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Chiquinha Gonzaga, a militância da maestrina negra e abolicionista

Chiquinha Gonzaga não foi apenas uma compositora talentosa; ela foi uma verdadeira revolucionária na música e na sociedade brasileira. Imagina, no século XIX, uma mulher negra regendo uma orquestra e vendendo partituras para libertar escravizados! Chiquinha quebrou barreiras, compôs a primeira marcha-rancho carnavalesca “Ô Abre Alas” e viveu sua vida com uma coragem que ainda hoje nos inspira. Vamos mergulhar na história dessa mulher extraordinária que, com sua música e militância, deixou uma marca indelével na cultura brasileira.

Chiquinha Gonzaga vendia partituras para comprar cartas de alforria, é autora da primeira marcha-rancho carnavalesca que se tem notícia, “Ô Abre Alas”, de 1899, é também a primeira regente e chorona do Brasil. Pioneiríssima!

Chiquinha Gonzaga: homenagem no Itaú Cultural (Imagem: Instituto Moreira Salles/Divulgação)
Chiquinha Gonzaga: homenagem no Itaú Cultural (Imagem: Instituto Moreira Salles/Divulgação)

Francisca Edwiges Neves Gonzaga, mais conhecida como Chiquinha Gonzaga, nasceu  carioca e viveu 87 anos, entre o dia 17 de outubro de 1847 e 28 de fevereiro de 1935. Compositora, pianista e regente brasileira, foi a primeira chorona, primeira pianista de choro, autora da primeira marcha-rancho carnavalesca que se tem notícia, “Ô Abre Alas“, de 1899, e também a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil.

Não faltaram preconceitos e lutas em sua vida. Filha do casal Jorge Basileu Gonzaga e Rosa Maria Neves de Lima, ele, branco, general do Exército Imperial Brasileiro; ela, negra, de origem humilde, Chiquinha foi discriminada por criar seu filho sozinha, por abandonar dois maridos, por trabalhar, viver da música.

Ativa participante do movimento abolicionista, vendia suas partituras de porta em porta para comprar a alforria de escravizados. Esteve presente também na campanha republicana e em todas as grandes causas sociais do seu tempo.  

Maior personalidade feminina da história da música popular brasileira e uma das expressões maiores da luta pelas liberdades no país, Chiquinha introduz a música popular nos salões elegantes e, em setembro de 1917, após anos de campanha, lidera a fundação da SBAT, sociedade pioneira na arrecadação e proteção dos direitos autorais.  

Infância e Juventude

A menina Francisca é educada em uma família de pretensões aristocráticas. Afilhada de Duque de Caxias, convive bastante com a rígida família de seu pai. Estuda piano com professor particular e aos 11 anos compõe sua primeira música, uma cantiga de Natal intitulada “Canção dos Pastores”.

Ao mesmo tempo, desde cedo, busca sua identificação musical com os sons oriundos da África, frequenta rodas de lundu, umbigada e outros ritmos populares.

Chiquinha jovem
Chiquinha ao 18 anos, 1865. (desconhecido).

Casa-se aos 16 anos com um oficial da Marinha Mercante, marido escolhido por seus pais. Poucos anos depois o abandona,  deixando com ele dois de seus três filhos. Depois, vive com um engenheiro de estradas de ferro com quem teve mais uma filha, que também é criada pelo pai após a separação.

Mulher e música?

Sozinha, com a responsabilidade de criar o filho mais velho do primeiro casamento, Chiquinha sobrevive como professora de piano. A convite do famoso flautista Joaquim Antônio da Silva Callado (1848-1880), passa a integrar o Choro Carioca como pianista, tocar em festas e frequentar o ambiente artístico.

A estreia como compositora se dá em 1877, com a polca ”Atraente”, composta de improviso durante uma roda de choro. Sua vontade de musicar para teatro levou-a a escrever partitura para um libreto de Artur Azevedo, “Viagem ao Parnaso” – a peça foi recusada pelos empresários. E foram muitas as tentativas sem sucesso. Era o século XIX com toda sua discriminação contra a mulher.

chiquinha arquivo funarte
Chiquinha posa para foto. (foto: Arquivo Funarte).

Mas, em 1885, Chiquinha consegue vencer a barreira e musicar a opereta de costumes “A Corte na Roça”, encenada no Teatro Príncipe Imperial. E, em 1889, promove e rege, no Teatro São Pedro de Alcântara, um concerto de violões, instrumento estigmatizado àquela época.

A contribuição decisiva de Chiquinha Gonzaga ao teatro popular é registrada quando ela compõe, em 1912, a burleta de costumes cariocas “Forrobodó”, seu maior sucesso teatral.

Aos 85 anos de idade escreveu a última partitura, “Maria”.

Sua obra reúne dezenas de partituras para peças teatrais e centenas de músicas nos mais variados gêneros: polca, tango brasileiro, valsa, habanera, schottisch, mazurca, modinha etc.

