A cerca de seis mil anos, três milênios antes dos gregos, e paralelamente aos sumérios na antiga Mesopotâmia, os povos do Nilo no Egito Antigo já escreviam e registravam a sua história. O povo africano não é exclusivamente oral. É do continente africano o pioneirismo da escrita.
O que este artigo responde: Quem foram os pioneiros da escrita? Qual é um exemplo de sistema de escrita africano? Como a escrita africana influenciou a história? Por que é importante reconhecer a contribuição africana para a escrita? Qual é o impacto da tradição oral na cultura africana?


Sistema de Escrita Shü-Mom, em Camarões, desenvolvido pelo Rei Njoya em 1896, quando ele tinha apenas 25 anos. É defendido pelo linguista Maurice Tadadjeu que este sistema poderia escrever qualquer língua humana.
Quem escreve sobre o assunto é a designer, formada pela Universidade de São Paulo – USP, Horrana Porfirio Soares.
“A África é o maior escritor-fantasma de todos os tempos.”
(autor desconhecido)
O domínio da escrita, do ponto de vista europeu, é o marco que divide a pré-história da história. Apesar de todas as outras formas de registro, que vão da pré-escrita às tradições orais, aprendemos que tudo começa quando a Europa passa a dominar esse recurso – a escrita romana de hoje é utilizada desde o século VII antes da Era Comum, também chamada “antes de Cristo”.
Só que no século IX antes da Era Comum, os gregos já escreviam a partir de uma escrita fenícia, em aramaico arcaico, utilizada na África Oriental e na Ásia Menor (Turquia). E mais de 3 milênios antes dos gregos – e paralelamente aos sumérios na antiga Mesopotâmia -, na verdade, cerca de 6.000 anos antes, os povos do Nilo no Egito Antigo já escreviam e registravam a sua história, desenvolvendo três tipos de escrita, de acordo com a demanda social.
A primeira e mais importante é a escrita hieroglífica, utilizada na impressão de mensagens em túmulos e templos. A segunda, a hierática, uma simplificação da escrita hieroglífica para facilitar o trabalho dos escribas na escrita dos papiros. E a terceira é a escrita demótica, mais informal, presente na maioria da literatura e registros do antigo Egito.

A escrita egípcia serve de base para o desenvolvimento da escrita meroítica, empregada em um dos reinos africanos mais antigos da história, o reino da Núbia (chamado pelos egípcios reino de Cuxe), no sul do Egito. A escrita meroítica, ao contrário da egípcia, não é ideográfica, e sim alfabética, como o alfabeto desenvolvido pelos gregos.

Além desses sistemas de escrita, na Etiópia, existe a escrita Ge’ez há pelo menos 3.000 anos, consolidada como sistema a mais de 2.000 anos. Detalhe: ainda presente nos dias atuais. (Gênesis 29.11–16 em Ge’ez. Fonte: Wikipédia)
Apesar destes (só para citar alguns) e tantos outros sistemas de escrita que foram desenvolvidos pelos povos africanos antes ou durante o desenvolvimento da escrita na Europa, que vão de ideogramas a silabários e alfabetos, crescemos subentendendo que os povos africanos são exclusivamente orais, ágrafos.
É inegável a forte presença da tradição oral na África. Mas é inegável também seu pioneirismo na escrita, por meio de diversos sistemas desenvolvidos no continente e na diáspora, por pessoas negras, para atender às demandas de registro e comunicação. É sabido que os povos africanos são os primeiros povos a se desenvolver em sociedade, onde essa demanda passou de fato a existir.

