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Sueli Carneiro, poder negro em mãos femininas

Inspirada, a filósofa cria uma organização política de mulheres que dá cara nova à luta antirracista e antissexista, o Geledés – Instituto da Mulher Negra.

Sueli Carneiro é primeira mulher negra a ter título de honoris causa da UnB (Foto: Facebook/Reprodução)
Sueli Carneiro é primeira mulher negra a ter título de honoris causa da UnB (Foto: Facebook/Reprodução)

Sueli Carneiro Jacoel enegrece o movimento feminista, feminiliza o movimento negro e coloca em outro patamar a discussão sobre a democracia racial no Brasil  ao criar a organização política Geledés – Instituto da Mulher Negra e dá cara nova à luta antirracista e antissexista..

Ela e seus irmãos – Sueli é a mais velha de sete filhos, de 24 de maio de 1950 – sempre foram alertados de que sofreriam discriminação, injustiças e teriam de enfrentar o problema de frente, mas só na vida adulta ela compreendeu que o ensinamento familiar poderia transformar-se em experiência política de luta de combate à exclusão.

“Quando fui trabalhar na Secretaria da Fazenda e entrei na faculdade, nos anos 1970, meu mundo se abriu. Conheci o movimento de mulheres, de negros, e passei a sofrer um processo de politização”.

Musa inspiradora

Nesse percurso, Sueli conheceua ativista negra e antropóloga Lélia Gonzales que, pode-se dizer, traça o seu destino:

“A Lélia definiu o que eu ia ser quando crescesse, embora eu já não fosse tão jovenzinha. Ela pegou minha experiência de vida e a devolveu, para mim, de forma organizada. Foi minha musa para conceber uma organização política de mulheres negras nos moldes do Geledés”.

E o Instituto propõe uma abordagem inédita dentro do movimento negro,  estabelecendo como eixo de seu plano de ação a inserção do  racismo na pauta dos direitos humanos, da saúde pública e da comunicação.

Sueli Carneiro cria o único programa brasileiro de orientação na área de saúde específico para mulheres negras, contemplando a saúde física e mental.

Além da originalidade das propostas, o Geledés é uma das primeiras organizações não-governamentais do movimento negro a trabalhar com recursos externos, a profissionalizar a militância e a ação política.

Eco 

Em 1983, o governo de São Paulo, cria o Conselho Estadual da Condição Feminina, com 30 mulheres brancas como conselheiras. E lá está Sueli Carneiro na luta pela abertura de uma vaga para uma mulher negra!!!  A campanha logra êxito.

Meses depois da fundação do Geledés — Instituto da Mulher Negra, ela é convidada para integrar o Conselho Nacional da Condição Feminina, em Brasília.

Suas ações no instituto repercutem, ecoam, na sociedade e no governo. Ao criar o  programa SOS Racismo de Geledés, por exemplo, redimensiona o racismo como violação aos direitos humanos.

No início dos anos 1990 – em  1992 -, Sueli Carneiro recebe a visita de um grupo de cantores de rap da periferia da cidade em busca por, frequentemente, serem vítimas de violência policial.

Como ela encaminha a solução? A  partir da criação do Projeto Rappers, onde os jovens são agentes de denúncia e também multiplicadores da consciência de cidadania dos demais jovens.

Musa inspiradora

Nesse percurso, Sueli conheceu a ativista negra e antropóloga Lélia Gonzales que, pode-se dizer, traçou o seu destino:

“A Lélia definiu o que eu ia ser quando crescesse, embora eu já não fosse tão jovenzinha. Ela pegou minha experiência de vida e a devolveu, para mim, de forma organizada. Foi minha musa para conceber uma organização política de mulheres negras nos moldes do Geledés”.

E o Instituto propõe uma abordagem inédita dentro do movimento negro,  estabelecendo como eixo de seu plano de ação a inserção do  racismo na pauta dos direitos humanos, da saúde pública e da comunicação.

Sueli Carneiro criou o único programa brasileiro de orientação na área de saúde específico para mulheres negras, contemplando a saúde física e mental.

Além da originalidade das propostas, o Geledés é uma das primeiras organizações não-governamentais do movimento negro a trabalhar com recursos externos, a profissionalizar a militância e a ação política.

Apenas um ano depois da chegada da internet comercial, ela se torna  responsável pelo primeiro site de organização não governamental do Brasil.

