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Gregory Robinson, o nome negro do telescópio espacial James Webb

O maior e mais potente telescópio do mundo tem o nome de um branco, mas é um preto o responsável por colocá-lo no espaço.

Gregory Robinson (Imagem: Greg Khan for The Wall Street Journal)
Gregory Robinson (Imagem: Greg Khan for The Wall Street Journal)

Os planos para construir o maior e mais potente telescópio espacial do mundo começaram em 1996. A previsão era que ele custasse, no máximo, US$ 3,5 bilhões e fosse lançado em 2010. Mas o projeto custou US$10 bilhões e só deslanchou a partir de 2018, quando Gregory Robinson assumiu o comando

Nós não teríamos o telescópio James Webb se não fosse por Gregory Robinson, o Greg,  mais uma mente negra genial, engenheiro afroamericano,  atual diretor do Programa do Telescópio Espacial James Webb da NASA, a agência espacial dos Estados Unidos.

O épico projeto da NASA, por várias vezes, teve que lidar com a possibilidade de um corte definitivo, não fosse o trabalho de Greg. Ele passou o pente fino em todo o projeto e consertou todas as  falhas.

Infância segregada

Nono de 11 filhos de um casal de meeiros de tabaco da zona rural da Virgínia, nosso pioneiro nasceu nos anos 1960 e começou a sua educação em uma escola primária racialmente segregada.

Em entrevista ao The Washington Post, ele lembra que os professores diziam que os alunos poderiam fazer o que quisessem se tivessem educação. E ele  assimilou o ensinamento.

A somar-se, seu talento especial para Matemática, Ciências e futebol, o que lhe rendeu uma bolsa de estudos para a Virginia Union University em Richmond:

“Eu achava que era um jogador de futebol de alto nível, e para minha escola, meu condado e meu distrito eu provavelmente era. Só que quando cheguei à faculdade, os verdadeiros atletas apareceram.  Mas, aí, eu já estava lá”.

Greg queria se formar em Engenharia Elétrica, mas a Virginia Union tinha um programa de graduação dupla com a Howard University. Por isso, ele formou-se primeiro em Matemática

O telescópio

O telescópio James Webb entra na sua vida décadas depois, incluindo a passagem de século – do XX para o XXI. Mesmo quando começou a ser construído em parceria com as agências espaciais europeia e canadense, envolvendo cerca de 20 mil colaboradores em 29 países e 14 estados dos EUA, Greg não era uma deles.

Telescópio James Webb (Imagem: Nasa)
Telescópio James Webb (Imagem: NASA)

Mas o seu lançamento no espaço, em 25 de dezembro de 2021 – após uma série de contratempos e atrasos que levaram alguns astrônomos a temer que nunca decolasse – leva a assinatura de Gregory Robinson, bem como o primeiro lote de imagens, divulgado na segunda semana de julho de 2022, que impressionou o mundo com imagens  nunca vistas de galáxias antigas e distantes.

A liderança

Gregory Robinson, funcionário de carreira da Nasa, foi contratado como diretor do Programa do Telescópio Espacial James Webb só em março de 2018.

Em entrevista a Steve Inskeep, da Morning Edition, Greg credita o sucesso da empreitada ao trabalho da equipe, mas todos reconhecem o papel especial que desempenhou para transformar o Telescópio Webb em realidade.

Gregory Robinson (Imagem: Reprodução | Shuran Huang para o The New York Times)
Gregory Robinson (Imagem: Reprodução | Shuran Huang para o The New York Times)

Por seu papel na melhoria do desempenho do programa Webb, seu supervisor, Thomas Zurbuchen, o chamou de “o líder de missão mais eficaz que já vi na história da Nasa” – quase 100%! Não por acaso, em 2022, Gregory Robinson aparece na lista das 100 pessoas mais influentes da revista Time.

O astrofísico da Nasa e ganhador do Prêmio Nobel John Mather escreveu: “Robinson canalizou as forças da natureza e engenhosidade humana” da NASA e do Congresso para agências espaciais estrangeiras e empresas aeroespaciais. “Nossas equipes orbitam em torno de Greg”. 

O curioso é que Greg não cresceu sonhando com o espaço, apesar de, na infância, morar a menos de cinco horas da sede da agência espacial, em Washington:

“O espaço não estava no topo da minha lista”.

Memórias da escravidão

A sua realidade rural não propunha nada parecido. Seus pais cultivavam terras que não eram suas – pagavam o “aluguel” do terreno com a metade de toda a colheita produzida – um esquema, produto da escravidão, ainda em vigor nos Estados Unidos do século XXI:

“Há muitas nuances aí… quem mantém os livros (de contabilidade) e quem altera os livros… E à medida que o processo avança, há vencedores e perdedores, sempre os mesmos”, reflete Gregory. “Perdedores amarrados à fazenda (porque não conseguem saldar as dívidas) para que nunca possam fugir para fazer outras coisas.”

