O manda-chuva do pop americano acumula vários pioneirismos no mundo da música, vive uma infância difícil e nas teclas do piano encontra o seu céu, fugindo do medo e do mundo do crime.
O que este artigo responde: Por que Quincy Jones é considerado uma lenda? Quem é Quincy Jones? Quantos Grammys Quincy Jones ganhou? Quais são os pioneirismos de Quincy Jones na indústria musical? Como a música influenciou a vida de Quincy Jones na infância? Quincy Jones trabalhou com Michael Jackson? Qual a interferência do racismo na profissionalização de Quincy Jones? Quem Quincy Jones produziu? Quando Quincy Jones morreu?
Escolhas!
A vida de Quincy Delight Jones Júnior poderia ter tomado um rumo diferente caso realizasse seu desejo – até os 11 anos – de ser gangster. O destino, no entanto, não lhe reservou um espaço na marginalidade, mas na fama, com luz, câmera, ação, sucesso, luxo e muitos prêmios.
Ao longo de sete décadas, Quincy Jones conquistou todos os principais prêmios das artes nos Estados Unidos: o Grammy, da música – 28, de 80 indicações, em reconhecimento à excelência de seu trabalho; dois Oscars honorários, do cinema; um Emmy, da TV; o Tony, do teatro, e, ainda, um Grammy Legend, por sua carreira de compositor, arranjador, produtor musical e empresário.
Quincy acumula pioneirismos: primeiro produtor negro do mundo, primeiro negro a escrever trilhas sonoras para o cinema e o primeiro negro a ser indicado ao Oscar, pela criação da trilha sonora do filme A Cor Púrpura.
Nas próximas linhas vamos aprender muito com Quincy Jones… Ele conta, por exemplo, que o rap vem dos tambores da África.
“Não se vive sem água ou música.”
A frase é do nosso pioneiro, amante dos instrumentos musicais. Aos 14 anos, já tocava piano e trompete. E seu mentor não foi ninguém menos que Ray Charles, o “pai” da soul music.
Em 1947, com 17 anos de idade, morando com a família em Bremerton, Washington, conhece Ray – que já era um pianista talentoso e reconhecido no bairro em que moravam – e logo firmam amizade, formam um duo e passam a se apresentar em casamentos e clubes de jazz.
Depois, os dois se aventuram nas noites de Seattle, tocando ao lado de Billie Holiday – é acompanhando a cantora que o produtor decide nunca usar drogas. E ele conta o episódio em entrevista ao portal The Hollywood Reporter, diante da pergunta:
“O que você aprendeu com Billie?”
– “Oh meu Deus, fique longe da heroína. Ela mal conseguia
chegar ao palco, cara.”
E Quincy Jones recusa, também, a maconha oferecida pelo seu ídolo e colega de trabalho Charlie Parker, saxofonista e compositor.
Estudar ou trabalhar?
Outro divisor de águas na vida de Quincy é a escolha entre seguir os estudos de música -na Berklee College of Music, em Boston, uma grande academia americana de jazz – ou fazer uma turnê como trompetista e pianista na bandleader de Lionel Leo Hampton.
Ele só tem 19 anos, coloca todos os seus instrumentos em uma mala como músico profissional. E, ao lado de Hampton, desenvolve sua paixão por arranjos musicais e se impõe um novo desafio – era a década de 1950, período de segregação racial sem disfarce – banheiros, bebedouros, lugar nos ônibus, tudo separado, brancos de um lado e pretos do outro, com tudo de pior.
Para artistas negros, a somar-se: hotéis separados, porta dos fundos sempre nos locais de show, sem direito a restaurante e, sobretudo, a proibição de que negros escrevessem acordes para instrumentos de cordas!
O engenheiro
Não, Quincy Jones não muda de profissão, mas constrói e atravessa a ponte sobre o abismo que o impediria de brilhar como arranjador.
Depois do sucesso integrando o grupo de Leo Hampton, o músico se muda para Nova York, recebe inúmeros pedidos de composição de arranjos e passa a trabalhar para Sarah Vaughan, Count Basie, Duke Ellington e para seu velho amigo Ray Charles.
E não para: assina a direção musical da Dizzy Gillespie Band, em turnê pelo Oriente Médio e América do Sul; participa de concertos de jazz e monta seu próprio grupo instrumental para apresentações na América do Norte e na Europa.
Nas telas do cinema
Na década de 1960, a indústria cinematográfica dos Estados Unidos dá indícios de que seria um boom mundial. Observando como Hollywood se comporta, Quincy Jones sente que pode ganhar mais dinheiro no lado comercial da música.
Já consagrado como diretor musical, ele assina contrato com a Mercury Records e, em 1964, é promovido a vice-presidente da companhia, o primeiro afro americano a ocupar tal cargo.
Nessa função, começa a produzir trilhas sonoras para filmes e programas de TV e alcança 40 obras de sucesso! A primeira, a convite do diretor Sidney Lumet, é a trilha do filme The Pawnbroker (O Homem do Prego). Mas valem destaque, ainda, as trilhas dos filmes “A Sangue Frio”, “No Calor da Noite” e “A Cor Púpura”, indicado ao Oscar.
Dupla imbatível
De uma brincadeira – dita em tom sério – Quincy Jones ‘decreta’ a sua maior colaboração musical… Tudo acontece enquanto ele está trabalhando na trilha do filme “The Wiz”.
Quincy e Michael Jackson se conhecem e, após conversarem sobre assuntos diversos, Michael pede que ele indique um produtor para trabalhar no seu próximo álbum. Irônico, Quincy Jones diz o seu nome e, assim, nasce uma dupla imbatível.
