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InícioPioneirismo NegroDjamila Ribeiro, a 1ª negra eleita para a Academia Paulista de Letras

Djamila Ribeiro, a 1ª negra eleita para a Academia Paulista de Letras

A única acadêmica negra da instituição recebe, como “herança”, a cadeira 28, ocupada por Lygia Fagundes Telles até abril de 2022.

Djamila Ribeiro (Imagem: Glamour)
Djamila Ribeiro (Imagem: Glamour)

“Minha luta diária é para ser reconhecida como sujeito, impor minha existência numa sociedade que insiste em negá-la.”

Importante lembrar esta frase da escritora, pesquisadora e mestre em filosofia política Djamila Taís Ribeiro dos Santos ao conquistar, em 24 de maio de 2022,  um lugar na Academia Paulista de Letras, nunca antes ocupado por uma mulher negra!

Como sempre afirma a filósofa:

“É impossível não ser racista tendo sido criado numa sociedade racista. É algo que está em nós e contra o que devemos lutar sempre.”

A academia foi criada em 27 de novembro de 1909 – pasmem! -, com o objetivo de difundir literatura brasileira não-negra, pelo menos até maio de 2022!  Ela obteve 30 dos 39 votos necessários e vai ocupar a cadeira 28, que foi de Lygia Fagundes Telles. 

Emblemática a foto na home do site da Academia Paulista de Letras, com uma maioria esmagadora de homens brancos. São 40 cadeiras, quatro ocupadas por mulheres brancas e uma, agora, por Djamila Ribeiro. 

Aqui, destaque para a sua “profecia”:

“É importante estarmos em todos os lugares. Estarmos contra a maré, no lado da resistência. Precisamos encontrar estratégias e conversar com um número maior de pessoas.”

Acadêmica preta

Autora dos livros O que é Lugar de Fala?Quem tem Medo do Feminismo Negro? e Pequeno Manual Antirracista  – os três traduzidos para o francês, espanhol, italiano e alemão -, tem um trabalho acadêmico, político e intelectual focado na história negra para motivar os brasileiros a praticar ações antirracistas no dia a dia. 

Na sua história, reconhecimento nacional e internacional, com o Prêmio Jabuti 2020, concedido pela Câmara Brasileira do Livro, na Categoria Ciências Humanas, pelo livro Pequeno Manual Antirracista, e o Prêmio Príncipe Claus 2019, na categoria Filosofia, do Reino dos Países Baixos, por suas ações em defesa dos direitos humanos e da justiça social. 

Djamila Ribeiro durante TEDXSãoPaulo em 2016. (Imagem: Jose Roberto Comodo)
Djamila Ribeiro durante TEDXSãoPaulo em 2016. (Imagem: Jose Roberto Comodo)

Além das premiações, em 2018, ela integrou a lista das 100 pessoas negras mais influentes do mundo com menos de 40 anos distinção apoiada pela Organização das Nações Unidas, e, em 2019, recebeu do governo francês o título de Personalidade do Amanhã.

No mercado editorial, criou o Selo Sueli Carneiro e coordena a coleção Feminismos Plurais, da Editora Pólen, com publicações de obras de pensadoras e pensadores negros e indígenas.

Na sua história, reconhecimento nacional e internacional, com o Prêmio Jabuti 2020, concedido pela Câmara Brasileira do Livro, na Categoria Ciências Humanas, pelo livro Pequeno Manual Antirracista, e o Prêmio Príncipe Claus 2019, na categoria Filosofia, do Reino dos Países Baixos, como reconhecimento de sua luta ativista. 

Reflexões

Quem tem medo do feminismo negro?, escrito e publicado em 2018, Djamila aborda as origens do feminismo negro, denuncia o fato de obras sobre questões de gênero raramente contemplarem a situação das mulheres negras e, em 34 artigos, trata de singularidades da discriminação contra as mulheres, em um contexto onde o preconceito racial é presente. 

Com a pergunta no título do livro, a autora quer provocar o debate sobre novas formas de feminismo, modelos alternativos de sociedade, pensados a partir de mulheres negras.

