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InícioPioneirismo NegroLee Scratch Perry: original, excêntrico…

Lee Scratch Perry: original, excêntrico…

À frente de seu tempo na música, no visual irreverente, na maneira de falar, de utilizar as palavras, no jeito de estar no mundo…. 

Lee Scratch Perry se apresenta no Poppodium De Flux, Zaandam, Holanda, 8 de abril de 2018. (Imagem: Paul Bergen Redferns)

Antes das gravações, soprava fumaça em seu microfone para que a erva pudesse confundir-se na sobreposição das notas, na melodia, no ritmo. Pioneiro, o cantor e produtor Lee Scratch Perry levou o seu som da Jamaica para o mundo. 

Acreditava muito na espiritualidade transmitida pelos ensinamentos iorubás de sua mãe. E chegou a declarar-se um extraterrestre e só de passagem pelo planeta.

O chamado

Rainford Hugh Perry – mais tarde conhecido como Lee Scratch Perry – nasce no dia 20 de março de 1936 em Kendal. É o terceiro filho do casal de operários, Ina Davis e Henry Perry. Aos 15 anos, deixa a escola. Despreocupado e desempregado, ele vai morar no estado de Clarendon, onde inicia seu contato com a cena da dança e da música e ganha o apelido de “The Neat Little Thing” (traduzindo: arrumadinho).

Uma experiência espiritual, enquanto trabalhava em uma obra na cidade de Negril, faz Perry ir para Kingston terminar seus estudos e iniciar sua carreira no Studio One, um dos maiores estúdios musicais da Jamaica: 

“Quando as pedras se chocavam, eu ouvia como trovões, e eu escutava palavras. Estas palavras me mandavam para Kingston. Kingston significa “King’s Stone (pedra do rei), the son of the king (filho do rei). As pedras que eu estava jogando em Negril, me mandaram para a Pedra do Rei para me formar.”

“Empregado”

Os anos 1950 marcam o início da sua carreira musical. E ele começa vendendo discos e atuando como produtor nas gravações dos artistas do Studio One.

A sobrecarga de trabalho, os conflitos pessoais e financeiros entre Clement Coxsone Dodd, dono do estúdio, e Perry, motivaram o artista a buscar outro lugar para trabalhar o seu som. E ele vai para a Amalgamated Records, de Joe Gibbs, e, mais uma vez, tem de administrar problemas de grana.

Empreendedor

Em 1968 Perry funda sua própria gravadora, a Upsetter Records. Seu primeiro sucesso como cantor foi no mesmo ano com People Funny Boy, com samples de um bebê chorando e um ataque a seu ex-patrão, Joe Gibbs – o single vendeu mais de 60 mil cópias na Jamaica.

Lee Scratch Perry. (Imagem: Adrian Boot, Urbanimage Media)

O Ska e o Rocksteady dominavam as paradas na Jamaica, porém o que Lee Scratch Perry faz é algo diferente dos gêneros existentes, é algo novo que conhecemos como Reggae.

Entre 1968 e 1972, Perry e a banda de seu estúdio, The Upsetters, gravam dezenas de músicas populares tanto na Jamaica como no Reino Unido. Suas técnicas de produção musical, criatividade e excentricidade o tornam único, referência como cantor e produtor.

Arca Negra

The Black Ark (A Arca Negra) surge em 1973 – é um estúdio montado nos fundos de sua casa. Lá, ele se dedica mais às suas produções e cria sons inéditos, apesar dos equipamentos básicos que possuía.

Por muitos anos Perry em sua Black Ark produziu música para artistas de peso do Reggae, como Bob Marley and the Wailers, Junior Byles, Junior Murvin, The Heptones, The Congos e Max Romeo.

Lee Perry e Max Romeo, 1976. (Imagem: David-Burnett)

Em 1978, um incêndio destruiu tudo. Perry diz que foi ele quem ateou fogo no estúdio em um ataque de ira, devido ao estresse e energias negativas.

“Scratch tinha um som particular e todo mundo era fascinado pelo seu som. Ele tinha um jeito de arrumar as coisas. Só suas batidas já influenciaram muitas pessoas. Eu até fui para Black Ark com Eric Gale para gravar o álbum “Negril”. Eu lembro que eu e Val Douglas, nós gravamos algumas coisas lá, o Eric Gale regravou algumas coisas lá. Mas eu sinceramente não me lembro o que aconteceu, o que foi gravado.”

– Paul Douglas)

Visionário

Sem estúdio, durante os anos 1980, Perry passa o tempo entre Estados Unidos e Inglaterra fazendo shows, colaborações e gravações eventuais

No final da década, sua carreira ganha novo fôlego, quando começa a trabalhar com os produtores Adrian Sherwood, inglês, e Mad Professor, guianês. O trio se destaca no gênero Dub – um nome novo para um som que Perry, de certa forma, já fazia, uma derivação do Reggae ou um sub gênero, como preferem alguns.

Lee Scratch Perry (Imagem: NME/Getty)

O Dub une o Reggae com a música eletrônica – King Tubby, Lee Scratch Perry e Mad Professor são os pioneiros no gênero.

Uma lenda

Em 1998, Perry alcança o público global ao participar na música Dr. Lee, PhD. com o grupo Beastie Boys

Cinco anos depois, conquista o Grammy com o “Jamaican E.T.”, melhor álbum de Reggae. No no ano seguinte, a revista Rolling Stone o classifica como centésimo na lista dos 100 maiores artistas de todos os tempos. 

O documentário Lee Scratch Perry’s Vision of Paradise estreia nos cinemas de todo o mundo em 2015 para mostrar, além de seu trabalho, sua vida e visão espiritual do universo. 

Inúmeras turnês, festivais, colaborações, produções, um total de 61 álbuns em vida e muito mais.

O diretor Volker Schaner acompanhou o artista durante mais de 15 anos e conta possuir material para para outro documentário.. 

Perry viveu na Suíça com sua esposa Mireille e seus dois filhos. E lá, também, teve um estúdio, o Secret Labarotory, que em 2015 pegou fogo destruindo gravações inéditas.

Lee Scratch Perry. (Imagem: BBC/Getty)

Em outros países, teve mais quatro filhos. Sua morte acontece em 29 de agosto de 2021, aos 85 anos de idade, em um hospital em Lucea, Jamaica. A causa é desconhecida. 

Gratidão a Lee Scratch Perry por ter ficado entre nós. Extraterrestre ou não, deixou aos terráqueos sons pioneiros na utilização de samples excêntricos em suas criações e nos gêneros musicais que criou, batizados como os nomes de Reggae e Dub.


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Fonte: ElPais, RollingStones, En.Wikipedia

2 comentários em “Lee Scratch Perry: original, excêntrico…”

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