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Música eletrônica de preto: Underground Resistance

Com influências do punk, grunge, hip-hop e muito mais, em Michigan, nos EUA, nasce o detroit techno.

Underground Resistance no palco (Imagem: Reprodução Electronic Beats)
Underground Resistance no palco (Imagem: Reprodução Electronic Beats)

Com Mad Mike Banks, Jeff Mills e Robert Hood sendo os membros mais reconhecidos, o Underground Resistance, UR, mais que um coletivo de DJs para discotecagem de techno, é um movimento que mixa, mistura, som e posicionamentos políticos, desde que foi criado em 1989.

Na origem, o techno

A música eletrônica de Detroit a partir dos anos 1980 tem suas particularidades. Mais precisamente o Techno de Detroit tem como característica imaginar o porvir através de sons robóticos, luzes, futuros tecnológicos ou distópicos. Tudo presente na pista de dança.

A primeira vez que a palavra “techno” é utilizada para se referir a um gênero musical data de 1988. E, apesar das diversas ramificações, o Techno de Detroit é considerado o primeiro, a base para diversos outros estilos. Na origem, é a mistura do funk norte-americano, com electro, jazz elétrico e o house de Chicago (este que, por sua vez, esbanja edições de trechos com vocais e baterias de disco).

O poder do som 

Underground Resistance é afrofuturismo. Imaginar pessoas negras no futuro se faz necessário, em especial no contexto da cidade de Detroit na década de 1990.

A automação das fábricas faz com que muitas pessoas percam o emprego. A recessão econômica, causada pelo governo de Ronald Reagan, segue fazendo seus estragos… É urgente conscientizar a população afro-americana sobre questões políticas e a música é um caminho. Aí o poder do UR.

O trabalho é inspirar, estimular, ‘convocar’ pessoas pretas para o debate sobreidentidade, autoconhecimento, exploração de mão-de-obra. A proposta é conscientizar para uma mudança de comportamento do povo negro e, por consequência, para a transformação do cenário político.

O movimento do coletivo de DJs atraiu a atenção dos jovens negros que conviviam com a violência da cidade grande e se identificaram com a possibilidade de, em um mesmo espaço, curtirem música e se manifestarem como cidadãos, participando de discussões politicas.

Não demorou, o o coletivo foi associado a uma forma de difundir na sociedade os ideais dos Panteras Negras: 

“Todos os homens negros que você vê na América hoje são o resultado direto dessas ações: todas as liberdades que temos, bem como as restrições, remetem aos Panteras Negras na década de 1970. Então fazemos música sobre quem somos e de onde viemos. Claro que haverá ligações entre os pensamentos.”

– Jeff Mills, 2006

Resistência 

São mais de 30 anos do Underground Resistance e o coletivo se mantém ativo, com dezenas de membros, realizando desde gravações comercializadas de forma independente até produção de eventos.

Logo do Underground Resistance (Imagem: Wikimedia Commons)
Logo do Underground Resistance (Imagem: Wikimedia Commons)

Dois dos fundadores, Mills e Hood, não fazem parte do grupo desde 1992 – lançaram carreiras solos e conseguiram notoriedade. Robert Hood é considerado o fundador do “Minimal”, subgênero do Techno, que se caracteriza pela repetição de sons, no geral naturais, como pulsações e cantos de aves, e poucas batidas por minuto.

O coletivo, no formato atual, possui apenas em um álbum creditado com seu nome, o Interstellar Fugitives, de 1998. O trio original, entretanto, assina os álbuns X-101 (1991) e X-102 Discovers The Rings of Saturn (1992). 

Quanto aos singles, são mais de 50 creditados ao grupo.

Arte livre 

Assim como outros movimentos da contracultura, o Underground Resistance defende a independência e democratização da Arte, através da rejeição da comercialização do techno por grandes gravadoras. 

Em 1994,o DJ Rolando entra para o coletivo e, em 1999, lança o The Knights of The Jaguar‘, maior sucesso comercial do grupo. Ao observar a potencialidade do trabalho, a gravadora Sony BMG entra em contato para a comercialização do EP. E, mesmo sem obter qualquer retorno para a sua proposta, ela lança, sem autorização, na Alemanha, o cover de uma das faixas do EP.

Denunciada por Mad Mike, membro fundador do coletivo, a gravadora dá a desculpa de que iria creditar DJ Rolando como compositor. 

Apesar de o grupo ter o direito de agir legalmente contra a Sony BMG, Mad propõe uma ação política e direta com o público para não gerar lucro à gravadora, encorajando os fãs a entrar em contato com as lojas de disco e não consumirem a música.

Pretos de preto

Uma característica peculiar do UR é que os seus membros costumavam vestir-se de preto e esconder o rosto com bandanas e capuzes em registros fotográficos e apresentações de discotecagem. 

Por que isso?

É uma forma de todos os membros serem “iguais” e não criar uma imagem a ser comercializada. 

“Como o meu rosto pode ser mais importante do que a minha música?”

– Mad Mike 

As declarações políticas do UR gera, muitas vezes, comparações com o grupo de rap nova-iorquino Public Enemy, surgido alguns anos antes, a ponto de a crítica e a mídia americanas apelidarem o grupo de Public Enemy do Techno

Underground Resistance, em 2014, participou e foi tema de palestra no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque.

O coletivo pioneiro no techno de Detroit é inspiração para milhares de artistas independentes da música eletrônica. Atualmente, possui mais de vinte membros espalhados pelo mundo. Música eletrônica é som de preto, também.


Fontes: En.Wikipedia, Discogs, Vulture, Nytimes

4 comentários em “Música eletrônica de preto: Underground Resistance”

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