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Mansa Musa, a pessoa mais rica do mundo, um negro

Já imaginou ser tão rico que sua passagem por uma cidade pudesse desestabilizar sua economia por mais de uma década? Esse foi Mansa Musa, o imperador de Mali no século 14, cuja fortuna e peregrinação a Meca entraram para a história como símbolos de opulência sem paralelo. Vamos mergulhar na vida deste monarca africano, cuja riqueza e influência ultrapassaram fronteiras, transformando-o em uma lenda viva.

Rei africano, Mansa Musa comandou o Império de Mali no começo do século 14.

Mali
Iluminura do Atlas Catalão representando Muça I (ca. 1375)
Iluminura do Atlas Catalão representando Musa I (ca. 1375)

Em valores reajustados segundo a inflação atual, a fortuna pessoal de Mansa Musa I equivaleria a 400 bilhões de dólares na ocasião de sua sorte, em 1337!

A informação é do site americano CelebrityNetworth.com, que reúne informações sobre fortunas de personalidades diversas.

Artigo da revista Super Interessante sobre este pioneiro, também, calcula que nem os maiores empresários do setor tecnológico ou da indústria do cinema chegaram aos pés do imperador africano. Jeff Bezos, da Amazon, por exemplo, tem fortuna estimada em US$ 160 bilhões; Bill Gates, da Microsoft, cerca de US$ 134 bilhões, e Tio Patinhas tem um patrimônio estimado em US$ 44 bilhões.

De acordo com a revista Forbes, Mansa Musa detém o primeiro lugar absoluto no ranking das maiores fortunas da história!

A revista estadunidense Money, de finanças pessoais, também, criou uma lista com as pessoas mais ricas de todos os tempos e classificou Muça como “mais rico do que qualquer pessoa possa descrever”. 

Segundo Kathleen Bickford Berzock, curadora do Block Museum of Art, nos Estados Unidos, Muça tornou-se o mais rico do planeta porque possuía total controle da produção de ouro da região, recurso natural abundante e valioso, encontrado no solo africano e a moeda mais cobiçada por mercadores do mundo todo.

“As fontes árabes do período nos dizem que os reis do Mali cobravam impostos consideráveis sobre o ouro no reino, de modo que, essencialmente, ele tinha acesso a recursos de ouro quase que ilimitados”, afirma a especialista. 

De acordo com documentos escritos em linguagem árabe encontrados próximos à região do Mali, para cada pepita de ouro minerada ou encontrada por um cidadão era necessário retribuir a mesma quantia financeira para o líder do governo.

Rei dos reis

Musa Keita I assume o poder em 1312, numa época de prosperidade de diversos reinos africanos. E, no governo do Mali, ganha o título de “Mansa” – vinculado ao homem mais poderoso da governança africana, o imperador, o “rei dos reis”. 

Ele é o responsável pela produção de mais da metade do suprimento mundial de ouro e sal, de onde tira boa parte de sua grande fortuna.

O ouro ali existente era praticamente impossível de mensurar. Economistas e historiadores nunca chegaram a um consenso sobre a quantia que, com certeza, passava dos trilhões de dólares.

Invisível

Até 1324, entretanto, apesar de toda a fortuna, pouca gente sabia da existência de Mansa Musa! E é exatamente neste ano que ele “decide ostentar sua riqueza” – diríamos nós. Isso porque, na verdade, sua decisão é tomada por uma questão de fé!

O último dos “Cinco pilares do Islamismo”, para todo mulçumano adulto, é fazer, obrigatoriamente, pelo menos uma vez na vida – desde que este disponha dos meios econômicos e tenha de saúde -, a peregrinação à cidade santa de Meca. E o ato de “fazer o Haje” é que o torna conhecido por sua “generosidade” e farta riqueza.

Estima-se que, para a viagem, ele reuniu 60 mil homens – entre soldados e civis; 12 mil escravos, todos vestidos de seda; mil assistentes e músicos pessoais, bandeiras coloridas, além de uma centena de camelos que carregava entre 50 e 300 quilos de pó e barra de ouros cada. 

Representação da peregrinação promovida por Mansa Muça (Imagem: Reprodução)
Representação da peregrinação promovida por Mansa Musa (Imagem: Reprodução)

Essa luxuosa caravana percorreu mais de 6,4 mil quilômetros ao longo de mais de um ano, passando por diversas cidades do continente africano. 

Uma das paradas mais significativas, entretanto, acontece quando Musa chega ao Egito. Ele acampa perto das pirâmides por três dias e envia um presente de 50 mil dinares de ouro ao sultão, no Cairo, capital do país.

Agradecido, o sultão – que é o rei do Egito – lhe empresta seu palácio, onde Muça passa três meses, doa milhares de dinares de ouro e compra lembrancinhas, a preços exorbitantes, dos comerciantes locais, colapsando a economia do país – quase o Egito ruiu por completo!

