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Os oborós, orixás masculinos

Quando falamos sobre os orixás, mergulhamos em um mundo repleto de sabedoria, poder e mistério. Os Oborós, orixás que manifestam predominantemente energias masculinas, são pilares fundamentais na religião Yorubá, influenciando diretamente a vida, a cultura e a espiritualidade de seus seguidores. Desde Exu, o mensageiro e guardião dos caminhos, até Oxalá, o criador da humanidade, cada Oboró carrega consigo histórias ricas e lições valiosas sobre a existência humana e o universo. Vamos adentrar esse fascinante universo e descobrir mais sobre essas poderosas divindades.

As divindades africanas, os homens e o trânsito no feminino…

Oxossi, Logunede, Oxala, Xango, Omulu, Obaluae, Exu, Oxumare
Oxossi, Logunede, Oxala, Xangô, Obaluaê/Omulu, Exu e Oxumaré. (@vivoquadro/Facebook/Reprodução)

Todos os humanos, todas as civilizações e todas as filosofias nascem na África, o berço da humanidade, como afirma o professor Molefi Keti Assante, da Universidade de Temple, na Filadélfia (EUA).

Nós quem criamos os orixás para explicar como funciona a vida, para entendermos quem somos, a nossa concepção.  A mitologia é rica nas versões do nascimento dos orixás para contar da nossa diversidade.

Um exemplo?

É a partir do sopro e do fogo de Iansã que surge  o “sopro do espírito santo” que batiza, em Pentecostes – lá na chamada “bíblia sagrada” -, com línguas de fogo.

Neste artigo, entretanto, o foco são os orixás, que aparecem mais no masculino: Exu, Oxalá, Ogum, Oxossi, Obaluaê/Omulu, OxumaréXangô, entre muitos outros.

Mas para contar dos orixás masculinos, vale começar pelo Mito da Criação da Terra.

Planeta Azul

Olodumare – ou Olorum – é o Senhor Supremo, Deus dos deuses na Mitologia Yorubá, vivia na água, como reproduz a gênese bíblica (o espírito de Deus pairava sobre as águas. Não havia concretude das coisas). Ele é o criador de tudo, tem poder. Tudo lhe pertence.

Olodumare é a junção dos quatro elementos da natureza e entrega o saco da criação da Terra para Oxalá. Orienta sobre a necessidade de tal criação e avisa que, antes, ele deve consultar Orunmilá, o orixá responsável pelo oráculo, regente do jogo de búzios.

Oxalá consulta Orunmilá, que diz que ele tem que fazer um sacrifício (do latim, ‘sacro ofício’, trabalho divino), antes de criar a Terra. Mas Oxalá acha que não precisa, que dá conta de criar a Terra sem ir até Exu, o senhor dos caminhos, sem sacrificar nada.

E Oxalá sai para a sua empreitada. No caminho, sente sede. Vê uma palmeira, decide tomar vinho da palmeira, se embriaga e adormece. Oduduwa, que tudo observava, pega o saco da criação da Terra de Oxalá, conta para Olodumare o que aconteceu e pergunta se pode criar a Terra no lugar dele. Olodumare consente. Oduduwa faz o sacrifício, cria o planeta e passa a representar a divinização da Terra. 

Quando Oxalá acorda, vê que a Terra tinha sido criada. Corre a Olodumare para chorar as mágoas e Olodumare dá para ele uma outra tarefa: a da criação do homem.

Orunmilá, destaque-se, é a divindade oracular detentora da sabedoria, com trânsito entre o òrun e o aiyé – o céu e a terra -, encarregado de organizar e ordenar o mundo nos caminhos do bem.

Orunmilá, Caco Bressane
Orunmilá (Caco Bressane/Pinterest)

Oxalá, com a nova missão, tenta criar os seres humanos a partir dos quatro elementos da natureza. Só que feito do ar, o ser humano desvanece; de pedra, fica duro demais; de água, fica mole demais; do fogo, se consome… Nanã, a mãe ancestral, ligada ao mundo dos mortos, o socorre. Aponta para o fundo de uma lagoa. De lá, retira uma porção de barro e dá a Oxalá, que modela o ser humano – como reproduz, de novo, a gênese bíblica. 

