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Aída dos Santos, leoa no Japão

Você já ouviu falar de Aída dos Santos? Nascida em uma favela do Rio de Janeiro, essa incrível atleta se tornou a única mulher negra a representar o Brasil na modalidade de atletismo nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964. Sem treinador, sem material esportivo adequado e enfrentando barreiras raciais e de gênero, Aída não apenas competiu, mas também alcançou a final, garantindo o quarto lugar no salto em altura. Sua história é um verdadeiro salto de superação e determinação. Vamos mergulhar na jornada inspiradora dessa leoa olímpica.

Cinquenta e sete anos se passaram desde o feito desta velocista olímpica na mesma Tóquio, agora 2021: um salto não só em altura, mas no tempo.

Aída dos Santos (Imagem: Reprodução)
Aída dos Santos (Imagem: Reprodução)

Primeiro de março de 1937, favela do Morro do Arroz, subúrbio de Niterói, Rio de Janeiro, nasce Aída Menezes dos Santos sem saber que, menos de 30 anos depois, seria “a leoa de Tóquio”, a única mulher e negra da delegação brasileira de Atletismo de uma equipe de 68 pessoas. 

Na mesma capital japonesa, palco dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2021, Aída dos Santos, em 1964, derrubou as barreiras raciais e de gênero, chegando para a disputa com os títulos de campeã estadual, campeã brasileira, sul-americana e campeã pan-americana de salto em altura.

Cara a cara com a ditadura

As Olimpíadas de Tóquio começaram em 10 de outubro de 1964 – poucos meses após o golpe militar no Brasil

Minutos antes do embarque da delegação, um militar deteve o boxeador Waldemar Zumbano. O motivo? Suposta filiação ao Partido Comunista do Brasil (PCB). O então presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), o ex-atleta e major Sylvio de Magalhães Padilha, diante da situação, ameaçou: “Ou você solta o Zumbano agora ou ninguém viajará para os Jogos Olímpicos. E o mundo inteiro saberá a razão”.

O confronto garantiu a ida da equipe ao Japão

O foco de Aída não era a política, estava focada nos treinos, por conta de suas dificuldades, inclusive financeiras, para existir como atleta. Dos requisitos essenciais para participar dos Jogos constavam: material esportivo, uniforme, treinador, conhecimento de algumas palavras em inglês ou japonês… Mas o único que ela carregava era a coragem.

“Eu vivia chorando… Como competir… representar o meu país… sem um técnico? Como treinar sem material?… Batia uma tristeza… Mas eu fui à luta”, recordou Aída, certa vez.. 

Campeã no 4º lugar

Sem calçados próprios, alimentação adequada para a prática esportiva e comunicando-se por mímica – por não falar outro idioma a não ser o português -, Aída machucou os pés durante os treinos.

Sua situação sensibilizou um integrante da delegação cubana que a ajudou a improvisar uma tala de esparadrapo. Uma marca esportiva, também, disponibilizou, para ela, sapatilhas para corredores da modalidade de 100m, que não eram apropriadas para a sua especialidade, mas, sem dúvida, melhores que calçado nenhum.. 

Aida dos Santos, 1964.
Aida dos Santos, 1964. (Foto: AE/Estadão).

Mesmo em desvantagem emocional e profissional, Aída dos Santos foi a única mulher negra a chegar na final, em quarto lugar, com o recorde brasileiro de 1,74m.

Seu desempenho foi o melhor resultado individual de uma mulher brasileira nos Jogos Olímpicos durante 32 anos. Aída é a mulher negra a chegar mais perto do pódio. 

O encontro 

Aída conheceu o atletismo por acaso. Sempre aproveitava caronas de bicicleta de uma amiga para se locomover e foi desafiada a iniciar-se no atletismo para não perder o lugar na garupa. E ela aceitou, surpreendeu e surpreendeu-se!

Mesmo sem nunca ter treinado antes, o resultado foi impressionante. A modalidade individual salto em altura tem como objetivo saltar e ultrapassar, sem derrubar, uma barra em determinada altura. Pois Aída atingiu 1,40m, apenas 5 metros a menos que o recorde estadual de 1,45m! 

O seu lugar

Mas seu feito não impressionou a família. De origem pobre – pai carpinteiro e mãe lavadeira -, Aída, por diversas vezes, foi desencorajada a seguir no esporte. ‘Esporte não enche barriga’, ouvia seu pai dizer toda vez que esboçava seu desejo pelas quadras e pistas.

No início, o vôlei era a sua paixão, mas o confronto com o racismo na modalidade a afastou das redes. Quando participava de campeonatos escolares em Niterói, ela era a única negra. E – “naturalmente” – eram para ela os insultos da arquibancada: ‘sai daí, crioula’, ‘o seu lugar é na cozinha!’… 

Aída aguentou firme, mas não calada. Ao término de uma das partidas, pediu o microfone e declarou: 

“Realmente, o meu lugar é na cozinha, na sala, na varanda, e é também em uma quadra de esportes!”