“Precisamos urgentemente repensar o feminismo no contexto brasileiro uma vez que os números são assustadores no nosso país: a cada cinco minutos uma mulher é agredida e a cada onze uma mulher é estuprada”, salienta, lembrando, ainda, a necessidade de equiparação e equidade das mulheres, por exemplo, no mercado de trabalho. 

Djamila Ribeiro durante sua mesa na Flip 2018. (Imagem: Walter Craveiro)
Djamila Ribeiro durante sua mesa na Flip 2018. (Imagem: Walter Craveiro)

O que é Lugar de Fala?, de 2016, discute diversas questões relacionadas ao feminismo negro e lugar de fala, a partir da visão de diversas autoras negras, e inclui um pouco da história do feminismo negro, o direito à fala da ótica da mulher negra e relaciona o conceito de lugar de fala à questão de prestígio e desprestígio das classes sociais. Djamila sugere que a apropriação do lugar de fala pelas pessoas pode ser um instrumento contra a discriminação e a opressão.

Já no Pequeno Manual Antirracista, de 2019, em suas 135 páginas, a preocupação em propor ações concretas para estimular o autoconhecimento e a adoção de práticas antirracistas, desconstruindo o racismo estrutural – herança dos tempos da escravidão -, naturalizado na sociedade brasileira. Ela argumenta que não basta autoafirmar-se não racista – a inação contribui para perpetuar a opressão. 

“Não basta só reconhecer o privilégio, precisa ter ação antirracista de fato. Ir a manifestações, apoiar projetos importantes que visem à melhoria de vida das populações negras, ler intelectuais negros, colocar na bibliografia”, explicita, para citar alguns exemplos.

A origem

Djamila nasceu em Santos, no litoral de São Paulo, em 1º de agosto de 1980, e foi através da Casa de Cultura da Mulher Negra, na sua cidade natal, que se percebeu feminista, transformando-se em uma importante voz contemporânea em defesa dos negros e das mulheres. 

Mas a base de sua formação política foi apreendida em casa, ao lado do pai, que era um ativista do movimento negro. Militante, Joaquim José Ribeiro dos Santos ajudou a fundar o Movimento Comunista em Santos e levou os filhos a muitos desses encontros do grupo. 

O debate sobre a questão racial sempre esteve presente na sua criação. O nome da escritora, inclusive, foi retirado de um jornal da militância negra dos anos 1970 chamado Jornegro.

Djamila Ribeiro em entrevista. (Imagem: Christian Parente)
Djamila Ribeiro em entrevista. (Imagem: Christian Parente)

A mestre em filosofia pela Universidade Federal de São Paulo ocupou o cargo de secretária-adjunta da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo em 2016 e, atualmente, é colunista do jornal Folha de São Paulo e da revista Elle Brasil, além de atuar como professora convidada da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Lugar de fala

Sobre a derrubada da muralha na Academia Paulista de Letras, mais de um século depois de sua criação, Djamila Ribeiro, de Milão, na Itália, para o lançamento da edição do Pequeno Manual Antirracista, declarou em entrevista à Revista Elle:

 “Sou a primeira mulher negra a ocupar essa cadeira, mas não venho sozinha. Sei que essa é uma conquista coletiva, de muitas mulheres que sonharam e que lutaram pra que eu ocupasse esse lugar. Conceição Evaristo acabou de me mandar uma mensagem lindíssima: ‘Você é o sonho dos nossos ancestrais’”.

Cadeiras da Academia Paulista de Letras ocupadas apenas por pessoas pessoas brancas. (Imagem: Governo de São Paulo)

Fontes: E-biografia; Correio Braziliense-Letras; Correio Braziliense – entrevista; livro Pequeno Manual Antirracista, de Djamila Ribeiro; Revista Ciências & Ideias- vol. 12, nº4, novembro/dezembro 2021, Academia Paulista de Letras, Notícia Preta

4 comentários em “Djamila Ribeiro, a 1ª negra eleita para a Academia Paulista de Letras”

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