Ressoar 

Em 1983, o governo de São Paulo, cria o Conselho Estadual da Condição Feminina, com 30 mulheres brancas como conselheiras. E lá está Sueli Carneiro na luta pela abertura de uma vaga para uma mulher negra!!!  A campanha logra êxito.

Sobre branquitude, ela escreve:

“Uma das características do racismo é a maneira pela qual ele aprisiona o outro em imagens fixas e estereotipadas, enquanto reserva para os racialmente hegemônicos o privilégio de serem representados em sua diversidade. Assim, para os publicitários, por exemplo, basta enfiar um negro no meio de uma multidão de brancos em um comercial para assegurar suposto respeito e valorização da diversidade étnica e racial e livrar-se de possíveis acusações de exclusão racial das minorias. Um negro ou japonês solitários em propaganda povoada de brancos representam o conjunto de suas coletividades. Afinal, negro e japonês são todos iguais, não é?”

Meses depois da fundação do Geledés — Instituto da Mulher Negra, ela é convidada para integrar o Conselho Nacional da Condição Feminina, em Brasília.

Suas ações no instituto repercutem, ecoam, na sociedade e no governo. Ao criar o  programa SOS Racismo de Geledés, por exemplo, redimensiona o racismo como violação aos direitos humanos.

No início dos anos 1990 – em  1992 -, Sueli Carneiro recebe a visita de um grupo de cantores de rap da periferia da cidade em busca por, frequentemente, serem vítimas de violência policial.

Como ela encaminha a solução? A  partir da criação do Projeto Rappers, onde os jovens são agentes de denúncia e também multiplicadores da consciência de cidadania dos demais jovens.

Produção Literária

Sueli Carneiro tem título de doutora em Filosofia e Educação pela Universidade de São Paulo. “A fundação do Outro como Não-Ser como fundamento do Ser “é o título da tese da sua tese de doutorado. Nela, ela usa os conceitos de Dispositivo e Biopeder, de Michel Foucault, para analisar as relações raciais no Brasil.

É também de sua autoria o estudo “Mulheres negras e poder: um ensaio sobre a ausência”, como forma de denúncia da hegemonia masculina e branca nas diferentes esferas de poder. Nele, ela não trata apenas da ausência pela baixa representação, mas se refere à mulheres negras que, mesmo presentes na institucionalidade, são prejudicadas por questões ligadas às discriminações de raça e de gênero.

A ex-ministra Matilde Ribeiro, da  Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR, vinculada ao Ministério dos Direitos Humanos, e a deputada federal Benedita da Silva servem como exemplos da violência política de gênero e raça sofrida por essas mulheres e como, ontologicamente, são elas vinculadas à subalternidade e não ao poder, especialmente na política institucional

Além do diagnóstico, com a exposição das fraturas de nossa pseudo democracia, a pensadora propõe soluções que têm sido implementadas. 

Sueli Carneiro é uma das principais referências da discussão do feminismo negro no Brasil e das cotas raciais nas universidades brasileiras, tem mais de 150 artigos publicados em jornais, revistas e em 17 livros com relação aos temas. É apontada como porta voz de uma geração.

“Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil” , “Mulher Negra: Política governamental e a Mulher” (1985); A cor do preconceito”, “Mulheres que fazem São Paulo”, “Escritos de uma vida” e “A mulher negra brasileira na década da mulher”  também levam a sua assinatura.

Trabalho reconhecido

Com sua obra de grande relevância na sociedade brasileira, não por acaso tem seu trtabalho reconhecido com a conquista do Prêmio Itaú Cultural em 2017; Prêmio Benedito Galvão, em 2014; Prêmio Direitos Humanos da República Francesa e Prêmio Bertha Lutz, em 2003;  Prêmio de Direitos Humanos Franz de Castro Holzwarth (Menção Honrosa), além do convite da Comissão de Igualdade Racial da OAB-SP, em parceria com as Comissões da Mulher Advogada, Advocacia Assalariada e Graduação, Pós-Graduação e Pesquisa, para celebrar sua vida e obra em 2020.

Em 2018, a filósofa e ativista Djamila Ribeiro (1980- ), cria o selo editorial Sueli Carneiro, inaugurado com uma coletânea em sua homenagem, em reconhecimento à importância de suas ideias e atuação.


Fontes: Wikipédia, Letras UFMG, SBMFC, Geledés, O Estado de S. Paulo

Atualizado em 29/8/2022

3 comentários em “Sueli Carneiro, poder negro em mãos femininas”

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