Oxalá, o caracol

Os atributos dos orixás estão presentes na psique de todo mortal, seja ele iniciado ou não na espiritualidade africana.

Modos de conceber a nossa existência, filosofias, os orixás têm um lado luz e um lado sombra, transitam entre o feminino e o masculino e trazem a contradição em si mesmos

Embora não exista uma hierarquia esquematizada, Oxalá é o mais respeitado e admirado entre os orixás e os humanos e reúne em si características que, todos, precisamos, para seguir na nossa jornada de individuação.

Oxalá tem um olhar que consegue suportar as realidades da vida, por mais injustas que sejam, sem reclamar.

Ele percebe que tudo são oportunidades para o nosso desenvolvimento. E nos dá esse olhar de adaptação. Não por acaso fomos feitos da umidade da terra: para sermos maleáveis, aderentes aos aprendizados.

Um dos animais ligados a Oxalá é o caracol – uma referência à calma, à paciência, ao não viver de forma acelerada no dia a dia. A inspiração do caracol, aparentemente lerdo, é interessante: mais tranquilidade, mais vagar, mais consciência…

Oxalá, Hyana Espindola
Oxalá (Hyana Espindola/Pinterest)

O outro lado de Oxalá, entretanto, é o da procrastinação. E tudo, quando fica unilateral, é perigoso. Lerdeza é paciência, mas é também enrolação. Tem coisas que exigem maior prontidão. Teimoso, para a criação do mundo, não fez o sacrifício que tinha que fazer. Por isso, perdeu a oportunidade. Saliente-se que a sua teimosia tem a ver com a sua arrogância. O orixá sabe o que tem de fazer, mas nem sempre faz! 

Conta o Mito que Oxalá  tinha que fazer um sacrifício com sal, não fez. Exu entrou na casa dele e jogou um saco de sal nas suas costas . Assim, ele ficou corcunda. Virou o protetor dos corcundas e ficou impedido de comer sal.

Na dificuldade, precisamos pedir ajuda. Caso contrário, simbolicamente, vamos ficar corcundas e com a vida insípida, sem sal.

Oxalá nos deu a vida e o texto bíblico, ao reproduzir este mito, inclui a arrogância de Oxalá, ao registrar que “fomos feitos à imagem e semelhança de Deus”

Em contrapartida, ao criar o  Eku, que é a morte, Oxalá  estabelece um limite para o homem, o fim que tudo precisa ter para que o novo chegue.

A ausência de limites de Oxalá também se revela na tendência ao alcoolismo, à dependência química e à perplexidade, a se perder em meio a tanta criatividade. Por ter o ego inflado, é comum perder oportunidades e culpar os outros. Daí, a importância de se compreender os mitos. Eles falam de possibilidades, do tempo real das coisas, do que é bom e do que não é.

A vida nasce de Oxalá, ligado ao arquétipo de velho sábio, também conhecido como  Obalufã, Olaxufum e Obatalá.

Oxaguiã, batizado Ajagunã

Este é o filho direto de Oxalá, que nasce de um caramujo e sem cabeça (sem ori). Por isso, anda pela vida sem destino, sem consciência.

Conta o Mito que um dia, aparece o próprio Ori – que também é um orixá – e faz uma cabeça de inhame, branca para Oxaguiã. Só que a cabeça esquentava muito e o fazia sentir muitas dores. Mesmo assim, Oxaguiã segue seu caminho até encontrar com Eku, a morte, que decide lhe dar uma cabeça preta, fria, que também lhe trazia sofrimento e angústia. Ogum, pai da metalurgia, ao encontrar o orixá, resolve fazer uma cirurgia e misturar suas duas cabeças. Assim, Oxaguiã se torna um orixá com aspecto de guerreiro, inteligente, criativo e como diz seu próprio nome “comedor de inhame”. 

