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Viola Davis, sem limites

Não é a primeira vez que a atriz se torna a que tem maior número de indicações ao Oscar. Em 2017, escrevemos a respeito! Pioneiríssima, derruba barreiras e vence desafios.

Viola davis com seu Oscar

Vale enumerar seus feitos:

1. Viola Davis torna-se a 23ª atriz, primeira negra, a integrar a chamada “Tríplice Coroa de Atuação” (em inglês, Triple Crown of Acting), um dos mais prestigiados “clubes” de atores e atrizes do mundo, que reúne só os premiados por suas atuações em cinema, teatro e TV, respectivamente com o Oscar, Tony e Emmy.*

2. Só a indicação, vitoriosa, por seu papel no filme de Denzel Washington, com quem também contracenou, colocou Viola Davis na posição de primeira atriz negra a receber três indicações ao Oscar! A atriz concorreu, em 2009, por Dúvida, também como atriz coadjuvante, e em 2012 por The Help (Histórias Cruzadas), como atriz principal.

Viola Davis e Denzel Washington

3. Viola também faz história no Oscar 2017 por integrar um trio de atrizes negras indicada em uma mesma categoria, ao lado de Naomie Harris e Octavia Spencer, que concorreram, respectivamente, com os filmes Moonlight: Sob a Luz do Luar e Estrelas Além do Tempo. É a primeira vez que tal situação acontece em 89 anos de premiação.

4. E o pioneirismo segue: é a primeira vez que mais de uma atriz negra é indicada na categoria desde 1985, quando Margaret Avery e Oprah Winfrey concorreram por A Cor Púrpura.

Uma quarta atriz negra também foi indicada, mas na categoria principal: Ruth Negga, por Loving.

5. Em 2017, já pioneira em indicações, Viola Davis recebe a estatueta pela atuação em Fences (Um Limite Entre Nós), em 2017, na categoria Melhor Atriz Coadjuvante.

6. Em 2021, a atriz recebe a quarta indicação geral da carreira na história do Oscar, na pele de Ma Rainey em A Voz Suprema dos Blues, na disputa pelo prêmio de Melhor Atriz.

O pioneirismo e o racismo

Estar neste lugar único não é exatamente um motivo de festa, pois revela a baixa diversidade racial da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos, conforme comentário da atriz à revista Variety:

“É um reflexo das oportunidades. Ser uma atriz negra é como ter um corpo fabuloso, mas não ter as roupas certas para o exibir”.

A última mulher negra a vencer na categoria de Melhor Atriz foi Halley Berry, em 2002 – a única na história de 93 anos da premiação!

Alvo de diversas críticas, em 2020, os membros da Academia adotaram uma nova política de indicação ao prêmio, estabelecendo a exigência de que todas as produções que queiram concorrer ao prêmio de Melhor Filme trabalhem a questão da diversidade dentro e fora dos sets de filmagem. Mas esta decisão só passa a valer a partir da 96ª edição, em 2024.

A mãe do blues

A Voz Suprema do Blues, da Netflix, uma adaptação original da peça de teatro escrita por August Wilson, sobre a cantora Ma Rainey, conhecida como a “mãe do blues, numa época em que as mulheres eram as grandes protagonistas do gênero.

A produção se passa em Chicago, 1927, e acompanha a relação conturbada da artista com a indústria da música, principalmente com os seus empresários brancos que tentam controlá-la a todo custo. E explora também os conflitos, durante uma sessão de gravação de álbum, entre a cantora e seu trompista, o ambicioso Levee, interpretado por Chadwick Boseman, em seu último trabalho.

Ma Rainey (1836-1939) não criou o blues, mas foi a primeira cantora desse estilo a ficar famosa na cultura norte-americana. Ma Rainey lançou as primeiras gravações de canções como Bad Luck Blues e Moonshine Blues.

Na Netflix, também, um documentário, com o nome do filme, conta mais sobre os anos 1920 para as mulheres, para os negros, para o blues e toda a intencionalidade embutida no filme.

Viola, por Denzel

Esta última indicação de Viola Davis tem a ver com uma parceria de cerca de 20 anos, entre Viola Davis e Denzel Washington. São muitos trabalhos que os dois fizeram juntos, esteja ele no papel de diretor (Antwone Fisher), estrela (interpretando Troy Maxson para sua Rose Maxson no drama familiar Fences, na Broadway, e depois no cinema) ou produtor – ele a escalou para ser Ma Rainey.

E o jornal The New York Times não resistiu e pediu que explicasse:

“O que torna Viola Davis tão incrível?