Não bastando os embates em quadra, havia os domésticos, os confrontos em família, como contou em entrevista para o podcast do Globo Esporte:

“Meus pais nunca me viram competir. Quando eu chegava em casa com medalha, meu pai perguntava: ‘cadê o dinheiro?’ E me batia, dizendo que pobre tinha que trabalhar para ajudar no sustento da casa.”

Salto na vida

O esporte, na vida de Aída dos Santos, agregou garra à sua existência, serviu de impulso para outras conquistas. A atleta cursou Pedagogia na Universidade Gama Filho e Educação Física na Universidade Federal do Rio Janeiro (UFRJ). Tornou-se preparadora e professora de Educação Física, especializada em natação e atletismo

Seu terceiro diploma universitário é em Geografia. 

Pode-se dizer que o outro nome de Aída é superação. Em 1972, competiu grávida.

Aida dos Santos Botafogo.
Aida dos Santos aos treinos com o uniforme do Botafogo. (Foto: Felício Safadi/Folhapress).

Ao recusar o convite da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) para atuar na entidade, pediu uma bolsa de estudos e viabilizou o estudo de dez meninas nos Estados Unidos, incluindo uma de suas filhas. 

Quem sai aos seus… 

Diferente de seus pais, Aída incentivou seus filhos – três ao todo – para que seguissem a mesma carreira ou, ao menos, interagissem com esse universo. E um dos frutos da sua jornada é a campeã olímpica de vôlei Valeska Menezes.

A Valeskinha, posição central da Seleção Brasileira de Vôlei, é quarto lugar nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, e medalha de ouro nos Jogos de Pequim, em 2008. 

Sempre uma estrela

Ao completar 84 anos, em março de 2021, Aída agradeceu as felicitações e sentiu-se presenteada ao receber a primeira dose da vacina contra a pandemia do coronavírus, que assola o mundo desde março de 2020.

Aida dos Santos, aos 83 anos, com sua coleção de medalhas conquistadas. (Foto: Ricardo Borges/Folhapress, 2020).
Aida dos Santos, aos 83 anos, com sua coleção de medalhas conquistadas. (Foto: Ricardo Borges/Folhapress, 2020).

A atleta continua frequentando os treinos e recebendo homenagens. 

Em junho de 2021, foi eternizada pelo artista plástico Rodrigo Pedrosa, com um busto em bronze, escultura que ficará na sede do Botafogo, time que representou algumas vezes em quadra. 

Mãe e filha, como forma de incluir socialmente crianças de 7 a 10 anos em situação de vulnerabilidade, mantêm o Instituto Aída dos Santos, que combina ações sociais e esportivas.

Conheça a história de Adhemir Ferreira da Silva, pioneiro no salto triplo nas olimpíadas.

Fontes:

COB-Tóquio1964, Cob-Aída, Mulheratleta, Rede do Esporte, Torcedores.com, Wanderlei Oliveira, Medium.com, Youtube, Em todo lugar, GloboEsporte-Tóquio1964, GloboEsporte-vacina, GloboEsportre-única, Webrun, FogaoNet.

Aída dos Santos: A História de Superação da Leoa Olímpica de 1964

Aída dos Santos, nascida em 1º de março de 1937, desafiou as expectativas desde o início, emergindo de condições humildes para se tornar uma das atletas mais notáveis do Brasil. Em 1964, ela fez história ao se tornar a única mulher negra na equipe de atletismo brasileira nos Jogos Olímpicos de Tóquio, competindo sem o apoio de um treinador ou equipamento adequado. Apesar dessas adversidades, Aída alcançou a final do salto em altura, terminando em um impressionante quarto lugar. Sua trajetória não apenas quebrou barreiras raciais e de gênero, mas também estabeleceu um novo padrão para as atletas brasileiras nas décadas seguintes.

Quem é Aída dos Santos? Aída dos Santos é uma ex-atleta olímpica brasileira, conhecida por ser a única mulher negra na delegação de atletismo do Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964, onde competiu no salto em altura.

Qual foi o desempenho de Aída dos Santos nas Olimpíadas de 1964? Aída dos Santos alcançou a final do salto em altura nas Olimpíadas de 1964, terminando em quarto lugar, o melhor resultado individual de uma mulher brasileira nos Jogos Olímpicos por 32 anos.

Quais foram os principais desafios enfrentados por Aída dos Santos? Aída enfrentou desafios significativos, incluindo a falta de um treinador, material esportivo inadequado, barreiras raciais e de gênero, além de dificuldades financeiras.

Como Aída dos Santos começou no atletismo? Aída foi introduzida ao atletismo quase por acaso, após aceitar um desafio para manter seu lugar na garupa da bicicleta de uma amiga, revelando um talento natural para o salto em altura.

Qual é o legado de Aída dos Santos?] O legado de Aída dos Santos inclui sua contribuição pioneira ao esporte brasileiro como mulher negra, inspirando futuras gerações de atletas a superar barreiras e alcançar seus sonhos, independentemente das adversidades.

2 comentários em “Aída dos Santos, leoa no Japão”

  1. Pingback: Olimpíadas, questão de gênero e raça • Primeiros Negros

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