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Deixa Falar, a primeira escola

Você sabia que a história das escolas de samba começou com a “Deixa Falar”? Sim, essa foi a pioneira, fundada por Ismael Silva no bairro carioca do Estácio. Imagine o cenário do Rio de Janeiro em 1928, quando o samba ainda buscava seu espaço e identidade. “Deixa Falar” não foi apenas uma escola de samba; foi um movimento, uma declaração de que o samba tinha muito a ensinar. Vamos mergulhar na história dessa instituição revolucionária e entender como ela moldou o carnaval que conhecemos hoje.

Um olhar crítico à evolução das escolas de samba a partir da pioneira, que sonhava ser bloco ou rancho carnavalesco.

"Deixa Falar", que anos depois se tornou "Estácio de Sá" foi a primeira escola de samba do país (Foto: Reprodução)
“Deixa Falar”, que anos depois se tornou “Estácio de Sá” foi a primeira escola de samba do país (Foto: Reprodução)

Doze anos depois do primeiro samba, Pelo Telefone, de 1916, surge a primeira escola de samba, batizada Deixa Falar – criada no bairro carioca do Estácio, pelo sambista Ismael Silva.

Por que escola?

Por a Deixa Falar estar geograficamente localizada próxima a uma escola pública que tinha curso Normal e, principalmente, porque Ismael Silva acreditava que seu grupo formaria professores do samba.

Ele gostava de repetir:

 “Deixa falar, nós também somos mestres. Somos uma escola de samba!

Mas a primeira escola de samba não chegou a desfilar ostentando a categoria de escola de samba como conhecemos hoje.

Bloco

A ideia original, de Ismael Silva, era formar um bloco carnavalesco diferente, em que os participantes pudessem dançar e, ao mesmo tempo, evoluir ao ritmo do samba estas as bases do que seria uma escola de samba legítima.

Mas havia o grupo de Oswaldo da Papoula, outro dos fundadores, que queria criar um rancho carnavalesco, com enredo, evoluções, destaques e bailados estranhos ao samba.

Ismael e Osvaldo estavam em lados opostos e encontraram um caminho do meio.

O grande Ismael Silva, com seu violão, na Festa da Nossa Senhora da Penha (Imagem: Reprodução)
O grande Ismael Silva, com seu violão, na Festa da Nossa Senhora da Penha (Imagem: Reprodução)

Em metade de sua pequena história, a Deixa Falar desfilou entre os ranchos, no concurso organizado pelo Jornal do Brasil, primeiro com o enredo “O Paraíso de Dante” e, depois, com “A Primavera e a Revolução de Outubro“.

Quer dizer, foi bloco e rancho carnavalesco, mas entrou para a história como escola de samba e, hoje, rebatizada como Estácio de Sá, se auto proclama “berço do samba”.

A marca

A Deixa Falar não chegou a ostentar seu vermelho e branco no primeiro concurso oficial das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, organizado em 1932, mas Bide, sambista da escola, em 1929, participou de Na Pavuna, a primeira gravação em disco em que foram usados marcação e instrumentos típicos de uma escola de samba – sem banda ou orquestra para fazer a base.

No mesmo 1929, tempo em que o samba ainda era marginalizado, foi organizado um concurso para escolher o melhor grupo de sambistas da cidade. A Deixa Falar participou, mas acabou desclassificada por usar instrumentos de sopro na apresentação.

Nos anos seguintes, 1930 e 1931, o concurso não aconteceu. E após o carnaval de 1932, divergências sobre os gastos da subvenção oferecida pela prefeitura e acusações de corrupção decretaram o seu fim.

Da esquerda p/direita: Nelson do Cavaquinho, Osmar Frazão, Waldomiro de Oliveira,  Ismael Silva (compositor e fundador da Deixa Falar) e Bahianinho (Imagem: Diário do Osmar Frazão - Nata do samba)
Da esquerda p/direita: Nelson do Cavaquinho, Osmar Frazão, Waldomiro de Oliveira, Ismael Silva (compositor e fundador da Deixa Falar) e Bahianinho (Imagem: Diário do Osmar Frazão – Nata do samba)

Deixa Falar se funde ao bloco União das Cores, depois União do Estácio de Sá. Mas, a esta altura, o seu samba moderno já estava impregnado na cidade.

E muitos blocos passaram a adotar a denominação “escola de samba“, assimilando alguns elementos propostos pela pioneira, como a presença da cuíca – pequeno barril a que se prende em uma das bocas uma pele bem estirada – e do surdo no samba, invenção de membros da escola.

O dono do ritmo

Na bateria de uma escola de samba há três tipos de surdo – e o instrumento é invenção de membros da Deixa Falar. O maior – chamado primeiro surdo ou surdo de marcação – tem cerca de 75 cm de diâmetro, é o mais grave e fornece a referência de tempo para todos os ritmistas.

O segundo surdo, um pouco menor (cerca de 50 a 60 cm de diâmetro) e menos grave que o primeiro é chamado também de surdo de resposta. E o terceiro surdo ou cortador, o menor de todos, com cerca de 40 cm de diâmetro, toca em ritmo mais sincopado, cortando os tempos marcados pelos outros dois surdos.

É a combinação dos três surdos que fornece a célula rítmica de base para toda a escola de samba.

Ascensão (?!) do Carnaval

Os anos 1930 são um marco na história do carnaval e das escolas de samba.

