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Maria Odília Teixeira, a primeira médica preta do Brasil

Você já ouviu falar de Maria Odília Teixeira? Imagine o cenário do Brasil no início do século XX, uma época em que as barreiras raciais e de gênero eram ainda mais rígidas. Agora, conheça a mulher que quebrou todas essas barreiras: Maria Odília, a primeira médica negra do país. Sua história não é apenas sobre medicina; é sobre coragem, determinação e a luta incansável contra o preconceito. Vamos mergulhar na vida dessa incrível pioneira.

Uma mulher que não seguia os padrões sócio-raciais do século passado nem os de hoje, que ocupou uma das carteiras da faculdade de medicina do país no ano de 1904.

– por Beth Brusco

Maria Odília Teixeira (Imagem: Reprodução)
Maria Odília Teixeira (Imagem: Reprodução)

Se hoje ter uma médica preta em hospitais e clínicas ainda é incomum, imagine quando Maria Odília Teixeira se forma, em 1909!  E ela vai além: cinco anos depois, se torna a primeira professora preta, na mesma instituição, onde ministra aulas de Clínica Obstétrica, e ousa ainda mais quando se dedica, por meio de estudos, a contestar o racismo científico.

Maria Odília nasce em 1884 – antes da Abolição – e, aos 13 anos, deixa a cidade natal de Cachoeira, na Bahia, e vai para a capital, onde estuda no Ginásio da Bahia, a serviço da elite, dos homens brancos da capital baiana. E sai de lá com o diploma de bacharel em ciências e letras – formação para quem, na época, seguiria a carreira no magistério.  

Neta de uma ex-escravizada, filha José Pereira Teixeira, homem branco, médico, bon-vivant, oriundo de tradicional família baiana bon-vivant, respeitado na cidade, e de Josephina Luiza Palma, mulher preta, Maria Odília  enfrenta um sistema social forjado na escravidão e uma medicina racista para se tornar uma das médicas mais importantes do Recôncavo Baiano. 

Pioneiríssima!!!

Em 1904, quando ingressa na Faculdade de Medicina da Bahia, é a única mulher – e preta –  entre os 48 alunos, um padrão que se repete com todas as mulheres que ingressam naquela instituição até os anos 1920.  

Cem anos depois, o levantamento Demografia Médica do Brasil, publicado em 2020, pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Universidade de São Paulo (USP), mostra que apenas 3,4% dos concluintes de medicina em 2019 se autodeclararam da cor ou raça preta, 24,3% se declararam pardos e 67,1% se declararam brancos. 

Dados recentes do estudo também apontam um leve aumento no número de estudantes negros no curso de medicina no Brasil, em comparação a períodos anteriores: em 2019, o percentual chegou a 27,7%, conttra 26,1% em 2016,  e 23,6% em 2013.

Supremacia banca?!?!?

Desmistificar teorias embasadas no racismo científico é outra das contribuições da nossa pioneira. A médica dedicou parte de sua vida a estudos e dissertações científicas para desconstruir a ideia de supremacia branca como base na ciência e confrontar pensamentos e métodos científicos para justificar o preconceito e a hierarquização das raças. 

Nos últimos anos como aluna de medicina, Maria Odília desenvolve a tese “Algumas considerações acerca da curabilidade e do tratamento das Cirroses Alcoólicas”, tema pouco explorado por mulheres médicas e seu estudo é considerado pioneiro, principalmente por não ter sido fundamentado no racismo científico.

“No século 18, a justificativa religiosa para as diferenças das pessoas perde força. No entanto, seguem as investigações para entender as razões pelas quais as pessoas têm características distintas. Até o século 19, os cientistas se voltavam para a genética a fim de justificar a diversidade entre as pessoas e porque algumas raças merecem e podem ser escravizadas, ter trabalho forçado e ficar tudo bem”, explica a socióloga Letícia Ferreira Netto, em entrevista ao site Uol, daí o estudo de Maria Odília ser considerado pioneiro na época.

Herança ancestral

Maria Odília morre em 1970, aos 86 anos, mas deixa uma herança ancestral gigante de resistência, vanguarda e ensinamentos que, não demora, será mais conhecida. 