A citação no começo do texto que, ironicamente, possui um escritor-fantasma nunca creditado, reflete e resume a realidade de como a história nos é contada.
Uma das estratégias utilizadas para a manutenção do racismo foi – e tem sido – a de ignorar toda a contribuição tecnológica e intelectual do povo negro no percurso da história da humanidade, retirando assim qualquer referência para a construção de autoimagem que não seja a de um passado escravagista.
Mas assim como a escrita, a matemática, a arquitetura e diversas outras áreas do conhecimento não somente estiveram em África, como foram criadas e desenvolvidas dentro do continente durante milênios. O povo negro é pioneiro em essência.
…
Fontes: BBC News, Britannica, Egypt; Carlos Abner, Wikipédia-alfabeto grego, Wikipedia – escrita,
CUNHA JUNIOR, Henrique. Arte, adorno, design e tecnologia no tempo da escravidão. Museu Afro Brasil, 2013. Tecnologia e fazer artístico do tempo do escravismo. p. 41-50.
CUNHA JUNIOR, Henrique. O Etíope: Uma Escrita Africana.
KI-ZERBO, J. História Geral da África I: Metodologia e Pré-História da África. UNESCO, 2010. As fontes escritas anteriores ao século XV. capítulo 5.
MAFUNDIKWA, Saki. Afrikan Alphabets: The story of writing in Afrika. Mark Batty Publisher, 2007. Historical Afrikan writing systems. p. 51-61.
Escrito em 16 de fevereiro de 2018
Pode dar-nos o conceito de "povo negro", por favor? Por outro lado, já é sabido e provado cientificamente que não existem diversas raças humanas, mas apenas uma. O conceito de raça foi uma criação "ocidental" para, sim, diminuir a importância de outros povos que não os europeus que colonizaram outros continetes e outros povos. Ao usarmos estes conceitos (raça negra, raça braca, etc.) estamos justamente a difundir e a validar essas teorias racistas e coloniais, as mesmas que nos fizeram mal e nos segregaram. Enfim… O ser humano e as suas contradições (desorientações) eternas…..
Olá anônimo, obrigada por estar com a gente. Agora viramos o site primeirosnegros.com- depois de mais de 10 anos de caminhada
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Quanto à sua questão, sobre conceito de povo negro. Para mim é uma questão de origem e o meu é um posicionamento político sim. O povo negro ou povo preto é todo aquele que tem sua origem na África. Entendo que somos, muitos de nós, miscigenados. Mas, na vida, carregamos o ônus do racismo estrutural. Somos tratados como exóticos – e aí não importa o sangue europeu, americano…. Na discriminação, vale a nossa origem. Então, seremos sempre africanos, povo preto vivendo no Brasil, nos EUA, na França…
Wikipedia, querido, trabalhe o seu inglês só um pouco e estude, se informe das pesquisas feitas no Egito e assine a lista UNESCO e outras de estudos e descobertas arqueológicas. Ainda bem que postou anonimamente, vergonha pura e se vai ofender, não use palavras de derivação dos povos africanos, nem é possível te levar a sério. Visite bibliotecas e estude também. Se conseguir, e peça ajuda, pesquise os grupos de estudos sobre Diop nas universidades francesas, acho que já tens dever de casa suficiente. Não recomendo ZAP. E sou Lu Ain-Zaila, não me escondo, banco minhas palavras porque é assim que adultos fazem quando querem ser levados a sério. Fica a dica.
Adoro conhecer um pouquinho mais sobre a riquissima e infelizmente quase apagada história dos nossos ancestrais, ver um racista passando vergonha de brinde, ah, perfeito. Parabéns e obrigado pelo conteúdo e pela dedicação em pesquisar assuntos mais a fundo, dedicação que claramente algumas pessoas não tem. Vou seguir nas outras redes!
Obrigada João.
Por que que a Historia da África no inicio não foi escrita pelos próprios africanos ??
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Parabéns pela partilha do conteúdo!
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olha os papo desses cara kkk vão toma no cu, lindo o trabalho preta, realmente me interessei pela história e vou busca conhecer antes de fica falando merda igual uns branco do krlh aí, mas vcs não tiram minha paz não quero mais e que a nossa história seja contada
olha os papo desses cara kkk ******,
Lindo o trabalho preta, realmente me interessei pela história e vou busca conhecer antes de fica ********** igual uns branco ****** aí, mas vcs não tiram minha paz não quero mais e que a nossa história seja contada
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Sabe me dizer o sistema de escrita usado pelos falantes da língua Xhosa na África do Sul?