Denzel responde:

“Eu sabia que ela era uma grande atriz desde quando fez o teste para Antwone Fisher, 20 anos atrás. Experimentei seu poder, sua força e seu talento durante as filmagens. Ela veio pronta, no personagem, e eu basicamente a deixei sozinha. Na verdade, não havia nada a dizer, exceto ‘Obrigado’ e ‘Vamos fazer mais um’.

Ela é um talento único em uma geração. Você nem sempre sabe disso imediatamente, mas todos nós já experimentamos isso ao longo do tempo. Quando eu estava com ela na peça [“Fences”], mesmo no ensaio, era como, ‘Oh, OK, ela é uma potência’. (…) por volta da terceira semana de ensaio, ela mostrou para onde estava indo. E eu pensei, ‘É melhor eu alcançá-la. Eu tenho que me concentrar’.

Tivemos um tremendo sucesso, então nunca houve dúvidas sobre quem faria o papel no filme. E uma mulher poderosa, forte e humilde. O diretor [George C. Wolfe] teve que convencê-la sobre Ma, em Ma Rainey. (…) Ela estava tipo, ‘Eu não posso cantar. Eu não tenho ritmo ‘… Mas ela pode fazer o que quiser. Ela tem muita habilidade. É uma das melhores intérpretes com que tive a oportunidade de colaborar.”

Questão de oportunidade

Este pioneirismo em indicações negras no Oscar remete, também, ao discurso de Viola Davis quando conquistou o Emmy Awards de Melhor Atriz na categoria Série Dramática, em 2015, por sua atuação como a professora Annalise Keating, protagonista na série How To Get Away With Murder. Até então, atrizes negras só haviam sido premiadas nas categorias comédia e minissérie.

Viola Davis ao receber Prêmio

Emocionadíssima, a primeira atriz negra na história desta premiação, lembrou outras atrizes negras preteridas na indústria do entretenimento: “A única coisa que separa as mulheres de cor de qualquer outra pessoa é a oportunidade. Você não pode ganhar um Emmy por papéis que simplesmente não existem”.

Durante o discurso, também, Viola dedicou o prêmio à sua concorrente direta, a atriz Taraji P. Henson, do filme Empire. Juntas, as duas marcaram outro pioneirismo, pois pela primeira vez duas negras foram indicadas ao prêmio que existe desde 1948, ou seja, 67 anos!

O Emmy Awards é um prêmio atribuído aos programas e profissionais de Televisão dos Estados Unidos e equivale ao Oscar para o Cinema, ao Tony para o Teatro e ao Grammy da Música.

Viola Davis recebendo Prêmio

Viola conquistou dois Tony Award de Melhor Performance de Atriz em Peça. O primeiro, em 2001, por sua interpretação como Tonya, em King Hedley II, uma mãe de 35 anos de idade lutando pelo direito de abortar. O segundo, em 2010, por sua performance no revival da peça vencedora do Prêmio Pulitzer de Teatro, de August Wilson, Fences, que lhe valeu o prêmio no Cinema.

Viola Davis recebe Prêmio

Seu desempenho vem sendo reconhecido em outras indicações e premiações. Dúvida, de 2008, lhe rendeu diversas indicações, incluindo Globo de Ouro e Prêmio do Sindicato dos Artistas. No papel da empregada doméstica em The Help (A Resposta), de 2011, foi indicada não só ao Oscar de Melhor Atriz, mas ao Globo de Ouro de Melhor Atriz em filme dramático, BAFTA de Melhor Atriz em Cinema e, ainda, conquistou o Prêmio do Sindicato de Atores de Melhor Atriz Principal.

Superação

Viola Davis foi a segunda a nascer dos seis filhos do casal Mae Alice e Dan – ela, empregada doméstica, operária de fábrica e dona de casa; ele, treinador de cavalos.

A data de nascimento é 11 de agosto de 1965. O local? A fazenda de sua avó na Carolina do Sul, Estados Unidos. A condição sócio-econômica? “De extrema e abjeta pobreza”, de acordo com suas próprias palavras.

Seu talento, descoberto na adolescência, lhe valeu uma bolsa de estudos na Escola de Jovens para as Artes Performáticas, em Rhode Island College, onde graduou-se em 1988. A Juilliard School também fez parte de sua vida estudantil.

Viola começa a carreira atuando em peças de teatro e em papéis coadjuvantes no cinema. Entre os primeiros papéis, destaque-se os filmes Kate e Leopold (2001) e Far from Heaven (2002) e pela série televisiva Law & Order: Special Victims Unit.