Paixão, preconceito e escândalos

O seu lado libertário não a impediu de estar presente em saraus no Palácio do Catete, a então morada da Presidência da República, no Rio de Janeiro. Chiquinha Gonzaga é uma das responsável, da época, por críticas ao governo e retumbantes comentários sobre os “escândalos” no palácio, pela promoção e divulgação de músicas cujas origens estavam nas danças vulgares e representavam uma quebra de protocolo.

Na vida particular, ela ousou ainda mais: na primeira década do século XX, esteve algumas vezes na Europa, fixando residência em Lisboa por três anos, para proteger-se do falatório por conta de sua  paixão por um jovem de 16 anos quando já tinha 52 anos.

E, também para fugir das más línguas, a maestrina adotou o amante João Batista Fernandes Lage como filho.  Registre-se que ela  nunca assumiu de fato seu romance, que só foi descoberto após a sua morte através de cartas e fotos do casal.

Chiquinha aos 85 anos
Chiquinha aos 85 anos. (Foto: Dedoc).

Chiquinha Gonzaga foi retratada como personagem no cinema e na televisão por atrizes brancas: Regina Duarte, Gabriela Duarte, Bete Mendes, Malu Galli e Rosamaria Murtinho.

Desde 2012, o dia de seu aniversário, 17 de outubro,  é o Dia Nacional da Música Popular Brasileira.

Leia no Sem Mordaça, A Cor  Sempre Roubada 

Fontes:

Wikipédia

www.acordacultura.org

www.chiquinhaginzaga.com

Chiquinha Gonzaga: Pioneirismo Musical e Luta Abolicionista no Brasil

Francisca Edwiges Neves Gonzaga, conhecida como Chiquinha Gonzaga, foi uma compositora, pianista e regente brasileira que viveu entre 1847 e 1935. Filha de um general do Exército Imperial Brasileiro e de uma mulher negra de origem humilde, Chiquinha enfrentou preconceitos e desafios para se estabelecer no mundo da música. Ela se destacou como a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil, a primeira pianista de choro e autora da primeira marcha-rancho carnavalesca, “Ô Abre Alas”. Além de sua contribuição para a música, Chiquinha foi uma ativa participante do movimento abolicionista, utilizando sua arte para comprar a alforria de escravizados. Sua obra e sua vida são símbolos da luta pela liberdade e igualdade no Brasil.

Quem foi Chiquinha Gonzaga? Chiquinha Gonzaga foi uma compositora, pianista e regente brasileira, conhecida por ser a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil e por sua atuação no movimento abolicionista.

Qual foi a contribuição de Chiquinha Gonzaga para o carnaval brasileiro? Ela compôs “Ô Abre Alas” em 1899, considerada a primeira marcha-rancho carnavalesca do Brasil, introduzindo a música popular nos salões elegantes e no carnaval.

Como Chiquinha Gonzaga atuou no movimento abolicionista? Chiquinha vendia suas partituras de porta em porta para arrecadar fundos e comprar cartas de alforria para escravizados, utilizando sua arte em prol da liberdade.

Quais foram os desafios enfrentados por Chiquinha Gonzaga em sua carreira? Como filha de pais de origens sociais distintas e sendo mulher negra, Chiquinha enfrentou preconceitos e lutas, tanto por sua condição racial quanto por sua independência e escolhas pessoais e profissionais.

Qual é o legado de Chiquinha Gonzaga para a música e a sociedade brasileira? Seu legado inclui a rica contribuição para a música popular brasileira, a quebra de barreiras de gênero na música e no teatro, e seu papel como figura central na luta pelas liberdades sociais e abolicionistas no Brasil.

15 comentários em “Chiquinha Gonzaga, a militância da maestrina negra e abolicionista”

  1. Há muito tempo pesquiso bastante sobre vida e obra de Chiquinha Gonzaga porque também sou musicista. Na verdade quem era negra era uma de suas avós (a materna). Sua mãe era filha de negra com branco, portanto mestiça (meio a meio, se é que podemos assim dizer). Francisca, sendo filha de mulher mestiça com homem branco, tinha então 25% de sangue negro herdado de sua avó materna. Apesar de afro- descendente tinha a pele mais clara. Alguns afirmam que TODAS as suas fotos foram "clareadas" para ocultar suas origens, mas acredito que se fosse o caso de ter havido mesmo essa conspiração do 'clareamento' os malucos teriam deixado escapar pelo menos alguma foto. No entanto, em todo esse tempo de pesquisa, nunca encontrei nenhuma foto sequer em que ela tivesse a pele mais escura. Estou dizendo isso não que ela ter a pele mais clara ou mais escura seja relevante para mim… Até concordo que a pele escura seria um fator a mais para agregar causa, mas não era o caso. Só não concordo em 'romantisar um fato em favor de uma causa, por mais nobre que esta seja. O fato é que ela tinha sim tinha origem negra, porém mesmo assim sua pela era mais clara. E ela nem precisava ter a cor da pele mais escura para abraçar a causa porque ela via bem de perto a diferença com que a mãe mestiça era tratada. Voltando a hereditariedade , só pra dar um exemplo, minha avó também era negra e se casou com branco. Apenas um dos meus tios tem a pele mais morena. Como meus outros avós também eram brancos então eu também posso dizer que tenho sangue 25% negro. Finalizando eu posso afirmar que tenho consciência de minha negritude, apesar de minha pele mais clara. Porém imaginem se eu quisesse me auto declarar negra ou parda para fins de cotas em concurso ou vestibular… Seria justo? Também acho que não, mas se eu não posso me declarar assim também não podemos declarar pessoas notáveis como tal apenas para agregar à causa. Um abraço a todos e meu respeito sincero.

