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Os olhos coloridos dos pretos

Você já parou para ouvir com atenção a música “Olhos Coloridos”? Essa canção, que se tornou um hino do orgulho negro no Brasil, carrega uma história poderosa de resistência e afirmação da identidade negra. Composta por Macau após uma experiência dolorosa de racismo, a música é um convite à reflexão sobre a diversidade e a riqueza cultural brasileira, celebrando a beleza dos traços afro-brasileiros. Vamos mergulhar na história dessa canção e entender como ela se tornou um marco na luta contra o racismo.

Na música considerada um símbolo do orgulho negro no Brasil, que surgiu de caso de racismo vivido por Macau*, seu compositor, uma oportunidade de roda de conversa para debater políticas públicas contra a violência da polícia.

Osvaldo Rui da Costa (Imagem: Gui Ribeiro / Divulgação)
Osvaldo Rui da Costa (Imagem: Gui Ribeiro / Divulgação)

“Os meus olhos coloridos
Me fazem refletir
Eu estou sempre na minha
E não posso mais fugir

Meu cabelo enrolado
Todos querem imitar
Eles estão baratinados
Também querem enrolar

Você ri da minha roupa
Você ri do meu cabelo
Você ri da minha pele
Você ri do meu sorriso

A verdade é que você (e todo brasileiro)
Tem sangue crioulo
Tem cabelo duro
Sarará crioulo”

Assista Olhos Coloridos, de Macau, com Seu Jorge e Sandra de Sá ou só com Sandra de Sá.

*Nascido Osvaldo Rui da Costa, ganhou o apelido de “Macau” por causa dos olhos apertados quando ri que o fariam ficar parecido com um chinês. Daí, o nome da antiga colônia portuguesa na Ásia.

Macau participou da banda Paulo Bagunça e da Tropa Maldita, que gravou um LP em 1973.

A história da música

“Olhos coloridos”, célebre na voz de Sandra de Sá desde os anos 1980, nasce do racismo policial. Macau, o compositor, fez letra e música na década de 1970, após ser preso pela Polícia Militar do Rio de Janeiro em uma exposição de escolas públicas no Estádio de Remo da Lagoa.

Macau morava na Cruzada São Sebastião, no Leblon, na zona sul do Rio, onde, antes, era a Favela da Praia do Pinto, destruída em um incêndio em 1969.

Como o álbum que havia gravado não estava fazendo sucesso, Macau estava deprimido. Na tentativa de animá-lo, um amigo o levou para ver a exposição. E ele foi.

Com roupas simples e cabelo black power, não demorou, foi interpelado por um PM para averiguação. Dentro de uma sala, um sargento baixinho olhou para Macau e começou a “conversa”:

“Eu estou vendo você lá de baixo, você não é fácil, hein? Você ri demais, fala demais”.

Mas não parou por aí: começou a falar da roupa, do cabelo:

“Você mora naquela lama ali, cheia de bandido” – acusou.

Macau, na defesa, reagiu: “Bandido não, ali não tem bandido. Eles são moradores da Cruzada São Sebastião”.

E o tal sargento completou:

“É isso mesmo. Tudo pobre, tudo favelado, essa coisa toda, tudo negro“.

Macau denunciou o preconceito, a discriminação, chamou atenção: “O sangue que corre na sua veia, corre na minha veia também. É vermelho”.

‘Alma ferida’

Macau foi preso e colocado em um camburão às 3 horas da tarde e só chegou à delegacia 1 hora da madrugada. Ficou no veículo, que circulou por toda a cidade, prendendo pessoas e mais pessoas.

Depois, todos foram encarcerados: “Era uma escuridão, eu sendo esmagado, me senti dentro de um porão. Fiquei muito mal, fragmentado, com a alma ferida”.

E assim todos passaram o resto da noite, em uma cela apertada. Macau, ao lado de um vaso sanitário, agachado por causa da falta de espaço.