É de 1932, o primeiro baile carnavalesco no Teatro Municipal e o primeiro concurso entre as escolas de samba na Praça Onze, promovido pelo jornal Mundo Sportivo.

Quer dizer, há controvérsia sobre o primeiro concurso entre escolas de samba: respeitando-se a tradição oral, o ano é 1931, sob patrocínio de jornais pequenos; respeitando-se o poder constituído é 1933, ano em que a Prefeitura assume oficialmente a festa.

Mas não sobram dúvidas quanto ao preço que se paga pela ajuda financeira com dinheiro público. É a partir daí que ‘escola de samba’ vira ‘grêmio recreativo’ por influência (ou imposição) de um delegado de polícia. É a partir daí que todos são “convidados” a colaborar com a propaganda patriótica, eminentemente ufanista do governo, com enredos que estimulem o amor pelo Brasil, seus símbolos e glórias?!

Sob correntes

Nos desfiles, é exaltada a chegada da família real, os maus feitos de Isabel, a princesa da abolição, o baile imperial! E outros tristes fatos da nossa história.

Mas tudo em prosa e verso, na cadência do samba enredo, que transforma os morros cariocas em “verde colina” e “cenário encantador”, “jóia rara” sob o “céu azul” que “resplandece” e faz surgir “gigantes” cheios de “riqueza” repletos de “natureza” – palavras e rimas usadas à exaustão por décadas!

Armando Marçal, Paulo Barcellos e Bidê, fundadores da Deixa Falar, entre as pastoras (Imagem: Reprodução)
Armando Marçal, Paulo Barcellos e Bidê, fundadores da Deixa Falar, entre as pastoras (Imagem: Reprodução)

Assim, os enredos que falavam de nosso existir foram substituídos por temas nacionais, segundo normas cada vez mais restritivas nos regulamentos, como a obrigatoriedade da ala das baianas – hoje receptivo do Brasil para o turismo internacional.

Em síntese, a liberação de dinheiro público para escolas de samba fez emergir a indústria do carnaval, sob correntes para os negros, com uma maioria branca no controle.

Principal atração do carnaval, o desfile das escolas de samba, só em 2020, movimentou R$ 3,8 bilhões na economia do Rio de Janeiro, gerando milhares de empregos e, perpetuando, um processo que, na origem, envolveu a colonização do país, a proletarização de ex-escravizados, a redefinição social do negro no contexto urbano brasileiro e a sua permanente exploração.

Coisas do Brasil

A escola de samba surgiu num tempo em que negro com instrumento de tarraxa na mão – um pandeiro, um tamborim… -, mesmo que silencioso, era levado para prisão e indiciado por crime de vadiagem. A polícia não dava trégua. Mesmo assim, a Deixa Falar, foi fundada na casa de um sargento, pai de sambista, no dia 12 de agosto de 1928.

E, até hoje, os quatro dias de carnaval são o salvo conduto para o existir negro, representam, alegoricamente, o status negado o ano inteiro. A sociedade – que ainda nos olha como desordeiros, marginais, nos vê lindamente trajados, organizados e não resistem em nos aplaudir.

A polícia – que prendia qualquer um de pele escura que segurasse um instrumento com tarraxa e hoje nos sufoca com seus joelhos – abre alas para que o povo preto, reunido, em massa, desfile, sambando e cantando…

Mas que ninguém se iluda – apesar de toda invasão da branquitude – o samba não é mera expressão musical e, sim, instrumento efetivo de luta para afirmação do povo negro na vida brasileira.


Fontes: Brasil Escola; TV Brasil

Deixa Falar: A Escola que Ensinou o Samba a Desfilar

“Deixa Falar”, fundada em 1928 por Ismael Silva, marcou a história do carnaval brasileiro como a primeira escola de samba do país. Localizada no Estácio, Rio de Janeiro, a escola nasceu da vontade de criar um bloco carnavalesco onde o samba fosse a estrela. A escolha do nome “escola de samba” veio da proximidade com uma escola pública e da ideia de que seriam “professores do samba”. Embora tenha desfilado entre os ranchos carnavalescos com enredos como “O Paraíso de Dante”, a “Deixa Falar” entrou para a história como a precursora das escolas de samba, influenciando a estrutura e os elementos que hoje caracterizam essas agremiações. Com o tempo, transformou-se na “Estácio de Sá”, mas deixou um legado indelével, sendo reconhecida como o “berço do samba”.

Quem fundou a “Deixa Falar”? Ismael Silva foi o fundador da “Deixa Falar”, a primeira escola de samba do Brasil.

Por que “Deixa Falar” é considerada a primeira escola de samba? “Deixa Falar” é considerada a primeira escola de samba por introduzir um formato inovador de bloco carnavalesco focado no samba, dando origem ao conceito de escola de samba como conhecemos hoje.

Onde estava localizada a “Deixa Falar”? A “Deixa Falar” estava localizada no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro.

Qual foi o primeiro enredo apresentado pela “Deixa Falar”? O primeiro enredo apresentado pela “Deixa Falar” foi “O Paraíso de Dante”.

O que aconteceu com a “Deixa Falar”? Com o tempo, a “Deixa Falar” evoluiu e foi rebatizada como “Estácio de Sá”, continuando sua tradição no carnaval carioca e mantendo-se ativa como uma das escolas de samba mais importantes do Rio de Janeiro.

2 comentários em “Deixa Falar, a primeira escola”

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