Essas memórias também, Greg acredita, forjaram seu talento. A infância na escola segregada, por exemplo, lhe ensinou sobre o processo de desagregação, incluindo como trabalhar com muitos tipos diferentes de pessoas: 

“Uma das coisas que aprendi é que nem todo mundo que não se parece comigo é ruim. Na verdade, há muitas pessoas boas que não se parecem comigo, e temos muitas coisas em comum.”

Ao esporte, ele dá o crédito sobre o aprendizado da importância de liderar, seguir e ser um jogador de equipe.

“Estas lições realmente me ajudaram a me moldar desde o início. E, é claro, uma família realmente boa e forte também é importante.”

Passado e futuro

A história de Greg com a agência espacial americana começa em 1989. Ele trabalha em vôos e missões de ônibus espaciais de alto nível, ocupa cargos de liderança, inclusive como vice-diretor do Centro de Pesquisa John H. Glenn e engenheiro-chefe adjunto. E tudo porque não queria trabalhar para a indústria!

A última missão? Garantir o lançamento do telescópio Webb. Agora, ele está começando a pensar em aposentadoria:

“Tenho muito conhecimento e experiências, de vida e profissionais, que quero compartilhar e aumentar o impacto em todo o mundo. Então,  pretendo fazer algumas coisas, mas também é hora de ir para a próxima fase da vida”.

As imagens do Webb

O James Webb – maior telescópio espacial já lançado – captura imagens inéditas e históricas do Universo, faz uma espécie de viagem ao passado. Ele é o principal observatório espacial em atividade.

Suas primeiras imagens são resultado de seis meses de trabalho. A maior imagem – construída a partir de quase 1.000 arquivos separados – é o registro de um grupo de galáxias, conhecido como Quinteto de Estephan, que  ficam a até 290 milhões de anos-luz da Terra!

A primeira imagem de campo profundo obtida pelo Telescópio Espacial James Webb mostra galáxias do universo primitivo, ampliadas por um aglomerado galáctico em primeiro plano. (Imagem: Nasa)
A primeira imagem de campo profundo obtida pelo Telescópio Espacial James Webb mostra galáxias do universo primitivo, ampliadas por um aglomerado galáctico em primeiro plano. (Imagem: NASA)

As imagens de duas nebulosas – berçários onde as estrelas se formam   mostram tanto o seu surgimento – quando parecem montanhas e vales no espaço – como os momentos finais deste astro muito parecido com o Sol. 

Especialistas usaram expressões como “dança cósmica” e “berçário estelar” para descrever o que foi captado pelas lentes do James Webb.

Nas imagens, ainda, a luz que vem de galáxias a diferentes distâncias, capturadas há 13 bilhões de anos – tempo que demora para que o brilho delas chegue até nós!

Potência

O tamanho do Webb e as câmeras, projetadas para captar radiação infravermelha – raios que o olho humano não consegue enxergar e que identificam os objetos pelo calor -, combinados com enormes espelhos, de 6,5 metros,  são responsáveis por fazer que este telescópio consiga registrar o que nenhum outro foi capaz até hoje.

Posicionado a 1,5 milhão de km da Terra, em um ponto em que haja anulação entre a gravidade do Sol e da Terra, o Webb capta a radiação infravermelha emitida por diversos corpos no espaço, operando  a uma temperatura de -233°C.

Sua precisão é tão grande que seria possível observar um inseto na Lua! E a expectativa dos cientistas é que ele continue enviando informações por mais de uma década e revolucione a Astronomia..

Um dos principais objetivos é investigar a existência de planetas distantes e saber se eles podem ser habitáveis.

Adeus Hubble

O telescópio espacial James Webb – que promete ser 100 vezes mais potente que seu antecessor – substitui o telescópio espacial Hubble, lançado em 1990 e posicionado a 600 km do planeta, que garantiu avanços significativos nos estudos relacionados à Astronomia. 

Por suas lentes, cientistas puderam observar colisões entre cometas, planetas fora do Sistema Solar, abundância de galáxias e de buracos negros…


Sobre Greg Robinson, registre-se ainda que, fora da NASA, ele lecionou no Departamento de Gerenciamento de Engenharia e Engenharia de Sistemas da Universidade George Washington; é casado com Cynthia, têm três filhas e vários netos.

Quanto a James Edwin Webb,  administrou a NASA entre 1961 e 1968. O projeto Apolo, que levou o homem à Lua em 1969, foi elaborado e desenvolvido durante a sua administração.


Fontes: BBC, Olhar Digital, G1-JN, Mundo Educação, Oficina Da Net, G1.Globo, En.Wikipedia, NPR  

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