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•EDIÇÃO•

A COR DA BELEZA

Misses, modelos, capas de revista, K-belos…

“Ora yê yê ô!”

Eu li em um livro*, escrito no início do século XX, que  o povo negro desapareceu da face da Terra depois que “enlouqueceu” com a descoberta de um produto que não só alisava os nossos cabelos, mas impedia que ele nascesse encarolado. O tal produto – à base de raios omega -, vendido por centavos em todo os Estados Unidos, deixou todos e todas felizes, com  sua dupla “virtude”: ao mesmo tempo que alisam cabelos, esterilizam as pessoas!

Como cá estamos –  existindo, resistindo e re-existindo -, vocês já compreenderam que esta é uma história de ficção – mas não impossível de acontecer. À exaustão, fomos desqualificados sob todos os pontos de vista. E muitos de nós – talvez a maioria, ainda – não conseguem enxergar a própria beleza, dada inclusive a diversidade do belo em nós.

Nada se limita a ter olhos azuis e ser loira – que seja nos cabelos. A beleza negra se manifesta na cor da nossa pele, no nosso sorrir, gargalhar no nosso jeito de andar, caminhar, exalar felicidade da alma. É uma beleza incomparável e múltipla.

Por isso, o abre desta edição é “Ora yê yê ô!”, saudando Oxum, a rainha, a deusa da beleza, a fundadora e primeira sacerdotisa do Culto aos Orixás**.

Sobre “K-belos”, escrito com a letra “k”, é apenas o “semear” de uma nova palavra, como diria o filósofo quilombola Nego Bispo, que fala de mais perto de quem somos e que contém em si, também, a beleza dos nossos cabelos, sempre negada.

A história do belo em nós, da nossa força e da nossa resistência, passa pelos nossos k-BELOS. Ainda estamos compreendendo que “narciso acha feio o que não é espelho” – como canta Caetano Veloso na música Sampa – e resgatando a nossa coroa, o nosso poder.

E é a partir dos artigos sobre os nossos K-belos que propomos a leitura dos nossos pensares este mês.

A edição está linda, potente, é a cor da beleza elevada à milésima potência, com relatos de superação do preconceito, do racismo e da ignorância alheias.

Ao consolidá-la, me senti ainda mais bela.

– a editora

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*O livro é O Presidente Negro, do escritor eugenista Monteiro Lobato, lançado em 1926.

**Do livro Igbadu – A Cabaça da Existência

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