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Rebeca Andrade: a supremacia preta na ginástica

Brasileira da Grande São Paulo, cidade de Guarulhos, Filha de Mãe Solo, Mulher, Preta, Excelência, Campeã Olímpica, Campeã Pan-americana, Pioneira Ouro, Pioneira Prata, Pioneira Bronze, leva o Funk da Favela para o tablado da Ginástica Artística. E não para por aí, em 2024, se torna a maior medalhista da história do Brasil nas Olimpíadas.

Rebeca Andrade em sua performance que, além de trazer medalha de ouro para o Brasil, fez as emissoras baterem recordes de audiência (Foto: Jonne Roriz/COB)
Rebeca Andrade em sua performance que, além de trazer medalha de ouro para o Brasil, fez as emissoras baterem recordes de audiência (Foto: Jonne Roriz/COB)

– Primeiros Negros

Rebeca Rodrigues de Andrade nasce no século XX para brilhar no século XXI. Ela é de 8 de maio de 1999. Em 2022 se torna a primeira brasileira a conquistar o ouro na categoria individual geral da ginástica artística e promete muito mais nos anos que virão… 

Em 2024, nas Olimpíadas de Paris, aos 25 anos de idade, Rebeca se torna a maior medalhista da história do Brasil nas Olimpíadas – conquista o ouro na final do solo e supera toda a gente branca da nossa história com duas medalhas de ouro, três de prata e uma de bronze. E derrota também outra grande das nossas, a afro americana Simone Biles, o principal nome da ginástica artística, até agora, por uma diferença de 0,033. Rebeca obteve pontuação de 14.166; Simone, de 14.133. Nós vencemos duas vezes!

A jornada

Sua carreira começa em 2012  e nos Jogos Olímpicos de 2020,em Tóquio, no Japão, ela já se torna a primeira ginasta brasileira a ser campeã olímpica e a primeira atleta do Brasil a ganhar duas medalhas numa mesma edição das Olimpíadas. Atleta preta e  também a primeira latino-americana que se sagra medalhista e campeã olímpica na ginástica artística feminina.

feitos inéditos da primeira brasileira a subir ao pódio na ginástica artística, uma das principais e mais completas atletas da modalidade no mundo.

Em 2021, a paulista de Guarulhos amplia seus feitos históricos, no Mundial realizado na cidade japonesa de Kitakyushu e torna-se a primeira brasileira a conquistar duas medalhas em uma única edição do torneio, levando o ouro no salto e a prata nas barras.

No ano seguinte, em outro pioneirismo, conquista o ouro na categoria individual geral – feito que a coloca na posição de primeira ginasta brasileira campeã mundial em duas categorias distintas.

Daianinha de Guarulhos”

Rebeca começa a treinar aos quatro anos de idade no Ginásio Bonifácio Cardoso, em um projeto social de iniciação ao esporte da prefeitura de Guarulhos, cidade da Grande São Paulo. Lá, ela fica conhecida como a “Daianinha de Guarulhos” em alusão à Daiane dos Santos,do “Brasileirinho”, uma de suas ídolas na ginástica, com quem chegou a treinar em 2009.

Em 2012, com apenas 13 anos e em seu primeiro campeonato como profissional, Rebeca conquista o Troféu Brasil de Ginástica Artística, superando ginastas de renome no cenário nacional, como Jade Barbosa e Daniele Hypolito.

Em abril de 2015, estreia nas competições adultas internacionais na Copa do Mundo de Ginástica, na Eslovênia, onde compete nas finais das paralelas assimétricas ficando em terceiro lugar com 12.800 pontos – Medalha de Bronze.

Adulta

Em 13 de maio de 2017, também na Eslovênia, Rebeca conquista sua primeira medalha de ouro nas competições adultas após a prova de salto sobre a mesa.

Nos Jogos Olímpicos de 2020,  a atleta faz história com  uma inédita medalha da ginástica feminina em Olimpíadas. Na disputa do Individual Geral fica com a prata. Já na disputa do salto, é medalhista de ouro – a primeira mulher ginasta campeã olímpica do Brasil e a primeira atleta brasileira com duas medalhas em uma mesma Olimpíada, uma jovem preta.

