•EDIÇÃO•
Grandes Celebrações
Nilo Peçanha, Abdias do Nacimento, Laudelina de Campos Melo, Mirinha Cruz e Jéssica Nascimento como rainhas do Ilê Ayê, Solano Trindade, Carolina Maria de Jesus e Leci Brandão (Imagem: Reprodução)
Uma edição diferente, com datas que nos auxiliam a revisitar os fatos, os protagonistas e as protagonistas de conquistas pioneiras, usando a marcação do tempo. Tempo que, no registro oral da história dos povos africanos, é marcado pelo evento, supõe um lugar exato, um instante único.
220 anos da Independência do Haiti em 1° de janeiro de 1804 – Passados mais de dois séculos, o povo negro da ilha do Caribe ainda paga o preço pela rebeldia de ter lutado, resgatado a própria liberdade e promovido a independência do país.
Haiti, a primeira república preta da história
Haiti – século 21, o preço do pioneirismo
Há 200 anos, pela lei, éramos proibidos de frequentar escola – Após a Independência, a primeira constituição brasileira, datada de 25 de março de 1824, torna a educação primária gratuita a todos os cidadãos como direito inviolável, o que não inclui o negro escravizado. Resistimos, re-existimos, conquistamos a Lei 12.711, de 2012 – Lei de Cotas Sociorraciais nas Instituições Federais de Ensino Superior, divisor de águas na luta negra, e temos provado, dia a dia, a nossa excelência negra.
Lei de Cotas, revolução silenciosa
As leis e o racismo
Há 60 anos, Martin Luther King Jr. recebia o Prêmio Nobel da Paz – A indicação do pastor ativista político acontece em 14 de outubro de 1964, por sua luta por direitos civis para os afroamericanos. Dois meses depois, em 10 de dezembro, ele realiza o discurso de aceitação do prêmio. Passados quatro anos, é assassinado. E pensar que Luther King evidencia suas intenções pacifistas no histórico discurso de 28 de agosto de 1963, “Eu Tenho um Sonho”!
Martin Luther King: Eu tenho um sonho
Há 50 anos, nascia o Ilê Aiyê – O primeiro bloco afro do Brasil, nascido em Salvador, Bahia, em 1° de novembro de 1974, para resgatar a potência africana, nossa beleza e nossa espiritualidade.
Entre a fundação e o desfile no carnaval de 1975, houve resistência à ideia de Antonio Carlos dos Santos, o “Vovô” e Apolônio de Jesus, de formar um bloco só de negros, chamado “Poder Negro”. Aí, a Polícia Federal da Bahia disse “não”! Mas os orixás disseram “sim” e Mãe Hilda rebatizou o bloco como Ilê Ayê, “extensão” do terreiro de candomblé Ilê Axé Jitolu! E foram cem os primeiros foliões.
80 anos de Angela Davis – Era 26 de janeiro de 1944, nascia em Birminghan, Alabama, Estados Unidos, a ativista feminista, escritora, pesquisadora e professora emérita da Universidade da Califórnia Angela Davis. Autora de clássicos do feminismo negro, como “Mulheres, Raça e Classe” e “Mulheres, Cultura e Política”.
Angela Davis, a militância pantera negra
70 anos de Oprah Gail Winfrey – Nascida em condição de extrema pobreza em 29 de janeiro de 1954, na cidade de Kosciusko, Mississippi, Estados Unidos, tornou-se a primeira negra bilionária da história, a primeira mulher negra bilionária do mundo.
Oprah, pioneira em talk-show e primeira negra bilionária da história
80 anos de Leci Brandão – Cantora, compositora, atriz, ser político, deputada estadual, Leci Brandão da Silva, nasce em 12 de setembro de 1944 e é a primeira mulher negra e homossexual, a integrar a ala de compositores de uma escola de samba, reduto, à época, masculino-machista e homofóbico por excelência.
Leci Brandão, primeira mulher negra, homossexual, na ala de compositores da Mangueira.
120 anos de Laudelina de Campos Melo – À frente do primeiro Sindicato das Empregadas Domésticas do Brasil – categoria formada por uma maioria de mulheres pretas -, era conhecida como o “terror das patroas”. De Poços de Caldas (MG), Laudelina vive, praticamente, todo o século XX, de 12 de outubro de 1904 a 12 de maio de 1991! É decisiva na vida de toda uma geração.
50 anos de Solano Trindade – Em 19 de fevereiro de 1974, o poeta, compositor, ator e teatrólogo pernambucano Francisco Solano Trindade se torna antepassado, história. Nosso pioneiro morre como indigente na cidade do Rio de Janeiro, aos 65 anos de idade. Ele que, nas palavras do escritor Darcy Ribeiro, é um dos mais importantes nomes do século XX a trabalhar a auto-estima do povo negro do Brasil. Quem fez surgir a Literatura Negra no Brasil.
Solano Trindade, pioneiro na literatura negra
100 anos da morte de Nilo Peçanha – o primeiro presidente negro do Brasil, considerado “pai do ensino profissionalizante”. Seu lema de governo era a paz e o amor. Batizado Nilo Procópio Peçanha, ocupou o cargo nos anos de 1909 e 1910 – faz parte dos “vices que deram certo” – ou mais ou menos. Historiadores o indicam como o primeiro presidente da República com perfil popular: gostava de andar pelas ruas, parar em bares e em lojas para conversar e discursar nas praças da cidade. Vive de 2 de outubro de 1867 a 31 de março de 1924.
110 anos de Abdias do Nascimento e Carolina Maria de Jesus – Os dois nasceram no mesmo dia, mês e ano: 14 de março de 1914. Em comum, ainda, o pioneirismo e a escrevivência.
Abdias do Nascimento é paulista, da cidade de Franca. Primeiro senador da Republica negro e ativista, é autor do ensaio “Genocídio do Negro Brasileiro”, que confronta o mito da democracia racial e denuncia o racismo mascarado do Brasil, em 1977, e de vários livros como “Quilombismo”, de 1980, uma resposta ao racismo institucional. Durante a sua militância, que começa contra a segregação racial em estabelecimentos comerciais, funda o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiro e cria o Teatro Experimental do Negro.
Carolina Maria de Jesus é da cidade de Sacramento, Minas Gerais. No seu tempo, literatura era ofício de homens brancos, letrados e, com raras exceções, ricos. E, não bastasse isso, seu livro de maior sucesso, “Quarto de Despejo”, reflete determinações de raça, classe social, escolarização, profissão e procedência. Trata de questões de gênero, sexualidade e etarismo. Mas ela derruba muralhas e tem sua produção literária editada em 14 idiomas, indicada como leitura obrigatória em vestibulares e estudada em teses de doutorados. Sua história é contado em filmes, séries e documentários. Mas, no momento de sua morte, em fevereiro de 1977, ela estava esquecida!