Oxaguiã, Breno Loeser
Oxaguiã (Breno Loeser/Pinterest)

Oxaguiã sempre voltava das guerras  – conta outro Mito – queria comer inhame. O problema era a lentidão no preparo de seu prato favorito, o que incomodava a ele e aos seus guerreiros. Mas, no lugar de irritar-se, Oxaguiã procura Exu, em busca de uma solução. Assim surge o pilão.

Esse Mito conta da liderança do orixá, que não se acomoda, que abre espaço para o novo. E traz, ainda, os opostos, o branco e o preto, o quente e o frio… Não dá para separar. Ogum trouxe a integração dos opostos, fez a cabeça azulada, que deu a Oxaguiã e o batizou como Ajagunã, o guerreiro mais valente, por conta de sua  força, rigor, estratégia de general e vontade consciente.

O nome de Oxaguiã está ligado ao inhame no pilão; é sinônimo de comprometimento e realização. Missão dada, missão cumprida.

Logunedé

Oxalá é considerado o pai de todos os orixás, com exceção de Logunedé, o eterno menino, filho de Oxóssi e Oxum, orixá da riqueza (trabalho) e da fartura (vaidade), que reúne as características de pai e mãe, dono de uma beleza ímpar, exímio caçador e pescador.

Logunedé passa seis meses com Oxossi, na mata, e seis meses com Oxum, no rio.

Obá e Oxum – duas mulheres em rixa eterna, se tornaram dois rios que correm em paralelo – sentiram Logunedé em suas águas. Mas quando Logunedé caiu no rio Obá, ela tentou afogá-lo. Orunmilá salvou o menino, atendendo o apelo de Oxum. Assim, Logunedé foi levado para a margem e passou a ser o orixá responsável pela pesca.

Logunedé, Tarcio Vasconcelos
Logunedé (Tarcio Vasconcelos/Pinterest)

Em outro mito, Oxalufá (Oxalá velho) olha para Logunedé, menino sempre solitário, e decide levá-lo para casa. Só que o menino resolve se apropriar de suas coisas, incluindo seu modo de fazer feitiços. Quando descobre, Oxalá o pune severamente: “toda vez que você roubar minhas coisas e disser que foi você que fez, vão me dar louvor; você vai ser homem durante um tempo e mulher durante outro tempo e não vai conseguir concretizar nada na sua vida – vai ser desmerecido -, e, por último, você vai ser eterno”.

Logunedé é o que está sempre pertinho da mamãe ou do papai – esta é a ideia do arquétipo. Ele é cheio de ideias, de imaginação fértil. Tem um grande interesse em se aprofundar nos assuntos, pesquisar, mas nem sempre tem disciplina para trabalhar no seu objetivo.

São as pessoas que começam três faculdades e não terminam nenhuma. É o eterno adolescente, que transfere responsabilidades, dá trabalho para a família…

Orixás Masculinos

Os orixás masculinos, como os femininos, trazem uma visão de mundo própria, com suas dinâmicas, projeções amorosas, aspectos construtivos e destrutivos, criativos e conservadores.

Luz e sombra, sempre. Não existe perfeição entre os orixás. Nem prisão por gênero. Homens e mulheres podem ter orixás femininos ou masculinos.

Exu, por exemplo, faz o que entende que deve ser feito, da maneira que acha que deve ocorrer. Não mede esforços para alcançar seu objetivo. Para ele, os fins justificam os meios. Ao mesmo tempo, é criativo, propõe encontros, a integração dos opostos, o desenvolvimento. A questão é o excesso de  flexibilidade, a energia pura, a fluidez.

A comunicação é o seu forte, mas ele tem habilidade para o que quiser. A questão do compromisso é a dificuldade em Exu – nem sempre executa o que tem de ser executado no prazo e com a responsabilidade necessária. 

