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•EDIÇÃO•

Na batida do tambor

– abril de 2022 –

O tambor também é sagrado. Por meio do seu toque se emite vibrações e se estabelece a comunicação com os orixás, caboclos e pretos velhos. É ele que traz, invoca as entidades. 

E os ogãs – pessoas do sexo masculino – têm como missão tocá-los, emitir o som do couro e da madeira do atabaque que conduz ao Axé, à força sagrada das entidades, enviar os códigos, atraí-las, estabelecer a ligação com o universo espiritual.

No terreiro, o atabaque é um dos principais objetos é ponto de atração e vibração. Quem assume a responsabilidade de tocá-los, em  dias de festas e rituais, tem de passar por todo um processo de purificação – banho de ervas, restrições alimentares, de bebidas alcoólicas etc. E deve, sempre, reverenciá-lo.”

[…]

Leia na íntegra o editorial de apresentação dessa edição: “Entre o sagrado e o profano”

n. 1

Na batida do tambor, entre o “sagrado” e o “profano”

Mais do que sons, ritmos, cultura africana,  o tambor é nossa conexão ancestral, conexão com o divino em nós. Por isso, as aspas nas palavras “sagrado” e “profano”. Nós somos sagrados porque sagrado é o nosso autoconhecimento, sagrada é a nossa essência. Em nós, nada é profano, a não ser as religiões que profanaram o nosso existir, “abençoando” a escravização negra, nos classificando como “selvagens” e usando a violência contra os nossos corpos.

Festa das Yabás, de Matheus N. Augustinho - 2020

Yabás, as orixás femininas

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Paulinho: Exú, futebol e Oxóssi – Tania Regina Pinto Paulinho, da seleção olímpica, comemora gol pelo Brasil atirando flecha de Oxóssi. Foto: Daniel Leal-Olivas/AFP Sobre

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Atotô Obaluaê, vida e morte

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Ibejis, ele é dois! – Tania Regina Alegre, ligado ao princípio da vida, à circulação de energia e à criatividade é o único orixá que

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n. 2

Na música, nos blocos afro da Bahia

Os blocos afro da Bahia – primeiros do Brasil – surgem em pleno meio da Ditadura Militar (1964-1985) e são símbolos de culturaresistência negra e liberdade. Espaços reais, permanentes, de referência negra, eles não têm sua existência reduzida ao carnaval. Durante todo o ano, além de ensaios musicais, realizam trabalhos junto à comunidade. É do Nordeste que vem muito da nossa história de força guerreira, os nossos sons únicos. É de lá que a branquitude intimidada, depois da Revolta dos Malês, decide “repatriar” os africanos escravizados. Da Bahia, a história das primeiras mulheres a tocarem tambor, de muitas de nossas lideranças, femininas e masculinas… De lá, também, o resgate orgulhoso de nossa ancestralidade egípcia, da terra dos faraós, dos nossos inventores pioneiros, bem como das lentes que re-abriram os nossos olhos para a nossa beleza, sob todos os pontos de vista. 

O Brasil é a maior diáspora negra do mundo e a capital da Bahia,  Salvadoré farol que fortalece a nossa identidade negra e Ilê Ayê, Olodum e Muzenza  – atenção educadores – são referências para aulas sobre a História e Cultura Afro-Brasileira, fazendo-se  cumprir a Lei 10639/2003. É aprendizado na batida do tambor!

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n. 3

Eu sou o samba

O samba teve no rádio o veículo de afirmação do sambista, da sambista em busca da profissionalização – sempre é bom lembrar a “sagrada” e “profana” Elza Soares. E, na escola de samba, a trincheira para defender-se de sua situação marginal, imposta.

É pelo samba, também, que o negro busca a liberdade – desde sempre. Poder ir e vir, sem correntes nem chibatas, de pandeiro na mão, de terno e gravata, sem distinção de gênero, sem impedimentos para o amor, cantando, batucando, interpretando canções – como afirmava Jamelão – em verso e prosa.

n. 4

Na batida do tambor, resistimos​

“Sagrados” e “Profanos”, “Sagradas” e “Profanas”, nós resistimos, ora como baianas do acarajé, ora como bailarinas a girar nos grandes teatros. E, assim, re-existimos em luta, celebrando os que vieram antes, sob chicote, e promoveram a primeira greve da história do Brasil, a libertação na Justiça de negros que nunca deveriam ser escravizados pelas leis que regiam o proprio sistema escravocrata. “Sagrados”, “Sagradas”, “Profanos”, “Profanas”, criamos, ainda, outras armas para que se mantenha viva a nossa potência, presente no sorriso guerreiro que esboçamos, conscientes de que precisamos, mais e mais, estarmos bem perto uns dos outros, como propunha no século XX o Pan-Africanismo, com sua declaração de amor racial, estampada no emblema do movimento: “Eu amo pessoas negras”.