Viola Davis tem uma estrela com seu nome na Calçada da Fama, como reconhecimento de seus feitos na indústria cinematográfica.

A atriz é uma das mais procuradas de Hollywood e, entre os filmes em que atuou, destaque-se, também, Universo DC (Esquadrão Suicida), de 2016, o qual interpreta a vilã Amanda Waller.

Oscar Negro

Considerando as indicações masculinas, o ano de 2017 marca a a primeira vez na história que o Oscar inclui artistas negros em todos os prêmios de atuação Denzel Washington e Mahershala Ali . O recorde é especialmente significativo depois de dois anos consecutivos com zero diversidade nestas categorias.

Denzel Washington está em Fences , o filme que valeu o Oscar 2017 a Viola Davis e que conta a vida de Troy Maxson e os conflitos que permeiam suas relações sociais e familiares. Casado com Rose, ele ganha a vida como catador de lixo, em uma América hostil aos negros.

A partir do momento que seu filho Cory (Jovan Adepo) decide seguir carreira no beisebol (um antigo sonho de Try), a convivência entre eles começa a ficar cada vez mais complicada.

Por Fences, Viola Davis também conquistou os prêmios Globo de Ouro, Critics’Choice Movie Award, New York Film Critivs Circle Awardsde, San Francisco Films Critics Circle e Washington D.C. Area Film Critics Association  como Melhor Atriz Coadjuvante.

*Registre-se que a artista negra que mais perto chegou de entrar para o seleto grupo de estrelas premiadas foi Whoopi Goldberg. Ela também completou a  chamada “Tríplice Coroa de Atuação”, sendo premiada nos  três diferentes veículos: cinema, teatro e TV, respectivamente com o Oscar, Tony e Emmy, mas o Tony foi entregue pelo seu trabalho de produção em Thoroughly Modern Millie, e não por seu trabalho como atriz.

Em busca de mim

Em 4 de julho de 2022, a atriz lança sua autobiografia Em busca de mim, um livro primoroso que traz detalhes de sua história inteira de criança, jovem, adulta, atriz, mulher negra, retinta, pobre, periférica, considerada feia, sem graça, não sensual, lutadora, que teve de conviver com ratos, enfrentar a fome, a violência e a solidão.

Um viver impactante em que ensina a cada leitor/espectador o que é ser atriz e a total falta de glamour da profissão, o que é ser quem ela é– não á como não se reconhecer em algum momento.

Nele, também, a alegria de cada conquista, de cada prêmio, de cada novo papel e como tem sido longa a sua jornada pessoal e profissional.

Em busca de mim é, também, um convite à imersão em todo o seu trabalho que, com certeza, leva a um outro olhar sobre papéis desempenhados em novos e antigos filmes, como o longa Mulher-Rei e a série televisiva Como defender um assassino (How To Get Away With Murder), em que encarna a advogada criminalista e professora Annalise Keating se envolve em um caso de assassinato junto com cinco de seus alunos.

Sobre a série, aliás, ela conta, na página 256, que cumpriu um dever ao defender que teria que tirar a peruca em um momento privado e intenso, junto com a maquiagem, durante a primeira temporada:

“Tirar a peruca era meu dever para honrar mulheres negras ao não mostrar uma imagem palatável para o opressor, para pessoas que mancharam e puniram a imagem da feminilidade negra por tanto tempo. Dizia que tudo que somos é lindo. Mesmo nossas imperfeições. Com ,How To Get Away With Murder, eu me tornei artista no verdadeiro sentido da palavra”.

Às pessoas românticas, ainda, os capítulos finais do livro.

Estrela de 1ª grandeza

Para completar, Viola Davis fez história na 65ª Cerimônia de Premiação do Grammy em 5 de fevereiro de 2023, após vencer na categoria de Melhor Áudio Livro, Narração e Gravação de Histórias por sua biografia.

E com este Grammy, da indústria musical, Viola conquista o status de artista EGOT, um dos títulos máximos da cultura norte-americana, que se refere às estrelas detém as estatuetas das principais premiações do meio artístico: além do Grammy, Emmy, Oscar e Tony.

Viola é a 18ª pessoa e a terceira mulher negra a conquistar o status. As duas outras são  Whoopi Goldberg e Jennifer Hudson.

Fontes: Portal Geledes e Ig, Wikipedia, jornais Folha de S. Paulo e The New York Times, Los Angeles Times, revista Raça

Escrito em 27 de fevereiro de 2017. Atualizado em fevereiro de 2023.

3 comentários em “Viola Davis, sem limites”

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