E Rebeca também brilha, nos Jogos de Tóquio, como porta-bandeira da delegação brasileira na cerimônia de encerramento, em 2020, confirmando a potência negra africana do Brasil.

Ginasta Rebeca Andrade nas olimpíadas de Tokyo 2020 (Imagem: Reprodução)
Rebeca Andrade, Tokyo 2020 (Imagem: Reprodução)

No Mundial de 2021, ultrapassa recordes ao ser a primeira brasileira a conquistar mais de uma medalha em um campeonato mundial de ginástica artística, após tornar-se medalhista de ouro no salto e medalhista de prata nas assimétricas.

No ano seguinte, no Mundial de 2022, a atleta se torna a primeira ginasta brasileira a conquistar o ouro na categoria individual geral.

Campeã olímpica, com dois pódios em Liverpool, Inglaterra, celebra sua jornada, no Mundial de Ginástica Artística com um inédito ouro no individual geral e um bronze no solo

“Eu estou muito orgulhosa de tudo que  fiz na competição, mesmo com os erros eu consegui me manter focada sabendo que vinham outros dias importantes, outros aparelhos importantes também. E eu acho que é disso que o Brasil precisa. Dessa confiança, dessa garra, dessa evolução como equipe. Individualmente eu também estou muito feliz.”
(palavras de uma pioneira profissional preta, que reconhece a sua humanidade)

Com dois pódios, Rebeca repete em Liverpool o número de medalhas conquistadas nas Olimpíadas de Tóquio, capital do Japão, e no Mundial na cidade japonesa de Kitakyushu em 2022.

É fato que, como ela mesma declarou, nem tudo foi perfeito. Um erro no segundo salto da classificatória a tirou da final do aparelho em que é a atual campeã olímpica. E sofreu quedas nas decisões das barras assimétricas e da trave.

Mas, saliente-se, bateu o recorde de finais para uma brasileira, brigando por cinco medalhas. Sem dúvida, suas conquistas na Inglaterra pesaram mais que as suas falhas.

E, detalhe que importa: ela concluiu a temporada sem lesões.

Como Rebeca afirma:

“Qualquer medalha é bonita.”

Em 2023, o foco da nossa atleta e da equipe brasileira é buscar a classificação olímpica durante o Mundial da Antuérpia, na Bélgica, e investir em uma nova coreografia solo.

O “Baile de Favela”, coreografia que a fez brilhar, já chegou ao limite de quatro temporadas. E dela, Rebeca se despediu com o bronze de Liverpool:

“É difícil, porque as pessoas gostaram muito de Baile de Favela e era uma música que eu gostava muito de me apresentar. Eu me identifiquei com ela, pela batida, musicalidade, é uma coisa muito brasileira, acho que por isso eu fazia tão bem e as pessoas gostaram tanto das minhas apresentações. Mas, ao mesmo tempo, eu fico feliz porque é um ciclo que se encerra. Espero muito achar uma música tão boa quanto essa que as pessoas gostem e eu goste de fazer também para ficar mais bonito.”

Chile

A participação de Rebeca Andrade nos Jogos Pan Americanos de Santiago produziu a seguinte reação na atleta:

É surpreendente, porque eu fiz o caminho contrário: primeiro fui aos Jogos Olímpicos, depois a um Mundial e, agora, vou participar dos meus primeiros Jogos Pan-Americanos. Vai ser sensacional.”

É fato. Rebeca conquistou primeiro medalhas de ouro nas Olimpíadas, depois em um Mundial e em outubro, na capital chilena, foi em busca do título inédito na sua primeira participação em jogos pan-americanos.

Ao todo, Rebeca Andrade e companhia somam 15 medalhas olímpicas – ouro e prata da ginasta brasileira -, 41 títulos mundiais – dois dela — e 16 pódios pan-americanos. Rebeca não competiu nem no Pan de Toronto 2015 nem em Lima 2019.

Aos 24 anos, a medalhista olímpica sustenta o título de maior ginasta brasileira – pressão com que a jovem diz lidar com tranquilidade e orgulho.  