      1. Achi o comentário da UNKNOWN interessante…
        Eu sou parda na certidão de nascimento, simplesmente porque meu pai tem a pele branca, cabelos crespos e minha mãe pele vermelha ( descente de india e negro, acho, por causa da minha avó materna que era cabocla) cabelos lisos e pretos . Eu nasci como ela, morena e is cabelos ondulados e cacheados.
        Cono minha mãe, so uma de minhas irmãs, pele bem morena e cabelos bem lisinhos, as outras, brancas e cabelos lisos
        Podemos dizer que elas dao brancas e.eu preta?
        Não, mas sou mestiça sim.
        Minha avó paterna, branca, meu avô paterno cono meu pai, preto de pele branca.
        Ou seja, somos brasileiros, mestiços.
        Na minha família, as tres etnias: indios( por parte de meu avô materno e avó) negros e portugueses ( por parte de avós paternos)
        Eu sou o que, índia ( também discriminado e diminuído a menos que gente- soa chamados indios e ate pouco tempo, considerados incapazes, não votavam), negra ?
        Pela cor da pele poderia até conseguir as cotas, nao sou retinta, pele mais clara, mas dou descendente, ne?
        No caso da Chiquinha Gonzaga, o que me chamou a atenção para ela, foi o fato dela ser mulher muito a frente de seu tempo, ter enfrentado o mundo preconceituoso em que vivia. Separada fuas vezes, naquele século? E ser compositora, fazer marcha de Carnaval, namorar um cara mais jovem que ela, nossa! Se hoje , em pleno séc XXI, ainda tem gente que torce a cara com uma mulher que se relaciona com alguem mais jovem (no caso de homens velhos com meninas jovens é visto como algo positivo), imagina naquele tempo?
        O Talento, a coragem, essas coisas me chamaram a atenção nela e admiração, não me.importando qual a cor de sua pele , suas ascendência ou descendência…

    1. Ela era no máximo parda. O fato de ter ascendência negra não a faz negra. Dizer que ela era negra é um grande exagero e uma tentativa desesperada de se apossar de uma personagem notável em prol de uma causa, mas a troco de que? É notável que há traços negroides nela, mas também é claro que ela não passava de uma mestiça parda, mas negra não.

  2. Unknown, amei seu pensamento! Meu bisavô paterno era negro puro, se casou com mestiça, meu avô era "tipo" Dorival Caíme(negro com feições brancas), se casou com mulher branca pura(olhos azuis e nariz aquilino)e meu pai nasceu mulato, olhos verdes e cabelo carapinha). Eu tb não nego minha origem negra apesar de ter a pele clara, olhos verdes) e não uso este fator para me benefeciar, nem para "dar uma de vítima", porque sou em primeiro lugar humana. O resto não tem a menor relevância! Sou musicista também! Um abraço!

  3. Jaciana Portella, me desculpe, mas guerreira é quem cria seus filhos passando por cima de todas as dificuldades! Ela merece sim a nossa admiração, porque lutou pra exercer seu talento, lutou pelos escravos e não se ďeixou dominar por um casamento arranjado, mas… bem, só Deus na causa, querida!

  4. Jaciana Portella, me desculpe, mas guerreira é quem cria seus filhos passando por cima de todas as dificuldades! Ela merece sim a nossa admiração, porque lutou pra exercer seu talento, lutou pelos escravos e não se ďeixou dominar por um casamento arranjado, mas… bem, só Deus na causa, querida!

  5. Unknown, amei seu pensamento! Meu bisavô paterno era negro puro, se casou com mestiça, meu avô era "tipo" Dorival Caíme(negro com feições brancas), se casou com mulher branca pura(olhos azuis e nariz aquilino)e meu pai nasceu mulato, olhos verdes e cabelo carapinha). Eu tb não nego minha origem negra apesar de ter a pele clara, olhos verdes) e não uso este fator para me benefeciar, nem para "dar uma de vítima", porque sou em primeiro lugar humana. O resto não tem a menor relevância! Sou musicista também! Um abraço!

  6. Unknown, amei seu pensamento! Meu bisavô paterno era negro puro, se casou com mestiça, meu avô era "tipo" Dorival Caíme(negro com feições brancas), se casou com mulher branca pura(olhos azuis e nariz aquilino)e meu pai nasceu mulato, olhos verdes e cabelo carapinha). Eu tb não nego minha origem negra apesar de ter a pele clara, olhos verdes) e não uso este fator para me benefeciar, nem para "dar uma de vítima", porque sou em primeiro lugar humana. O resto não tem a menor relevância! Sou musicista também! Um abraço!

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