir a vir.
  5. Winnie cria as duas filhas sozinha.
  6. Trabalha clandestina no CNA.
  7. Envia as duas filhas para um internato na Suazilândia para protegê-las.
  8. É detida, em 1969, com base na Lei Anti-terrorismo, e passa 17 meses na cadeia. Depois, em prisão domiciliar.
  9. Tem a casa bombardeada duas vezes.

A ativista

  1. Constrói uma trajetória própria, não macula a sua força e importância na luta contra o apartheid e a supremacia branca.
  2. Destaca-se por ser sincera e radical em demasia.
  3. Defende o uso da violência contra o regime.
  4. Durante os 26 anos de detenção de Mandela, é defensora incansável da sua libertação.
  5. Após a libertação, no entanto, critica o ex-companheiro por ter abandonado o radicalismo em nome do consenso e da reconciliação. Acusa-o de “ter amolecido” com a prisão.
  6. Na política, torna-se deputada, ministra e presidente da Liga das Mulheres do CNA.
  7. Trabalha com pessoas afetadas pelo HIV/AIDS em situação de pobreza.
  8. 1992: Escândalos de seu envolvimento em crimes e de infidelidade causam a separação do casal e uma perda de prestígio.

“Mãe da Nação Africana”

Ativista incansável, Winnie Mandela teve uma das carreiras políticas mais importantes da África do Sul, reconhecida como alguém particularmente envolvida com a sua origem.

Em 1976, durante as revoltas juvenis, criou a Federação das Mulheres Negras e a Associação dos Pais Negros, ambas afiliadas ao Movimento da Consciência Negra – organização que rejeitava todos os valores brancos e adotava uma visão positiva da cultura negra. Seu ativismo alevou de volta à prisão, em 1977, seguido de banimento da capital sul-africana.

Dez anos depois, sua oposição ao regime passou a incluir métodos de castigo aos dissidentes, como uso do “colar bárbaro”, que consistia em colocar um pneu ao pescoço da vítima e, com gasolina, atear fogo.

Winnie criou uma milícia particular, travestida de equipe de futebol – o Mandela United Football Club -, que aumentou seu distanciamento dos ativistas anti-apartheid, em 1988.

Mandela livre

Quando da libertação de Mandela, em 11 de fevereiro de 1990, Winnie ainda aparece ao lado do marido, como a “mama” da luta contra o regime – mas, dois anos depois, acontece o divórcio.

E sua vida se transforma ainda mais, por conta de polêmicas que a baniram do CNA e de outras instituições, acusada da morte de um jovem militante, que ela suspeitava ser informante da polícia. Condenada em 1992, teve a prisão comutada em multa.

Em 1993, ao retornar ao cenário político, é eleita presidente da Liga das Mulheres do CNA.

Culpada?!

Durante o governo do ex-marido, em 1994, a ativista ocupa o cargo de ministra das Artes, Cultura, Ciência e Tecnologia, mas é demitida no mesmo ano sob suspeita de malversação financeira.

Em 2001, é condenada a cinco anos de prisão por 43 acusações de fraude e 25 de roubo. Passados três anós, após recurso, é absolvida das acusações de roubo, mas não das de fraude, e tem suspensa a pena de três anos e seis meses de cadeia.

A renúncia à presidência da Liga das Mulheres acontece em 2003, mas não é o fim de sua carreira. Em 2009, é eleita para o Comitê Executivo Nacional do CNA.

“Se eu não tivesse lutado, Mandela não teria existido, o mundo inteiro o teria esquecido e ele teria morrido na prisão como queriam as pessoas que os prenderam.” – Winnie Mandela (em entrevista ao jornal francês Le Journal Du Dimanche, em 2013)

Conheça também a história das Amazonas de Daomé, guerreiras da África Ocidental que formaram o maior exército de mulheres de que se tem notícia!

Fontes: Geledés, Opera Mundi; Folha de Pernambuco

1 comentário em “Winnie Mandela, na linha de frente”

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