Pular para o conteúdo
InícioPioneirismo NegroRubens Barbot, um bailarino

Rubens Barbot, um bailarino

Ele é o fundador da primeira companhia negra de dança contemporânea do Brasil.

Rubens Barbot (Imagem: Revista Moventes)
Rubens Barbot (Imagem: Revista Moventes)

O que este texto responde:
Quem é Rubens Barbot? Qual a primeira companhia negra de dança contemporânea do Brasil?

20 de agosto de 1990, o bailarino e coreógrafo  Rubens Barbot monta a primeira companhia negra de dança contemporânea do país, a Cia. Rubens Barbot de Teatro e Dança que, por 30 anos, mantém um trabalho singular que impacta gerações.

Uma companhia de dança formada por bailarinas, atrizes, bailarinos e atores negras e negros com a missão artística e política de fazer arte negra contemporânea. Uma companhia voltada para a pesquisa do gesto, do movimento e das imagens. 

Pesquisa que extraia destes corpos suas histórias de raízes africanas, compondo com esse material uma linguagem genuinamente afro-brasileira. 

Rubens Barbot também é responsável pela fundação de uma das principais bases da arte negra carioca, o Terreiro Contemporâneo, um centro cultural localizado no centro do Rio de Janeiro que abriga companhias de arte negras.

Primeiros passos

Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, é a cidade que assiste aos primeiros passos de dança de Rubens Barbot. Ele inicia os estudos  com João Luiz Rolla, em 1967. Depois, recebe um convite do bailarino Tony Abbott e vai para a Escola de Ballet Contemporâneo de Buenos Aires, na Argentina

Nascido no Rio Grande (RS), em 30 de novembro de 1949, Barbot  “torna-se carioca” no final dos anos 1980, em 1989, e lá vive até tornar-se ancestral, aos 72 anos de idade.

O corpo fala

Rubens Barbot constrói sua própria linguagem – genuína e universal – e a consolida com a força de uma explosão no espetáculo “Só, um homem só”, divisor de águas em sua carreira. 

“Honesto, forte, intenso, doce, solidário e humano. Rubens era oriundo da classe proletária. É a sua consciência de classe que define sua arte. A arte do comprometimento com o gesto do povo explorado das ruas, da africanidade, da mestiçagem, da sexualidade, do Brasil.”

Assim o define a atriz, produtora e amiga Raquel Pilger, muito presente no início de sua carreira, que recorda, quando de sua morte em 2022, como eram desafiadores aqueles tempos:

“Um bailarino negro, baixinho, já com certa idade e sem uma técnica apurada causava estranheza entre seus pares. Apesar de já ter circulado por Porto Alegre e Buenos Aires – ele era da periferia de uma cidade portuária – foi ignorado solenemente pela categoria e pela crítica. Preconceito racial e de classe? Acho que sim. Mas só até receber o aval da bailarina alemã Suzane Linke, em sua passagem por Porto Alegre”

Barbot e Gatto

Rubens Barbot conhece Gatto Larsen nos anos 1970, durante uma viagem à Argentina. Desde então, os dois trabalham e vivem juntos, amor e arte. É com Gatto Larsen que Barbot cria, no Rio de Janeiro, a primeira companhia negra de dança contemporânea – o bailarino, coreógrafo e figurinista, quando necessário, ao lado do diretor e produtor de arte.

O casal Rubens Barbot e Gatto Larsen (Imagem: Reprodução | O Globo)
O casal Rubens Barbot e Gatto Larsen (Imagem: Reprodução | O Globo)

Rui Moreira, também bailarino negro, paulistano, conta de quando conheceu o casal nos anos 1990, quando dançava pelo  Grupo Corpo, de Minas Gerais:

“Uma vez o Rubens e Larsen foram assistir uma apresentação nossa no Theatro Municipal do Rio de Janeiro e, ao final, me convidaram para jantar. Deste encontro, surgiu uma amizade incrível. Rubens, com seu jeito irreverente, sempre falava da importância da minha presença no grupo mineiro.  Ele dizia: ‘Nego, a plateia vai ao teatro para te ver.  Se eu fosse tu, saía do Grupo Corpo e criava um negócio para ti.’ ”

“De maneira indireta, mais tarde, foi o que fiz”, lembra Rui que define Barbot como “um artista único”, que ensinou para ele  “o que é ser arttista negro de dança, alguém que lançou olhares ousados para a sociedade e rompeu a duras penas com suas hegemonias e hipocrisias”. 

“Corpo livre e criativo, teve por muitos anos a parceria de um amor amigo, respeitoso e mais que transcendental. Uma dupla incrível, que mostra a quem quer ver, que a vida é cheia de opções, basta ter coragem para escolher e humildade aliada a uma grande força, para aceitar as consequências da própria escolha.” 

Descolonização da dança

De criação e resistência – sempre na busca de reconhecimento – é a jornada de Rubens Barbot, artista-pesquisador,  teoria e prática, referência da dança negra no Brasil. Foram quase quarenta anos dedicados ao estudo de movimentos dos nossos corpos. 

É com sua arte que ele abre espaço para manifestações livres e genuínas de artistas negros em uma poética de descolonização da dança, frente ao terreno elitista sobre o qual se constituía e se constitui a dança contemporânea brasileira, fortemente calcada em bases europeias e norte-americanas.

Rubens Barbot (Imagem: Metropoles)
Rubens Barbot (Imagem: Metropoles)

De sua carreira solo, registramos: Abstract (1985), Só, Um Homem Só (1987) e Fen (1988).

Dos seus 30 anos de Cia de Dança: Suspeito Silêncio (1990), Máscaras Negras (1991), Três Estudos Coreográficos (1992), Dança Naná (1993),

Los Ilusionistas (1994), Electronizumbí (1995),  Toque de Dança (1996),

Em Pleno Meio Dia da Nossa Noite Empalha/Dor (1997),  Toque Duplo (1998), Imagens (1999), Não Ê Mar, Mas Ê Salgado… (2000), Tempo de Espera (2001), Cenas que Guardei No Bolso da Memória (2002),

Mamma África – coletânea (2003), Sucessos nas Ruas – espetáculo de rua (2005), Quase uma História (2006), O Reino do Outro Mundo – Orixás (2008),  40 + 20 (2010), Solos em Companhia (2011) e  Um Rio, de Janeiro a Janeiro (2012).

Assista um pouco da arte de Rubens Barbot no Acervo Cultne, no vídeo sobre os 30 anos da Cia Barbot e no trailer do documentário, de 2012,  Esse amor que nos consome.


Fontes: G1, São Paulo Companhia de Dança, Revista Quem, Matinal Jornalismo, Rubens Barbot: um gesto de resistência e de identidade – UFRGS, JusBrasil

escrito em novembro 2023 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *