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Aquilombamento pedagógico na prática

Ao pautar uma educação para as relações étnico-raciais no ambiente escolar, a Escolinha Maria Felipa contempla as leis 10.639/2003 e 11.645/2008

Crianças em aula na Escolinha Maria Felipa (Imagem: Mundo Negro)
Crianças em aula na Escolinha Maria Felipa (Imagem: Reprodução Mundo Negro)

Antes de abrir as portas da Escola Afro-brasileira Maria Felipa, a professora Bárbara Carine Soares Pinheiro, por dois anos, aprofundou-se no assunto, promovendo encontros e entrevistas com militantes e pesquisadores da temática étnico-racial e pedagógica. Entre eles, Kabenguele Munanga, Ana Benite Canavarro e Wlamyra Albuquerque.

Embora proponha um olhar, ainda inédito, para a Educação Infantil, a Escolinha Maria Felipa respeita a Base Nacional Comum Curricular, do Ministério da Educação, que estabelece cinco campos de experiência fundamentais para o desenvolvimento das crianças. 

Na verdade, a Maria Felipa reserva cada dia da semana para um deles:

  1. Eu, o outro e nós;
  2. Corpo, gestos e movimentos;
  3. Traços, sons, cores e formas;
  4. Escuta, fala, pensamento e imaginação;
  5. Espaço, tempo quantidades, relações e transformações.

Mas, na transmissão de todo conhecimento, contempla a Pedagogia Histórico-Crítica como teoria contra hegemônica, que prevê a escola como espaço de socialização igualitária dos conhecimentos produzidos pela humanidade ao longo dos tempos.

A Pedagogia Histórico-Crítica ensina que dominar o que os dominantes dominam é condição de libertação. O que, na prática, representa o compartilhamento de  conhecimentos africanos e indígenas.

Um exemplo concreto do ensino a partir desta pedagogia é a ênfase na oferta de conhecimento sobre a  civilização egípcia no estudo da antiguidade clássica – uma civilização anterior à civilização greco-romana, que influenciou todo o mundo.

A história do Egito foi distorcida e encoberta, sobretudo no aspecto do protagonismo negro, nas versões ainda hoje divulgadas de forma maciça na cultura popular.

Na programação e atividades da Maria Felipa constam histórias como a do Império Maia, dos Reinos de Daomé e de Mali, aulas de artesanato com pintura, confecção de bonecos ibejis (link) e de bonecas abayomi (link), experimentos de ciências, aquarela em Libras, construção de árvore ancestral, heróis, heroínas, vestimentas, mapas e bandeiras do continente africano…

O Baobá, símbolo de ancestralidade, árvore de troncos enormes, testemunhas dos tempos imemoriais, princípio da conexão entre o mundo sobrenatural e o mundo material, entre o divino e o humano, também integram a programação que entende o conhecimento do continente africano como o elo que une a potência do nosso passado com a potência do nosso futuro. 

Ensino fundamental

A Maria Felipa oferece cursos até o 1º ano do Ensino Fundamental. Na aula de artes, que acontece em língua inglesa, um dos projetos é sobre afrofuturismo, com a apresentação de artes visuais e filmes – cada criança é estimulada  a criar uma arte dentro do universo afrofuturista. O filme Pantera Negra conta muito deste olhar.

No 1º ano, também, acontece a produção de máscaras africanas junto com a contação de história sobre suas simbologias, confecção de coroas para os reis e rainhas do bloco Ilê Maria Felipa, atividades de escrita e aulas de capoeira, dança afro, circo e teatro.

Para pais e professores

No seu programa Afroeducativa – Formações Pedagógicas Maria Felipa (links Úteis) oferecido em módulos na versão On line -, já na sétima edição, a Escolinha Maria Felipa compartilha seu conhecimento a partir de material didático com referenciais negros e indígenas e propõe o aprofundamento de estudos na educação antirracista como o racismo religioso no espaço escolar e a participação do  movimento negro na escola atual.

As formações sempre focam em uma educação antirracista e nas cosmo-percepções dos povos africanos e indígenas, fortalecendo caminhos possíveis que permitam reinvenções por meio também de tecnologias e saberes ancestrais. E  ainda ressaltam a importância de desconstruir narrativas hegemônicas, cisgêneras e heteropatriarcais que impulsionam hierarquias e desigualdades sociais. 

A escola e consequentemente as formações são não só mensagens para o futuro, mas representam a luta pelos símbolos, memória e possibilidades para que, de médio a longo prazos, haja um mundo que respeite a diversidade e as particularidades culturais que fazem parte do nosso país.

Socializar as práticas e referenciais teóricos formativos não é uma ação de mão única na visão de Maria Felipa, a ideia é construir coletivamente uma perspectiva de educação emancipadora, que possibilite as múltiplas formas de existir.

Bárbara Carine tem seis livros publicados, três deles bastante utilizados na escola:  “História Preta das Coisas”, no qual apresenta 50 invenções científicas e tecnológicas de pessoas pretas; “Descolonizando_saberes  – Mulheres negras na Ciência”, “Descolonizando Saberes: a lei 10.639/2003 no Ensino de Ciências”.

Conheça também Al-Qarawiyyin, a primeira universidade do mundo.


Publicado em 1 de setembro de 2021

3 comentários em “Aquilombamento pedagógico na prática”

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