Habilidoso, sedutor, faz com que o outro se sinta especial, inspira paixão, mas pode magoar. Suas relações são líquidas. Quanto mais se abrem possibilidades na psique, maiores as possibilidades de ter que lidar com coisas que a gente não gostaria de lidar. 

O ampliar da consciência

Existe proximidade entre Exu, Ogum e Oxóssi. Eles sempre aparecem nas histórias de outros orixás por conta dos princípios da comunicação, do ser guerreiro, da caça, da tecnologia, dos caminhos.

Os três são importantes para a ampliação da consciência. Eles olham para os opostos, são inovadores, trabalhadores:

  • Exu – caminhos, inícios, travessia, encontros, mediação
  • Ogum – guerreiro, tecnologia, inovação
  • Oxóssi – provedor do sustento, princípio do trabalho

Mensageiro entre os homens e os deuses, Exu, criado por Olorum, a partir da Érupé (lama), deu a ele a função de dotar os seres de capacidade de movimento. Exu é a energia que está presente em tudo que existe. É o guardião da porta da rua. Só por meio dele é possível invocar os orixás.

Ele é o caminho – não por acaso Jesus (Yeshua, em aramaico) se confunde com ele! Exu quebra a lógica do “piloto automático”. A encruzilhada é o ponto de encontro, a integração, a consciência de si, as possibilidades.

Leia mais sobre Exu clicando no link.

Do barro ao metal

No princípio dos tempos, os utensílios eram de barro ou madeira. E Ogum tinha o segredo do metal com ele. Orunmilá, que criou a terra, deu-lhe esta sabedoria.

E ele guardou este segredo dos outros orixás. Virou rei sobre todos. Despertou a inveja, pelo seu saber. 

Este é o orixá guerreiro, combativo, trabalhador. Tem forte disposição para alcançar o que considera importante. Hábil, tenaz, estudioso, perseverante.

É o pai da metalurgia, traz a inovação, a tecnologia. Lida bem com as adversidades. Tão esforçado, nem pensa em lazer. Estresse, fadiga e depressão podem ser as suas marcas.

É o senhor das estradas, do ir-e-vir. Legal, generoso, mas independente, o que pode gerar conflitos no ambiente familiar. A somar-se, ainda, contra ele, sua impulsividade.

Ogum, Breno Loeser
Ogum (Breno Loeser/Pinterest)

Sua tendência maior é para a  extroversão, em busca dos seus objetivos no mundo, mas a energia pode entrar em regressão quando ele se envolve em momentos de explosão, fala e faz coisas que geram destruição, tensão e hostilidade.

Mas Ogum não é arrogante. Não se identifica com o poder, é desprendido. Como todo mundo, traz a contradição em si. Nem sempre consegue respeitar o sagrado no outro, a dor do outro e, ainda, tem um lado conquistador – um único relacionamento pode trazer dificuldade para Ogum por conta de seu jeito livre de ser, de sua busca por prazer e sexo.

Como pai, tende a ser leal, comprometido, prezar o respeito e a segurança, protegendo, cuidando e garantindo estabilidade. Costumeiramente associado à guerra e ao fogo, Ogum estabelece um arquétipo de luta e conquista. É o orixá que com maior proximidade com os seres humanos depois de Exu.

Conta o Mito que Ogum, filho do rei Oduduwa, fundador da cidade de Ifé, apesar de viver os privilégios de um príncipe, era uma figura bastante inquieta e gostava muito de representar seu pai nas lutas pela conquista de novos territórios. Assim, ele tornou-se uma divindade que inspira a constante tomada de atitudes.

Aglomera um universo de comportamentos impulsivos e, ao mesmo tempo, pragmáticos. Ao mesmo tempo em que
luta com bravura e se entrega ao amor intensamente, também é reconhecido por gostar da presença dos amigos e ter alegria de viver. Temperamental como Exu, não possui a mesma sagacidade e malícia do irmão.

Oxóssi, o caçador

Deus da caça, gosta da mata e nela, esquece da vida. Oxóssi não é só o bom e o belo. Ele não respeita os princípios – nem todo dia é dia de caça!