Ativismo esportivo

Nascida em uma família humilde de sete irmão, filha de empregada em casa de família, fala com orgulho de mulher preta sobre suas conquistas:

“É para mostrar do que o preto é capaz. Sinto orgulho de levar essa música para o mundo todo. No Brasil, é preciso entender as dificuldades que uma pessoa preta tem de chegar no alto rendimento, de ter oportunidades… Para chegar aqui tive ajuda dos vizinhos, que emprestaram dinheiro, ajudaram com condução, fiquei na casa dos outros… Essa medalha representa toda minha luta. Estou feliz de ser quem eu sou, de fazer história.

Da esquerda para a direita, Yago, Igor, Henrique e Emerson, quadro dos sete irmão de Rebeca. (Foto: Adriano Vizoni/Folhapress)
Da esquerda para a direita, Yago, Igor, Henrique e Emerson, quadro dos sete irmão de Rebeca. (Foto: Adriano Vizoni/Folhapress)

Rebeca, na sua última apresentação, chegou ao ouro com uma apresentação quase perfeita, mas por mais de uma vez comentou suas falhas, de bem com a sua performance: 

“Tive alguns arranca-rabos com ela [a barra], mas segurei firme, fui até o final. Isso é ginastica: estar tão concentrada que você não erra, ou se erra chega até o final. Vejo o quanto estou evoluindo como atleta e é muito importante para mim.”…

Lesões

Uma série de lesões graves atrapalharam a carreira da ginasta. Até Rebeca, nenhuma atleta mulher do Brasil havia subido ao pódio mais de uma vez na mesma edição dos Jogos Olímpicos. E a ginasta fez isso em uma das modalidades mais nobres dos Jogos.

Desempenho como o dela, de ouro e prata em uma mesma edição dos Jogos, é inédito no esporte brasileiro. Cesar Cielo, que temia perder seus recordes mundiais nos 50m e nos 100m livre da natação, acabou perdendo o posto de melhor campanha da história brasileira. Em Pequim-2008, ele levou um ouro e um bronze. Agora, a rainha é Rebeca Andrade.

O protagonismo no esporte brasileiro é de uma mulher preta. Só há Rebeca como maior de todas porque um dia houve Aída dos Santos e outras pioneiras negras, brasileiras e olímpicas que vieram antes.

E pensar que a nossa ginasta mais completa passou por três cirurgias para recompor o ligamento cruzado do joelho nos últimos cinco anos, cada uma delas com recuperações de seis a nove meses!!! 


Rebeca estuda Psicologia na faculdade e contou em entrevista à Universa a fórmula que a ajuda a administrar o desafio de superar suas próprias marcas: acompanhamento psicológico, treinamento em equipe e, quando tem tempo livre, dancinhas no TikTok.

Abaixo, o link de um vídeo da Rebeca fazendo a apresentação:

Grande estrela de Paris

Rebeca chega quebrando recordes nas Olimpíadas 2024 na capital francesa. Nas classificatórias, se torna a primeira brasileira a avançar a cinco finais, liderando a equipe brasileira. O show foi dela, com uma mistura de “End of Time”, de Beyoncé, “Movimento da Sanfoninha”, de Anita e o icônico “Baile de Favela”.

E este é o registro do seu segundo recorde – vale lembrar que Rebeca já é a ginasta mais condecorada do Brasil. Além das três medalhas olímpicas, tem nove pódios em Mundiais – três ouros, quatro pratas e dois bronzes. Ela integra o seleto grupo de dez ginastas que conquistaram medalhas em todas as provas da modalidade em Mundiais.

A somar, em Paris, ainda, a conquista do bronze por equipes, que a empata – em número de medalhas – com outra pioneira negra, a jogadora de vôlei Fofão, a primeira mulher a treinar uma seleção brasileira de vôlei.

A medalha de bronze – inédita por equipes na ginástica artística – leva Rebeca Andrade ao terceiro pódio nos Jogos Olímpicos – os dois primeiros foram a prata no individual geral e o ouro do salto em Tóquio.

O bronze foi uma conquista em equipe, ao lado das ginastas Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Júlia Soares e Lorrane Oliveira. Mas foi Rebeca quem superou a nota de Simone Biles no salto, chegando aos 15.100 contra os 14.900 da afro-americana.