A porção absurda de ouro distribuída no dia a dia da sociedade gerou forte impacto sobre o valor do metal no mercado financeiro e uma crise inflacionária no país, que durou 12 anos!

Mas o Haje de Muça tem impacto positivo no desenvolvimento do Islã no Mali e na percepção do Mali em toda a África e na Europa. 

A chegada ao trono

A história dos reis do Império do Mali é contada a partir dos escritos de estudiosos árabes e informam que Muça era neto de Sundiata Keita, irmão de Abu-Bakr, fundador do grande território.

Enquanto Abu-Bakr, no seu governo, foca na unificação dos reinos da África Ocidental que pertenciam ao povo mandingo, também conhecido como Mandinka ou Malinke, Musa atua pela expansão das riquezas do poderoso império. 

Leia sobre o Império do Mali, o mais rico da África.

Na época, era comum se nomear um vice-rei toda vez que o rei se ausentava, fosse em peregrinação a Meca ou algum outro empreendimento. E Muça estava vice-rei, enquanto Abu-Bakr participava de uma segunda expedição para explorar os limites do Atlântico. Isso porque ele não acreditava que era impossível alcançar a extremidade do oceano.

Quando sai a primeira expedição, Abu-Bakr dá ordem para o capitão não retornar até chegar do outro lado do oceano. 

Dos 200 barcos do empreendimento, apenas um retorna e, ao ser questionado, o capitão responde: “Navegamos por um longo período até que vimos no meio do oceano um grande rio. E todos os barcos desapareceram num grande redemoinho. Eu naveguei de volta para escapar da corrente”. 

Abu-Bakr não acredita e ordena que dois mil barcos sejam preparados para ele e seus homens, além de mais mil barcos para a água e provisões. Em seguida, parte com sua tripulação, para nunca mais voltar.

No poder

O reinado de Musa é descrito como “a idade de ouro do Império de Mali“. Houve um gigantesco avanço do desenvolvimento urbano e da articulação entre as cidades – eram, ao menos, 400 -, principalmente devido às grandes obras de infraestrutura, e à construção de escolas, bibliotecas, museus e mesquitas.

Durante seu reinado, ainda, outras 24 cidades foram anexadas ao Império. A principal delas é Timbuktu, um antigo centro do comércio que ele transformou em centro de saber, escambo e peregrinação religiosa, construindo um palácio, uma mesquita e uma universidade.

Pessoas em frente à Grande Mesquita de Djenné, localizada em Timbuktu (Imagem: Google Arts & Culture)
Pessoas em frente à Grande Mesquita de Djenné, localizada em Timbuktu (Imagem: Google Arts & Culture)

A mesquita e a Universidade de Sancoré estão em pé até hoje e, na época, para proteger a cidade de invasões, Muça constrói uma forte muralha de pedra e coloca um exército permanente para protegê-la.

Com capacidade para 25 mil alunos, a Universidade atrai estudiosos muçulmanos de toda África e Oriente Médio – equipada que estava com uma das maiores bibliotecas do mundo em coleções de livros, desde a Biblioteca de Alexandria, com cerca de um milhão de manuscritos

Humildade zero

Musa faz do Império do Mali uma potência. Assume o poder em 1312, morre em 1337, mas é lembrado até hoje, quase 700 anos depois, inclusive por meio de contos que se referem à sua viagem a Meca e à sua generosidade. Ele também é estudado como uma das principais referências do período medieval

Nele, tudo se confunde: admiração, medo, reverência. Seu poder imperial é amplamente respeitado. Quando no Cairo, registra-se que esperava, de todos, a etiqueta tradicional de reverência, que incluía uma demonstração de submissão perante o rei.

Ninguém era autorizado a espirrar ou aparecer de sandálias na sua presença do rei. Ele também – como era costume – nunca dava ordens pessoalmente. Sempre passava instruções a um porta-voz, que então transmitia suas palavras.

Mansa Musa (Imagem: Reprodução)
Mansa Musa (Imagem: Reprodução)

O rei representava “a fonte suprema da justiça”, com qualidades místicas atribuídas a si. E era o único que tinha direito à lealdade dos escravos.

Em um culto à liderança – prova da extrema centralização do governo em uma única figura -, todos os visitantes precisavam estar descalços diante dele, se curvar e jogar poeira sobre suas cabeças.

Pessoalmente, entretanto, se negava a reverenciar outras autoridades, como beijar o chão diante do sultão. 

Representação

Mansa Musa tem uma grande variedade de nomes alternativos pelos quais é referenciado. Musa ou com “ç” é o mais comum, encontrado em manuscritos ocidentais e na literatura. Mas é chamado também de Cancu Musa, Mansa Cancam Musa ou Cancu que significa “Musa, filho de Cacu” – Cacu é o nome de sua mãe. E, ainda, Cancam Musa Mali-koy, Musa Gonga e o Leão do Mali.