No dia seguinte, padre Bruno Trombetta, da Pastoral Penal da Igreja Católica, conseguiu a soltura de Macau que, revoltado, querendo explodir, foi caminhar sozinho na praia…

Nasce a canção

Diante do mar do Leblon, ele chorou e compôs a letra, o seu desabafo. “Eu comecei a olhar o mar e veio, de forma única, o texto dos ‘Olhos coloridos’, inteiro. Eu corri para casa, peguei o violão e comecei a tocar a canção”.

Em 1974, Macau gravou a música em uma fita. E ela só se tornou conhecida nas mãos de Sandra de Sá em 1982, estourando nas rádios.

“Não é à toa que ela é chamada de rainha da soul music brasileira. Ela tem raça. Toda vez que eu a escuto cantando a minha música, eu também fico emocionado. É sempre novo, é sempre uma luz”, elogia Macau.

O hino

Para Sandra, “Olhos Coloridos” é mais do que uma música que fala de negritude. Para a intérprete, ela pertence a todos.

“É um hino do povo brasileiro. Afinal de contas, quem é quem no povo brasileiro? Quem pode se definir como uma coisa, e não outra?”, reflete Sandra.

Para Luciana Xavier, jornalista e pesquisadora de música brasileira, “é uma canção repetida à exaustão porque tem uma mensagem muito forte, que afirma a identidade negra por meio da valorização da beleza do ‘cabelo duro, sarará’”.

Segundo Luciana, ao mesmo tempo, a música mobiliza e denuncia o racismo, avisando que a mesma pessoa que ri do negro também ‘tem sangue crioulo’, que é o maior paradoxo brasileiro.

“É uma música que prega a conscientização, é uma denúncia contra o racismo, mas também é um elogio à mestiçagem, que faz a canção funcionar em vários contextos e ser adotada por vários grupos”, afirma a pesquisadora.

Como artigos de apoio para a prática, leia também, em primeirosnegros,com:
Brasil e Estados Unidos, o racismo nosso de cada dia
Samba, da potência ao ato
As leis e o racismo
Os caminhos da exclusão
Racismo Institucional


Fonte: G1

Olhos Coloridos: A Canção de Macau que Celebra a Identidade Negra e Desafia o Racismo

“Olhos Coloridos” é uma música emblemática na voz de Sandra de Sá, que surgiu de uma experiência pessoal de racismo enfrentada por seu compositor, Macau. Na década de 1970, após ser injustamente preso pela Polícia Militar do Rio de Janeiro devido à sua aparência e local de moradia, Macau canalizou sua dor e frustração na criação dessa obra. A música aborda temas como a valorização da estética negra, a crítica ao preconceito racial e a celebração da mestiçagem brasileira. Com sua mensagem de orgulho e resistência, “Olhos Coloridos” transcendeu seu contexto original, tornando-se um hino de afirmação da identidade negra e uma ferramenta de conscientização contra o racismo no Brasil.

Quem compôs a música “Olhos Coloridos” e por quê? “Olhos Coloridos” foi composta por Macau, inspirada por uma experiência pessoal de racismo que ele viveu, quando foi preso injustamente pela polícia devido à sua aparência e local de moradia.

Qual é a mensagem principal da música “Olhos Coloridos”? A música celebra a identidade negra, critica o racismo e o preconceito, e valoriza a beleza e a diversidade do povo brasileiro, destacando a mestiçagem como uma característica fundamental da identidade nacional.

Como “Olhos Coloridos” se tornou conhecida? “Olhos Coloridos” se tornou conhecida na voz de Sandra de Sá em 1982, tornando-se um sucesso nas rádios e um símbolo do orgulho negro no Brasil.

Qual foi a reação do público à música “Olhos Coloridos”? A música foi amplamente aceita e celebrada pelo público, tornando-se um hino de afirmação da identidade negra e uma ferramenta de conscientização e luta contra o racismo.

Qual é o significado de “Olhos Coloridos” para a cultura brasileira? “Olhos Coloridos” é mais do que uma música; é um marco cultural que reflete a luta contra o racismo, promove a valorização da identidade negra e destaca a rica mestiçagem do povo brasileiro, contribuindo para o debate sobre políticas públicas contra a violência racial e a discriminação.

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