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•EDIÇÃO•

Espiritualidade negra, filosofia e religião

março de 2023

Mulher adepta ao candomblé com seus itens de proteção espiritual (Imagem: Joa Souza | Getty Images)

Nossa afro espiritualidade, filosófica por essência, fala de cada ser humano em conexão com o Universo para existir. E nos ensinamentos dos orixás se escancara esse nosso co-existir. Cada orixá é um elemento da natureza. Nós  somos nossa própria espiritualidade! 

“A racionalidade é apenas um dos elementos que constitui o sujeito. Nós somos o ontem, o hoje e o amanhã, que é o hoje… Para compreendermos a vida, primeiro precisamos compreender o universo, a natureza… Cuidar da água, que fertiliza a nossa existência, alimenta o nosso ser… Cuidar da terra, que nos retroalimenta… Cuidar do ar, que nos insufla a vida…”, ensina a filósofa Sonia Abike Ribeiro, do Instituto Ajeum Filosófico.

E ela dá mais detalhes::

“Vivemos como seres espirituais, como seres cósmicos. Estamos conectados com as forças da natureza e uns com os outros de tal maneira que daí encontramos nossas definições e forças.  A realidade material é entendida como a manifestação do espírito. A filosofia africana nos fala de um ser integral, harmônico.”

Na base das filosofias africanas estão as mitologias africanas, que explicam a origem da terra, do ser humano. E não existe apenas uma fonte ou uma verdade absoluta. Nós somos a realidade mítica.

A nossa espiritualidade se basta. Somos corpo e alma o tempo todo: primeiro sentimos, depois pensamos e, assim, sentindo e pensando, existimos. Isso é filosofia africana, o investigar original de quem somos, o pensar pioneiro sobre a constituição do ser.

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Laroyê! Nesse mês serão mais de 30 artigos!!!

n. 2

Orixás

O racismo religioso é perverso à medida que nega o que pratica. Não por acaso, os mitos das Filosofias Africanas ocupam páginas e páginas do livro de histórias conhecido como Bíblia Sagrada. Não por acaso, Exu e Jesus são muito parecidos em sua missão de mediadores das coisas do céu e da terra. Não por acaso, orixás e santos católicos se confundem. Que o diga Ogum – também chamado “São Jorge”; os Ibejis representados por São Cosme e São Damião; Oxum que, além de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, é também Nossa Senhora das Candeias…

n. 3

O sagrado e feminino

O  sagrado feminino, nesta edição, se faz representar por Anastácia, sem mordaça. O sagrado feminino está nas baianas do acarajé, que preparam a comida de Xangô e Iansã, ao lado de Mãe Hilda, que fez do primeiro bloco afro do Brasil, o Ilê Ayê, uma “extensão” do terreiro de candomblé Ilê Axé Jitolu! e de Mãe Menininha do Gantois, a maior mãe de santo em território nacional. 


Sagrado feminino é Oxum, Iemanjá, Iansã, Nanã, Obá e Ewa, nossas yabás, orixás femininas, que contam de nossas potências, imensas como as águas do mar; da nossa capacidade de fluir como os rios, de viver ao sabor dos ventos, dos raios e tempestades, de flutuar como a névoa, de renovar o espírito, ter fartura, pureza de coração, amar…

n. 4

Cristãos Negros e Negras

Eles e elas eram vistos como religiosos com “defeito de cor”. Mesmo assim, se encontraram no Catolicismo por fé ou imposição de seus devotos. É curioso, por exemplo, existirem duas primeiras santas católicas pretas: Ifigênia da Etiópia e Josephina Bakhita! É que a primeira foi santificada pela religiosidade popular e a segunda pela Igreja Católica, que apropriou-se do direito de “fazer santos”, inventando acanonização”. Ifigênia sobreviveu a uma fogueira, em formato de trono, onde seria queimada viva. Josephina Bakhita é a Padroeira dos Escravizados.

n. 5

Filosofias africanas e filósofos negros e negras

Não como um ser que pensa para existir, mas um ser que co-existe integralmente: sentindo e pensando… As filosofias africanas nos ensinam que “eu sou porque nós somos”. E entende por “nós”, toda a natureza, o Universo. Só existimos na reciprocidade, co-existindo!

A filosofia nasce desde o dia em que os africanos – como todos os homens, mulheres e raças do mundo – começaram a falar, questionar-se sobre a condição humana e a encontrar respostas de variadas formas e modos de expressão, como os mitos, os ritos, as ideias, instituições, usos, costumes, instituições…

O mito, que nos fala mais de perto, sempre existiu e sempre existirá, sem perder força ou importância. Isso porque o mito  contém e veicula um determinado conhecimento e uma concepção de mundo e de ser humano. É de sua essência, portanto, ser uma religião, uma ideologia e uma crença.

Cada sociedade desenvolve suas crenças – mitos, religiões, ideologias e cultura -, o que inclui toda a África – que habita o mundo -, com sua afro espiritualidade, filosófica por essência.