Na Espanha, um cartógrafo, inspirado a criar o primeiro mapa detalhado da África Ocidental da Europa, representa Mansa Musa, em ilustração, usando uma coroa de ouro impressionante, brandindo triunfante um enorme pedaço de ouro na mão.

Detalhe do Atlas Catalão onde é possível observar a ilustração de Mansa Musa (Imagem: Reprodução)
Detalhe do Atlas Catalão onde é possível observar a ilustração de Mansa Musa (Imagem: Reprodução)

Musa é o único líder africano a figurar no Atlas Catalão, do cartógrafo espanhol Abraão Cresques, de 1375, que retrata o território e as lideranças de cada canto do mundo, um importante recurso para navegadores da Europa medieval.

Depois dele, reinaram Mansa Magam (r. 1337–1341) e seu irmão mais velho Mansa Solimão.

Vir à luz

Musa Keita I nasce em 1280 nos braços do poderoso Império do Mali, então comandado por Mansa Abu-Bakr. Trinta e dois anos depois, herda o trono e todo o seu potencial financeiro, derivado de um livre mercado financeiro e de ideias que percorriam a África Ocidental, o Oriente Médio e a Ásia Oriental.

Senegal, Gâmbia, Costa do Marfim e Burkina Faso eram alguns dos países que pertenciam ao antigo império africano.

Hoje, a região dominada pelo então imperador consiste nos países do Mali, Serra Leoa, Senegal, Gâmbia, Guiné e a parte sul do Saara Ocidental.

Ao morrer aos 57 anos, em 1337, Musa não deixa apenas um legado financeiro, mas também a importância do intercâmbio cultural e de conhecimento através de suas jornadas.


Fontes: Super Abril, Uol, Wikipedia, Megacurioso, DW 

Mansa Musa: O Rei Africano que Redefiniu a Riqueza Mundial

Mansa Musa, governante do Império de Mali no início do século 14, é frequentemente citado como a pessoa mais rica da história. Com uma fortuna estimada em 400 bilhões de dólares em valores atuais, sua riqueza derivava principalmente do vasto suprimento de ouro de Mali, essencial para a economia global da época. Sua famosa peregrinação a Meca em 1324, levando consigo uma caravana de milhares de pessoas e centenas de camelos carregados de ouro, não apenas espalhou sua fama por todo o mundo islâmico mas também impactou significativamente a economia de regiões por onde passou, especialmente o Egito. Além de sua riqueza, Mansa Musa é lembrado por seu patrocínio às artes e educação, transformando Timbuktu em um centro de aprendizado e cultura islâmica.

Quem foi Mansa Musa? Mansa Musa foi o imperador do Império de Mali no século 14, conhecido por ser a pessoa mais rica da história, com uma fortuna que hoje equivaleria a cerca de 400 bilhões de dólares.

Como Mansa Musa acumulou sua riqueza? Sua riqueza provinha principalmente do controle sobre as ricas minas de ouro de Mali, que representavam a maior parte do suprimento mundial de ouro na época.

Qual foi o impacto da peregrinação de Mansa Musa a Meca? Sua peregrinação a Meca em 1324 é famosa por sua extravagância e pelo impacto econômico que teve nas regiões por onde passou, especialmente no Egito, onde sua generosa distribuição de ouro causou inflação por mais de uma década.

Como Mansa Musa contribuiu para a cultura e educação? Ele transformou Timbuktu em um centro de cultura e aprendizado islâmico, patrocinando a construção de escolas, bibliotecas, mesquitas e uma universidade, atraindo estudiosos de toda a África e do Oriente Médio.

Qual é o legado de Mansa Musa?
O legado de Mansa Musa inclui não apenas sua incomparável riqueza, mas também seu impacto na promoção da educação, cultura e desenvolvimento urbano em Mali, além de sua influência na percepção global da África como uma terra de grande riqueza e sofisticação cultural.

6 comentários em “Mansa Musa, a pessoa mais rica do mundo, um negro”

  1. Que matéria extraordinária! Eu particularmente nunca havia ouvido falar dessa celebridade africana. Essa leitura que eu fiz tornou-me um grande entusiasta e começarei a fazer pesquisas mais aprofundadas sobre esse célebre personagem da História mundial. Parabéns!

  2. Eu nunca ouvi sobre essa celebridade na escola. A história e a cultura africana nunca é passada para os alunos. Gostei muito da matéria!

  3. É extraordinário! Só achei um pouco racista colocarem ”O homem Mais rico do mundo, UM NEGRO”. Tem que ter igualdade para todos!

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