“White face” para conseguir jogar bola no país do futebol e de maioria do povo preto desde sempre faz parte da história desta lenda dos gramados, que desbravou o caminho para a inclusão de negros no esporte.
O que este artigo responde: Qual é o pioneirismo de Francisco Gomes Carregal? Onde Francisco Carregal começou a jogar futebol? Como Francisco Carregal driblou o racismo para jogar futebol nos clubes do Brasil? Qual é a importância de Francisco Carregal para o futebol brasileiro? Quais foram os desafios enfrentados por Francisco Carregal?
Em 1905, o The Bangu Athletic Club, fundado por ingleses em 1904, pela Companhia Progresso Industrial do Brasil, uma fábrica de tecidos, tinha no seu elenco: cinco ingleses, três italianos, dois portugueses e um brasileiro, negro, Francisco Gomes Carregal!
Vamos contar de outro jeito:
Com a imigração europeia, não havia “espaço” para os negros jogarem futebol. Francisco Carregal é pioneiro, único, no meio de Frederick Jacques, John Stark, Willlian Hellowell, W. Procter e James Hartley – os ingleses, de César Bocchialini, Dante Delloco e Segundo Maffeo – os italianos – e dos portugueses Francisco de Barros e Justino Fortes.
Diferente dos outros jogadores, não bastava para Carregal vestir o uniforme do time, calçar as chuteiras e, principalmente, jogar um bom futebol. Ele – e outros boleiros negros contratados depois – tinha de usar touca para esconder o cabelo crespo e se maquiar com pó-de-arroz para clarear a pele.
Era isso – “se passar por pessoa branca” – ou ser barrado na porta do clube.
Histórico
Francisco Gomes Carregal faz parte da história não só do time do Bangu, mas é quem dá o chute inicial do futebol negro do Brasil.
Quer dizer, há controvérsias! Vasco da Gama e Bangu, times do Rio de Janeiro, disputam o pioneirismo da democracia racial no futebol com a Ponte Preta.
Leia o artigo sobre Miguel do Carmo, que jogou na Ponte Preta de 1900 a 1904.
Quanto ao viver de cidadão de Francisco Carregal, pouco se sabe…
Nasceu em 26 de março de 1884, no Rio de Janeiro e traz em sua certidão de nascimento o registro de que é Francisco Gomes Carregal, em referência ao vilarejo onde o pai, português, nasceu, e ao senhor de escravizados da família de sua mãe, negra brasileira.
No mercado de trabalho começou cedo, como tecelão na Companhia Progresso Industrial do Brasil, fundada em 1889, e que depois passou a se chamar Fábrica de Tecidos Bangu.
A história do time
Passados 15 anos da criação da fábrica, os diretores resolveram fundar The Bangu Athletic Club para a prática de esportes da colônia britânica. Mas a ideia de exclusividade, de clube fechado, não vingou.
Não havia gente suficiente para montar um bom time. E foi só por isso que Carregal se tornou o primeiro jogador negro do Brasil.
Em outras palavras: nada a agradecer, apesar de o clube ter sido homenageado por ser o primeiro a ter um jogador negro no time .
Pra nós, vale a foto histórica!
Dia 14 de maio de 1905, o Bangu recebe, no campo da fábrica, o time reserva do Fluminense. E, depois do jogo, lá está ele. Francisco Carregal, segurando a bola, com sua camisa impecável, chuteiras lustradas, meiões esticados. E tudo para driblar o racismo , “fazer presença em meio à maioria britânica”.
Quem conta esta história é o jornalista Mário Filho em seu livro O Negro no Futebol Brasileiro, de 1947.
Em outro trecho, o jornalista registra:
Ele estava sozinho.
Detalhe: o jogo terminou com a vitória do Bangu por 5 a 3. O resultado abriu espaço para o time filiar-se à Liga Metropolitana de Futebol e participar do primeiro Campeonato Carioca, em 1906.
O Bangu ficou em penúltimo lugar. Eram seis os times participantes. O incômodo maior, entretanto, foi fora de campo, com os dirigentes a torcer o nariz para jogadores operários e com um negro entre eles.
Os cartolas não gostaram de ver um time revelar que abria a porta para operários e negros.
Carregal atuou em 28 partidas e marcou seis gols pelo Bangu entre 1905 e 1912. Depois, como atacante, defendeu o Flamengo.
Profissionalmente, continuou a trabalhar na fábrica de tecidos e, mais tarde, virou tesoureiro do Bangu.
Seu nome está no quadro de funcionários do clube em 1933, o primeiro ano da era do futebol profissional, quando o Bangu é campeão.
Carregal morreu aos 65 anos de idade, em 21 de abril de 1949, e teve seu nome reconhecido como um figura histórica em 2001, quando o Bangu foi agraciado pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro com a Medalha Tiradentes, a maior honraria concedida pela Casa, por ter sido o primeiro clube a ter um negro em sua linhas.
Bola fora
Depois de 1905, o Bangu foi excluído da Primeira Divisão e só voltou à elite em 1912, depois de disputar a Segunda Divisão. À essa altura, jogadores negros eram presença no meio futebolístico.
No Bangu, jogavam o irmão mais novo de Carregal, Antônio, e Manuel Maia, goleiro, filho de dois negros. No América, tinha Carlos Alberto, que depois foi para o Fluminense e, para driblar o racismo, também passava pó de arroz na pele para parecer mais claro.
São as micro agressões que nos impõem, o racismo estrutural, institucional...
Vale a leitura do artigo da jornalista Beth Brusco sobre Racismo Recreativo, racismo que tem como um de seus “palcos prediletos” os campos de futebol.
Fontes: Jogada 10, Livros de Futebol , Wikipedia e blogs HisBrasil e Cervebolíticos
Escrito em 3 de março de 2010. Atualizado em maio de 2023
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