Um documentário investigativo cujo título provisório é “Maria Odília: quem é essa mulher?” vai desvelar a história de vida da primeira médica do Brasil.

Maria Odília Teixeira acompanhada de seu marido e dois filhos (Imagem: Reprodução do Acervo Familia)
Maria Odília Teixeira acompanhada de seu marido e dois filhos (Imagem: Reprodução do Acervo Familia)

A produção ainda não tem data prevista para o lançamento. A cineasta  Mariana Jaspe promete holofotes para contrapor-se ao apagamento da sua trajetória na história oficial, misturando passado e presente na busca por Maria Odília, uma mulher ambígua, pioneira e que rompeu barreiras.

“O filme nasce de um encontro muito representativo sobre o que é o Brasil. Mayara dos Santos, hoje historiadora, era estagiária da biblioteca da Faculdade de Medicina da Bahia. Lá, ela se deparou com uma exposição sobre as proeminentes ex-alunas da casa. Exposto ao lado de pomposas mulheres brancas, estava o retrato desbotado de Maria Odília, no alto dos seus 20 anos. A foto datava 1904, mas, 110 anos depois, ninguém na escola de medicina mais antiga do Brasil sabia ao certo quem era aquela mulher“, conta Mariana Jaspe, que assina roteiro e direção.

E segue historiando: “Desafiada pelo mistério, e estupefata com o descaso, Mayara partiu rumo ao passado em uma profunda pesquisa que – pela primeira vez – jogou luz sobre Odília, uma mulher que não seguia os padrões sócio-raciais do século passado nem os de hoje. Nosso filme é sobre essa busca e esse encontro. Em tempos paralelos, Mayara vai descortinar a história de Maria Odília, que surpreende a cada descoberta”.

No auge do sucesso, fez o inesperado ao abandonar a carreira para se dedicar à família,  ocupando um lugar como importante membro da alta sociedade – que sempre rejeitou pessoas como ela.

Maria Odília dominava o francês, o grego e o latim.


Fontes: Vida Brasil Texas, Uol, Istoé, Mundo Negro, Folha de Pernambuco, Hypeness

Abril 2023

Maria Odília Teixeira: Rompendo Barreiras na Medicina Brasileira

Maria Odília Teixeira, nascida em 1884, antes da Abolição da Escravatura no Brasil, trilhou um caminho extraordinário que a levou a se tornar a primeira médica negra do país em 1909. Sua jornada começou em Cachoeira, Bahia, e a levou à Faculdade de Medicina da Bahia, onde se destacou como a única mulher e negra entre seus colegas. Além de sua notável carreira médica, Maria Odília dedicou-se a desmistificar teorias racistas na ciência, contribuindo significativamente para a luta contra o racismo científico. Sua vida é um testemunho da força e da resiliência diante dos desafios impostos pela sociedade de sua época.

Quem foi Maria Odília Teixeira? Maria Odília Teixeira foi a primeira médica negra do Brasil, formada em 1909, e uma pioneira na luta contra o racismo científico.

Qual foi a contribuição de Maria Odília Teixeira para a medicina? Além de ser a primeira médica negra do Brasil, Maria Odília contribuiu para a medicina com estudos que contestavam o racismo científico, promovendo uma visão mais justa e igualitária na saúde.

Como Maria Odília Teixeira enfrentou o racismo e o sexismo em sua carreira? Maria Odília enfrentou o racismo e o sexismo com determinação, superando barreiras sociais e educacionais para se formar em medicina e se tornar professora na mesma instituição, desafiando os padrões sócio-raciais de sua época.

Quais foram os desafios enfrentados por Maria Odília Teixeira ao ingressar na Faculdade de Medicina da Bahia? Maria Odília enfrentou o desafio de ser a única mulher e negra entre os alunos, em um contexto de intensa discriminação racial e de gênero, mas superou essas barreiras com excelência acadêmica e profissional.

Qual é o legado de Maria Odília Teixeira? O legado de Maria Odília Teixeira inclui sua contribuição pioneira à medicina brasileira como mulher negra, sua luta contra o racismo científico e sua inspiração como símbolo de resistência e superação para futuras gerações.

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