O mito conta a história de um pássaro – pousado no telhado de um palácio do reino -,  enviado por algumas feiticeiras para trazer a fome e a miséria para o povo. Nenhum caçador conseguia matá-lo e, enquanto ele estivesse ali, haveria seca e os legumes não iriam brotar. Até que Oxóssi, caçador de uma única flecha, consegue afastar a dor e a miséria, e trazer a alegria.

Leia mais sobre Oxossi clicando no link.

Orixá das florestas

Ossain/Ossanha é outro orixá da cura, da flora e da manipulação das ervas, protetor das plantas medicinais e sagradas, ajuda os que pedem por saúde.

Tem como principal característica ser muito reservado.

Na Mitologia Yorubá, é responsável pelo axé, pela energia, com a cura promovida pelas ervas. Sua história é próxima à de Orunmilá, do jogo de búzios, do ifá.

É a figura do sacerdote que vai trabalhar com o oráculo. Faz parte do dia a dia. Mas existe tensão entre Ossaim e Orunmilá, entre o oráculo e a eficácia das folhas e das ervas.

Um Mito conta que Iemanjá vivia com Oxossi e Ogum, seus filhos, e teve um mal pressentimento. Consultou o oráculo e foi aconselhada a proibir Oxossi de ir caçar nas matas, pois Ossaim reinava na floresta e podia aprisioná-lo. Independente, Oxossi rejeitou os apelos da mãe e continuou indo às caçadas. 

Um dia encontrou Ossaim, que lhe deu de beber um preparadoOxóssi perdeu a memória e foi raptado. Ossaim banhou o caçador com um preparado de ervas misterioso e ele ficou no mato morando com Ossaim. Ogum, inconformado com o rapto do irmão, foi à sua procura e não descansou até encontrá-lo. Finalmente livrou Oxossi e o trouxe de volta a casa. Iemanjá, contudo, não perdoou o filho desobediente e não quis recebê-lo. Oxossi voltou para a floresta e passou a viver com Ossaim. Ogum, por sua vez, brigou com a mãe e foi morar na estrada. Iemanjá sentiu demais a ausência dos dois filhos, tanto chorou que suas lágrimas ganharam curso e se avolumaram em um rio. 

Ossaim, @augustinhoart
Ossaim (@augustinhoart/Pinterest)

Outro Mito conta que Ossaim vivia com um gnomo de uma perna só chamado Aroni, que lhe ensinou o segredo das folhas e ervas e foi vendido como escravo para Orunmilá. Um dia, Orunmilá decidiu fazer um plantio e mandou Ossaim limpar o terreno. Só que Ossaim, que conhecia as folhas e ervas, não podia arrancá-las e contou para Orunmilá a utilidade de cada uma delas. Orunmilá achou aquele conhecimento importante e decidiu que Ossaim ficaria perto dela para promover a cura na vida das pessoas.

A atitude de Orunmilá, Iemanjá, Ogum e Oxossi fala da importância da escuta e como a arrogância e a prepotência são prejudiciais. Quando na liderança, o ideal é acolhermos, prestarmos atenção a todos que estão juntos. Em tudo e todos existe algo a aprender.

Outro Mito conta que Xangô considerava injusto que só Ossaim detivesse o axé, o poder da cura. Todos os orixás concordaram e exigiram que Ossaim distribuísse as folhas e ervas para que todos tivessem o mesmo poder. Ossaim entregou tudo, ficou sem nada e, ao mesmo tempo, as folhas e ervas perderam a eficácia e algumas até secaram. Xangô reconheceu que as folhas e ervas deveriam ficar somente nas mãos de Ossaim e que todos os orixás deveriam reconhecer o seu poder de cura e transformação.

O medo é um instinto de autopreservação. Nem sempre devemos vencer todos os medos. Ter a noção de limite é sábio. Temos de reconhecer o valor uns dos outros.

