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Escola Comunitária Maria Gregória, o fazer pedagógico pan-africanista

Mais que uma pedagogia de ensino, o pan africanismo é uma forma de se relacionar, de estar e viver em comunidade, compreendendo-se africano e agente de formação de sujeitos ativos que assumem papéis dentro da sociedade e  não à  margem. Neste artigo, exemplos de atividades didáticas inspiradas pela ideologia  pan-africanista.

O que este artigo responde:
Qual a  literatura que interessa em uma escola pan-africanista?
Como adaptar o conteúdo imposto pelo Estado aos saberes africanos?
Qual a pedagogia de uma escola pan-africanista?
Por que é importante contar a história e a cultura da África para crianças do Brasil? 
Como está a implantação da Lei 10.639?
Como são as atividades escolares pan-africanistas?

Foto colorida mosta alunas do Colegio Maria Gregoria fazendo atividade escolar criando bonecas pretas de pano
Alunas do colegio Maria Gregoria fazendo bonecas Abayomis em atividade escolar (Foto: Divulgação)

Todo trabalho tem de começar do zero. A Educação Infantil criada pelo Estado é uma agência social que reproduz o racismo. Há escassez de atividades que trabalhem a questão étnico-racial – a criança negra inicia a sua jornada às margens,  não é vista, não é contemplada, não se sente pertencente. E a consequência prática é a negação da identidade e o auto-ódio, que passam a fazer parte do inconsciente individual e coletivo. 

O Pan-Africanismo tem a África como foco, o resgate da história e da cultura da África e a sua inclusão no cotidiano, no crescer, no amadurecer da criança. O ponto de partida é a compreensão da educação como instrumento de humanização, interação, inclusão social, para o enfrentamento e a superação do racismo.

A escola recebeu pela Defensoria Pública de Salvador o Selo Escola Antiracista, pela realização de uma educação para as relações étnicos-raciais.

A Lei 10.639, há praticamente 30 anos em vigor, estabelece a inclusão no currículo brasileiro do ensino de História da África e da Cultura Afro-brasileira, mas está muito distante de ser realidade. O simbólico, o estético, o didático, o pedagógico, o visual, acabam sendo fortes ferramentas de fortalecimento do racismo no espaço escolar.

Na contramão, a Escola Comunitária Maria Gregória dos Santos organiza todas as atividades de modo a se articular com os objetivos da  Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para Educação Infantil, “mas sobretudo buscando promover uma pedagogia afrocentrada” –  como enfatiza a diretora Maria Elisabete dos Santos. 

Leia o artigo: Escola Comunitária Maria Gregória, pan-africanismo para crianças

Fazer pedagógico

No aprendizado de cores e formas, por exemplo, no lugar de se trabalhar apenas com a figura do palhaço, onde o chapéu é triangular e o nariz redondo, a Maria Gregória propõe a história das Mulheres Ndebele, uma comunidade da África do Sul onde há uma tradição artística de grafismo, que é passada de mãe para filha, onde as formas e as cores também aparecem, mas com uma cultura africana como base para aquela sabedoria. 

Para o conteúdo  relacionado às formas geométricas, uma das propostas é trabalhar com tecidos africanos, a exemplo do tecido Samakaka de origem angolana.  Desse modo, a escola cumpre as metas impostas/propostas pelo estado, com a sua base filosófica africana.

Eventos de importância para o povo africano também inspiram atividades, como a vinda do Rei de Ifé, tradicional berço yorubá da Nigéria, que esteve na Comunidade do Quilombo do Quingoma, para entrega do título de território yorubá no Brasil.

Era março de 2023 e , as crianças ouviram sobre a vinda de Adeyeye Enitan Ogunwusi, como foi a recepção no Quilombo e, depois, fizeram atividades que incluíram a palavra “Rei” e o desenho da vinda do Rei à Bahia.