Simone e Rebeca

No 1° de agosto de 2024, duas mulheres africanas nascidas nas Américas, uma no norte e a outra no sul, disputam o ouro nas Olimpíadas de Paris. Elas são as melhores da ginástica artística e existe uma “torcida” para que se reconheçam como “rivais”. Mas estamos aprendendo que, entre nós, ninguém solta a mão de ninguém.

Não é de hoje que elas se inspiram e fortalecem, uma com a outra. Desta vez, na disputa da final do individual geral, Simone Biles acabou melhor avaliada do que Rebeca Andrade no salto – 15.766 pontos contra 15.100. Simone ficou com o ouro e Rebeca com a prata.

O salto Biles II – considerado o mais difícil do mundo – tem uma pontuação altíssima. Por isso, Simone teve um resultado melhor, apesar de não ter feito uma execução perfeita. O Biles II é um Yurchenko duplo carpado, cuja a nota de partida é 6.4, consiste em uma entrada de costas na mesa e um duplo mortal carpado. Já Rebeca optou por um Chang, que começa ser avaliado em 5.6, e também é uma entrada de costas com uma pirueta.

A conquista da medalha de prata no individual geral de ginástica artística tornou Rebeca Andrade a maior medalhista olímpica entre as mulheres do Brasil, uma mulher negra – enfatize-se.

Após a conquista, a ginasta declarou que foi sua despedida das competições de individual geral:

“Exige muito do meu corpo, principalmente das minhas pernas, dos meus joelhos e de tudo mais. Eu sempre falo que o futuro a Deus pertence. Vai que, do nada, se meu corpo melhorar, eu mude de ideia. Queria muito que hoje fosse uma competição especial pra mim e foi. Porque, pra mim, foi o meu último individual geral”.

E, registre-se – de novo – que, nas Olimpíadas de Paris, Rebeca se tornou a maior medalhista da história do Brasil nas Olimpíadas, conquistando medalha de ouro na final do solo, a somar-se às suas outras medalhas de ouro, prata e bronze, seis no total. E, ainda, derrota Simone Biles, o principal nome da ginástica artística até então, por uma diferença de 0,033. Rebeca obteve pontuação de 14.166; Simone, de 14.133.

Resumindo: Elas são GRANDES, GIGANTES, e nos fazem GRANDES, GIGANTES. Nos ensinam sobre perseverança, superação e, principalmente, auto respeito. Nós vencemos duas vezes!

$$$$

De acordo com levantamento feito pelo jornal Folha de S. Paulo, Rebeca Andrade é a atleta brasileira mais requisitada por marcas nos Jogos Olímpicos – a pesquisa ouviu diversas agências de publicidade do Brasil, representantes e nomes importantes do esporte no país.

Além de possuir a Volvo, Havaianas e Parmalat associadas ao seu nome em Paris, Rebeca também fez ao longo dos últimos meses trabalhos pontuais com marcas como Adidas, Panasonic, Riachuelo, Medley, Invisalign, Sankhya, Vult e Bradesco.

Capa da Vogue

E 2024 seguiu com os holfofotes na ginasta mais condecorada com medalhas olímpicas do Brasil e única mulher na lista dos 10 maiores medalhistas olímpicos brasileiros. Rebeca Andrade é a estrela da #VogueOutubro – que marca a sua segunda capa para a revista.

Capas de outubro de 2021 e outubro de 2024 da revista Vogue Brasil protagonizada pela ginasta Brasileira Rebeca Andrade.
Rebeca Andrade estampando a capa da Vogue de outubro de 2021 e outubro de 2024 (Imagem: Mariana Maltoni para Vogue Brasil | MAR+VIN para Vogue Brasil)

Fontes: GE – Blog Olímpico, Rede do Esporte, Uol – Olhar Olímpico , Uol – Universa, Wikipedia, Folha de S. Paulo – Instagram, Folha – Uol, GE – O Globo, Jornal O Globo – Instagram, Sports Center Brasil – Instagram, GE – Globo, Terra, BNews, FSP 5/8/2024

Escrito em agosto de 2023, atualizado em 12 de outubro de 2024

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