São muitos os pioneiros que marcam nossa história de ativismo. A quebra das correntes – que mantiveram o povo cativo no Brasil por mais de três séculos – é fruto da resistência do próprio povo preto.
O racismo é diverso, mas as formas de ativismo o superam. E tem sido sempre assim nas Américas, do norte e do sul: Cultura Ballroom, Underground Resistance, Frente Negra Brasileira – o primeiro partido político preto, Teatro Experimental do Negro, Letramento Racial, Movimento Negro Unificado, clubes de preto…
A primeira greve do país foi organizada pelos chamados ‘negros de ganho’, rebeliões negras abalaram tanto o Brasil Colonial que, escravizados nascidos na África foram ‘devolvidos’ ao continente negro, a tomada do Haiti acelerou o processo oficial de libertação…
São muitos os pioneiros que marcam nossa história de ativismo, como José do Patrocínio, Paulo Lauro, o primeiro prefeito negro da maior cidade do país e os muitos negros que vieram antes na política, iniciando o processo para enegrecê-la.
Que nos digam mais Sueli Carneiro, Antonieta de Barros, Lélia Gonzalez, as baianas do acarajé, nossas anônimas abolicionistas…
Apesar das ‘histórias da carochinha’ que, anos a fio, foram contadas nos livros didáticos, apesar do absurdo de a Princesa Isabel ser a mulher mais homenageada nas ruas brasileiras (desconsiderando as santas católicas), a quebra das correntes – que mantiveram o povo cativo no Brasil por mais de três séculos – é fruto da resistência do próprio povo preto.
Quando a princesa portuguesa assinou a “lei da abolição” – entre aspas por ser uma farsa -, sua intenção primeira era impedir a reforma agrária.
Quanto aos negros, estavam rebelados, em quilombos, confrontando os proprietários nas fazendas e nas cidades.
Frequentar espaços diversos, o estar na rua, servir em locais públicos, comercializar produtos, ser ‘moleque de recados’ e outras atividades vinculadas ao ser negro escravizado, permitiu a muitos o acesso a informações privilegiadas, facilitou a comunicação entre os que conspiravam pela liberdade, garantiu dinheiro para a compra de alforrias, o compartilhamento de estratégias de luta, os entraves no caminho…
O fim da escravidão é conquista ancestral, assim como cada um dos avanços da luta negra antirracista ainda em curso.
Não existe bondade na escravização de um ser humano nem na tão promulgada “libertação sem direitos” – insistimos. Leis abolicionistas não são sinônimo de consciência humana. A colonização transformou o Brasil em uma sociedade doente. E criarmos o lugar de existência negra nesta sociedade é a possibilidade de cura de todo o povo.
Fortaleça-se com o nosso olhar preto para a história do Brasil.
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