Um Calendário Afro-Brasileiro abre espaço para se trabalhar a história de pessoas negras. Entre elas,  como Marcus Garvey, o “Vovô Garvey”,  ícone mundial da filosofia de união dos povos africanos em diáspora, Bob Marley, a lenda do reggae; a historiadora Beatriz Nascimento; o geógrafo Milton Santos; a atriz Ruth de Souza; o ativista  Malcom X, Makota Valdina e tantas outras potências nacionais e do mundo que, com suas sabedorias, ajudam a ampliar o repertório das crianças, das educadoras, das famílias e de toda a comunidade sobre o legado que vem sendo construído pelo povo negro desde sempre.  

Datas como o Dia da África, Dia da Mulher Africana, o Dia do Samba e o Dia do Capoeirista também fazem parte do calendário que a própria escola vem construindo para celebrar a cultura negra:  

Decoração com ícones do movimento negro e balões
Fotografia da celebração do Dia de Garvey, com a ilustração da capa do livro do Autor Gabriel Swahili (Imagem: Divulgaçnao)

No 25 de maio deste ano, Dia da África, a escola se propôs homenagear as baianas do acarajé, as primeiras empreendedoras do Brasil, chamando familiares das crianças da escola que têm o mesmo ofício para saber sobre a tradição do acarajé dentro das famílias. 

Na preparação para esse dia, teve leitura com as crianças do livro Pretinha de Ébano, da baiana Kalipsa Brito, na qual a avó da personagem Luiza Mahin é baiana do acarajé. 

As literaturas merecem um olhar especialmente cuidadoso na Escola Maria, como chama nossa atenção a coordenadora pedagógica Ádila de Carvalho Neves:

 “Os livros escolhidos contemplam não só o protagonismo negro, mas a cultura africana”.

Atividade na Escola Maria Gregória baseada no livro Plantando com Malik (Imagem: Divulgação)
Atividade na Escola Maria Gregória baseada no livro Plantando com Malik (Imagem: Divulgação)

E Aprendendo com Malik, de Carol Adesewa e Paulyane Nogueira, é um bom exemplo deste olhar da instituição para a produção da literatura infantil. Carol Adesewa, do canal @afroinfancia, inclusive,  já foi colaboradora da escola e seu livro oferece sabedorias, que vão de nomes africanos ao contato com a terra e o cultivo da  alimentação.

Mais um  exemplo de atividade é a sabedoria presente no celebração Kwanzaa onde, por meio de Jogos da Memória, se aprende sobre os símbolos e é possível, ainda, usando materiais como massinha de modelar, recriar elementos enquanto se  aprende sobre os valores envolvidos na festa. 

Pan-africanismo em casa

Durante a pandemia de Covid-19, a escola compartilhou por meio de um blog, alguns exemplos de atividades possíveis de se realizar em casa. 

Para o Dia do Música,  22 de novembro, Dia do Músico, a escola propôs celebrar a data contando a história do pai de Maria Gregória, o senhor Alfredo Ângelo, que tocava violão, que era  músico. 

A partir daí, introduziram o tambor, para pensar a música de forma bem criativa, mostrando imagens de tambores para as crianças:

Com sugestão de leitura de um pequeno texto em voz alta:

“O tambor  é sinal de vida.
Suas batidas são do coração e ocupam lugar especial na história da África: acompanham cerimônias e celebrações”.

E da exibição do vídeo: Batuques e Tambores em África

Outra proposta pedagógica, para trabalhar o ecoar o tambor, é a exibição do vídeo A menina e o tambor para inspirar, na sequência, formas,  traços e cores de tambores. 

A ideia é que as crianças usem os dedinhos e tinta guache para decorar um balde de modo a criar um lindo tambor. Depois do balde bem enfeitado, tocar tambor, para ouvir o tum-tum no  peito.

Depois do vídeo A Nana e o Nilo, no jongo do Tongo, a proposta é tocar tambor, ouvir, dançar.

Mais sobre tambores, acesse a edição Na batida do tambor.

No Instagram da Escola Comunitária Maria Gregória dos Santos, @escolamariagregoria, encontre mais atividades inspiradas no pan-africanismo. 

Fontes: Escola Comunitária Maria Gregória dos Santos/Betemelblog Escola Comunitária Maria Gregória dos Santos, FacebooK-Quilombo de Alagoinha, Nova Escola – Campos de Experiência, Defensoria BA DEF

Escrito em maio de 2024

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