Curador ferido

Obaluaê/Omulu é o único orixá que traz energia progressiva e regressiva. Como Obaluaê é ligado ao princípio da vida, à energia progressiva, e como Omulu é ligado ao princípio da morte, à energia regressiva. É o orixá da saúde e da doença, da cura e da morte, os princípios dinâmicos da vida.

Tudo nele está ligado à marca da rejeição, a questão do abandono,  à impotência, às feridas na alma, que repercutem nas relações ao longo da vida, de forma inconsciente. Quando nasce, é rejeitado por Nanã, sua mãe, desenvolve a varíola e fica com as marcas no corpo e na vida.

Obaluaê, Omulu, Roniery
Obaluaê/Omulu (Roniery/Pinterest)

Daí a importância de se ter consciência deste sentimento de exclusão, de desvalorização, para não sabotar as relações reais. Quando a ferida é acolhida, vem para a consciência, é possível compreender que talvez o problema não seja o outro, a outra, mas algo em nós que nos cega. 

Da rejeição vem o complexo e se perde a conexão com a realidade no momento presente. Sentimentos de menos-valia, inferioridade, têm de ser acolhidos para não crescerem e comprometerem a nossa qualidade de vida.

Existe um momento em que todos os orixás estão reunidos, dançando. E Obaluaê, por se sentir muito feio, excluído, não participa da festa. Mas Oxum, num ato de generosidade, vai buscar o aspecto da criatividade e faz uma roupa de palha e lhe cobre inteiro. Aí ele entra na festa e começa a dançar. Iansã, através da magia do vento, começa a esvoaçar as palhas da roupa de Obaluaê e, das feridas do seu corpo, começam a explodir pipocas e ele se transforma em um jovem muito belo.

Iansã e Obaluaê começam a dançar e desenvolvem uma proximidade tal que passam a ser os dois que vão reger o espírito dos mortos.

Ele é o curador ferido. Suas áreas de atuação são a educação e a saúde. Prefere as leituras, ouvir música, ficar ensimesmado para recarregar as energias.

Leia mais sobre Obaluaê clicando no link.

Nem tudo em nós é amado

Outro filho de Nanã, Oxumaré, é símbolo da continuidade, permanência e do eterno movimento da vida. Orixá da transformação, tem como meta o desenvolvimento, o desprendimento, o esforço e a dedicação em todos os relacionamentos. Rege o princípio da multiplicidade da vida e o transcurso entre destinos variados.

Oxumaré é o arco-íris, que atrai, e a serpente que repele – versões de nós mesmos que, muitas vezes, funcionamos como espelho para o outro. Nem tudo em nós é amado.

Como grande cobra arco-íris, envolve a Terra e o céu, assegurando a renovação do planeta por meio dos seus ciclos, como principal responsável pelos movimentos de rotação e translação. Para ele, tudo é beleza, é riqueza. Seu olhar a vida amplia a consciência.

Ao mesmo tempo, representa as dualidades: é homem e mulher, dia e a noite, bem e mal, água e terra e tudo o que é duplo, ambíguo.

Ele é a união dos opostos, sintetizando a mortalidade corporal e a imortalidade espiritual de cada um de nós. Oxumaré é transformação.

No masculino, tem sua conexão com o feminino através da irmã gêmea, Ewá.

Conta um Mito que Xangô quis Oxumaré, a sua natureza feminina, à força e a aprisionou. Ela pediu ajuda para Olodumare, virou serpente e fugiu das garras de Xangô. Quando os dois se tornaram orixás, Oxumaré assumiu a responsabilidade de levar água a Xangô, mas ele nunca poderia tocá-la. O ensinamento, contido no Mito, é que a nossa agressividade não constrói.

Oxumaré, @augustinhoart
Oxumaré (@augustinhoart/Pinterest)

É o deus da chuva, mora no céu e viaja através do arco-íris para a Terra. Transporta a água entre o céu e a terra, traz as características do animal como a mobilidade, a agilidade e a destreza. Além disso, representa a fortuna, a abundância e a prosperidade, que são realizações importantes para o seu povo

Leia sobre Ewa, a natureza feminina de Oxumaré, no artigo das Yabás.