As duas estrelas trabalham juntas durante oito anos, de 1979 a 1987, e brilham juntas.
Quincy produz os três primeiros álbuns solo de grande sucesso do “Rei do Pop”, que marcaram a fase adulta de Jackson, após deixar o grupo Jackson Five. A primeira produção é para o álbum “Off The Wall”, lançado em 1979 – vende 40 milhões de cópias e torna-se um dos mais aclamados discos de música negra do século XX.
A segunda produção é “Thriller”, de 1982, que, em 2024, ainda é o disco mais vendido da história da indústria musical, cerca de 120 milhões de cópias no mundo inteiro.
O terceiro trabalho é na composição do álbum “Bad”, de 1987 – 30 milhões de cópias vendidas mundialmente.
Na madrugada de 28 de janeiro de 1985, os dois voltam a trabalhar juntos em mais em outro dos feitos únicos de Quincy Jones: reunir, em estúdio, artistas americanos renomados para gravar a lendária canção “We Are The World”, canção foi composta por Michael Jackson e Lionel Richie, e arrecadar fundos para o combate à fome na Etiópia, a segunda nação mais populosa da África, a terra onde surge o primeiro ser humano.
Ativismo e filantropia
Mas orquestrar a canção “We Are The World”, chamando atenção dos governantes para o que se passa no continente africano e, desse modo, arrecadar capital para ajudar as famílias, não é a primeira ação solidária do produtor musical. Seu ativismo social começa nos anos 1960, com o apoio de Martin Luther King Júnior e, ao longo de sua vida, o compositor usa sua influência para ajudas comunitárias.
Na década de 1970, ajuda a fundar uma organização que prioriza fundos para criação de bibliotecas e a promoção de arte e música afro-americana nos Estados Unidos, o Institute for Black American Music (Instituto para a Música Negra Americana – IBAM).
Quincy Jones é também um dos fundadores do Black Arts Festival (Festival de Artes Negras), em Chicago, e trabalha ao lado do vocalista Bono, da banda U2, em vários trabalhos filantrópicos.
A instituição de destaque é a Quincy Jones Listen Up Foundation, uma fundação que dá aos jovens acesso à tecnologia, educação, cultura e música. Um dos programas da organização é o intercâmbio intercultural entre os jovens carentes de Los Angeles e da África do Sul.
Vida pessoal
Quincy nasce em 14 de março de 1933, no estado de Illinois, no sul de Chicago, Estados Unidos, e cresce em um ambiente segregado, onde os brancos detinham todos os privilégios.
Seus pais são Sarah Frances e Quincy Delight Jones Sênior. Ela, diretora de banco e gerente de apartamentos. Ele, jogador de baseball semiprofissional e carpinteiro. Mas o casal não lhe garante uma infância fácil. Ao contrário.
Sua mãe sofria de esquizofrenia – perturbação mental marcada por alucinações, delírios e desorganização do pensamento. Ele sentia medo dela. Isso porque falaram para ele que, em um dos seus ataques, poderia matá-lo. Daí sua preocupação constante em proteger-se e proteger seu irmão mais novo, Lloyd.
Como a música se encaixa na história?…
Com 6 anos de idade, ele já escapava para casa da vizinha para tocar piano quando a situação na sua casa estava ruim. A música era o seu porto seguro para fugir das perturbações e acabou desviando o seu caminho do mundo do crime:
“Eu queria ser um gângster até meus 11 anos”, recorda.
Aos 7 anos, órfão de mãe – ela é internada, em uma camisa-de-força, em um hospital psiquiátrico após um surto -, tem de morar com o pai e mulher dele.
Passados 10 anos, em 1950, ganha uma bolsa de estudos na Berklee College of Music, em Boston, onde cursa música por um ano.
Quando se muda para Paris, na França, retoma os estudos de composição musical e teorias da música clássica com os compositores franceses Nadia Boulanger e Olivier Messiaen.
Quincy Jones resiste às drogas ilícitas, mas em 1970 é viciado em trabalho e álcool. Compromete a saúde. Desenvolve diabetes, tem um aneurisma e quase morre.
Sobre seus amores…
Cinco mulheres! Se casou com três delas. Teve seis filhas e um filho: Jolie Levine, com Jeri Caldwell, a primeira esposa (1957); Rachel Jones, com Carol Reynolds (1966); Martina Jones e Quincy Jones III, com a atriz e modelo sueca Ulla Anderson; Kidada e Rashida Jones, com Peggy Lipton, e Kenya Jones, com a atriz Nastassja Kinski.
Ancestral
3 de novembro de 2024 é o dia da morte física de Quincy Jones. Mas sabemos que, na pior das hipóteses, ele já é eterno como figura central da música mundial.
O desfecho de sua jornada entre nós acontece, em sua casa, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Em comunicado à imprensa, a família compartilha a notícia do falecimento:
“Embora esta seja uma perda incrível para nós, celebramos a grande vida que ele viveu e sabemos que nunca haverá outro como ele”.
Quincy Jones estava com 91 anos.
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Vale assistir o documentário “Quincy”, que traça um panorama inédito da vida privada e da carreira invejável deste ícone da cultura e mestre da música pop americana, com direção e roteiro assinado por sua filha Rashida Jones e Alan Hicks.
A construção de um retrato íntimo do artista e a celebração de seu passado e de seu presente – suas contribuições para o jazz, o pop, o hip hop e o mundo da música em geral – acontece ao longo de três anos, enquanto o artista se prepara para o show de abertura do National Museum of African American History & Culture.
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Fontes: Uol, Schoolofrock, Wikipédia, Veja, Offradranch, SoukWalking, Netflix
Publicado em 4 de fevereiro de 2022. Atualizado em 4 de novembro de 2024
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