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Semana 2 Samba

Leci Brandão e Jamelão

Goles, tragadas e garrafadas de samba

“Ô abre alas! Que eu quero passar!” Já afirmava a maestrina negra Chiquinha Gonzaga no final XIX. Abram alas para o samba – canção, choro, jazz, enredo, de breque, exaltação, partido-alto,de terreiro, sambalanço… não esqueçam Pelo Telefone, o primeiro samba gravado. 

Celebrem Leci Brandão, a primeira mulher negra, homossexual, a integrar a ala de compositores da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, no Rio de Janeiro, nos anos 1970:  Na minha época, a coisa era infinitamente mais difícil. Tínhamos  Dona Ivone Lara no Império Serrano, desde os anos 1960.

E tem, ainda, Grazzi Brasil, a voz preta feminina no Carnaval do Bexiga, da Vai-Vai – feito só conquistado em 2016 para defender o samba da escola paulistana na avenida em 2017. Mas a pioneira do gogó na avenida é Elza Soares.

Uma das figuras mais extravagantes, talentosas e de estilo único na música popular/preta brasileira, em 1969, aceitou o desafio de interpretar um samba-enredo num desfile de Carnaval.

No gogó, sem perder o ritmo, Elza conduziu os integrantes do Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro à vitória, dando à escola o seu quarto título no carnaval carioca.

Ela cantou e encantou passistas, público e jurados interpretando Bahia de Todos os Deuses, de Bala e Manoel Rosa, tornando-se  a primeira mulher e negra a interpretar um samba-enredo em um desfile de escolas de samba.

Não existe gênero musical mais popular do que o samba.

Jorge Aragão, cantor e compositor, costuma dizer que “tudo acaba em samba”. Mas, na verdade, o samba está na raiz da maioria dos ritmos, porque é dialógico, integracionista de pessoas e sons: samba-canção, samba-choro, samba-jazz, samba de breque, samba de enredo, samba de exaltação, samba de partido-alto, samba de roda, samba rasgado, samba moderno, samba quadrado, samba de terreiro, sambalanço, samba-rock… 

Porém, além da multiplicidade de sons, combinações e variações de compasso é pelo samba que o negro busca a liberdade, a força, a resistência, a re-existência – desde sempre. O rádio foi o veículo de afirmação do sambista em busca da profissionalização e a escola de samba a trincheira para defender-se de sua situação marginal, imposta.

Os desfiles de rua – principal atração do carnaval, produto tipo de exportação que movimentou R$ 3,8 bilhões na economia do Rio de Janeiro só em 2020 e gera milhares de empregos –  são resultantes de um processo que envolve a colonização do país, a proletarização de ex-escravizados, a redefinição social do negro no contexto urbano brasileiro e a sua permanente exploração.

Sambistas não eram considerados artistas! E, mesmo depois que conquistaram tal status, os cachês continuaram menores, como se fossem “artistas de segunda”.

Nos enredos das escolas de samba, entretanto, predominava o entoar nossa vida negra, a nossa música, nossa religiosidade, nossas crenças… Era a oportunidade de sermos sujeitos da nossa história, reafirmar  valores,  conectar-se à ancestralidade…. Até que, mais uma vez, se apossaram do nosso existir, estabelecendo as regras para o samba de rua acontecer. 

Nas nossas páginas, nesta edição, ainda,  o samba, da potência ao ato,  Martinho da Vila,  PixinguinhaItamar Assumpção e Jorge Ben Jor, com  goles, tragadas e garrafadas de samba. 

E é isso.

Como sugerem os primeiros versos da música Quem Samba Fica, de Jamelãoo tenor do samba, único em sua trajetória, como  porta-voz, durante 58 anos,  da Estação Primeira Mangueira e intérprete do Brasil,  “quem samba fica, quem não samba vai embora”.

Boa leitura!

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