Bondade = Justiça?

Xangô é o deus do raio, do fogo, do trovão, o orixá  da justiça. Castiga mentirosos e protege advogados e juízes. E ensina: muitas vezes, as situações se assemelham, mas nunca são iguais. Transborda energia, vida. Seu propósito? Ser rei. Apreciar a vida como rei, com uma corte ao seu redor.

Xangô, Caco Bressane
Xangô (Caco Bressane/Pinterest)

O lado sombra de Xangô, conta a Mitologia, é o não respeitar limites. Por isso, seus pais decidiram que Ogum, por ser mais responsável, deveria ser coroado rei.

Mas Xangô deu uma beberagem para Ogum no dia da coroação, se cobriu de pelo e se deixou coroar, como se fosse o irmão

É a mesma história que a bíblia copiou, de Esaú e Jacó, que engana o pai e rouba a bênção da primogenitura, na gênese.

Leia  mais sobre a apropriação da Mitologia Africana pela chamada “bíblia sagrada” no artigo Racismo Religioso, entre a cruz e a espada.

E, como rei, Xangô dita as regras, diz o que é certo e o que é errado. Tem vontade consciente, determinada e até imperativa. Preza pelo intelecto e pela razão.

É o líder, o patriarca, mas pode ser um pai muito permissivo, indisciplinado, tipo irmão mais velho, ou bastante absolutista, machista, cerceador da liberdade da esposa e dos filhos, caso não tenha uma atitude consciente frente a este padrão mitológico.

Grande amante, sedutor, valoriza o prazer e a satisfação. O eros é fortíssimo.


Fontes: Instituto Freedom – Mitologia Afrobrasileira e Psicanálise, Juntos no Candomble, Pregação Cristã, Wikipédia , Astrocentro

Atualizado em outubro 2023

Oborós: Os Poderosos Orixás Masculinos e Seus Ensinamentos

Os Oborós são orixás masculinos que desempenham papéis cruciais na religião Yorubá, representando diversos aspectos da vida, da natureza e do cosmos. Entre eles, destacam-se Exu, o orixá da comunicação e dos caminhos; Oxalá, o pai da criação; Ogum, o deus da guerra e da tecnologia; Oxossi, o caçador; Obaluaê/Omulu, associado à saúde e à doença; Oxumaré, o arco-íris e a renovação; e Xangô, o orixá da justiça e do trovão. Cada um desses orixás possui suas histórias, simbolismos e ensinamentos, que não apenas moldam o entendimento do mundo pelos seus seguidores, mas também oferecem orientações para a vida cotidiana, destacando a importância do equilíbrio, da justiça e da harmonia com o universo.

Quem são os Oborós na religião Yorubá? Os Oborós são os orixás masculinos na religião Yorubá, representando forças e aspectos variados da vida e da natureza.

Quais são alguns dos principais Oborós e suas funções? Alguns dos principais Oborós incluem Exu (comunicação e caminhos), Oxalá (criação e paz), Ogum (guerra e tecnologia), Oxossi (caça e floresta), Obaluaê/Omulu (saúde e doença), Oxumaré (renovação e ciclos), e Xangô (justiça e trovão).

Como os Oborós influenciam a vida dos seguidores da religião Yorubá? Os Oborós influenciam a vida dos seguidores ao oferecerem proteção, orientação e ensinamentos sobre diversos aspectos da existência, desde questões cotidianas até a compreensão do cosmos.

Qual é a importância de Oxalá entre os Oborós? Oxalá é considerado um dos mais respeitados e venerados Oborós, sendo o orixá da criação e simbolizando a paz, a pureza e a liderança espiritual.

Como os ensinamentos dos Oborós se aplicam ao cotidiano dos praticantes? Os ensinamentos dos Oborós se aplicam ao cotidiano dos praticantes ao orientar comportamentos, decisões e relações, promovendo valores como equilíbrio, justiça, respeito à natureza e harmonia com o universo.

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