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Samba-reggae, sagrado e profano

Olá! Se você está interessado em música e cultura, vai adorar conhecer mais sobre o samba reggae. Nesta página, vamos explorar este gênero musical influente, suas origens na rica cultura afro-brasileira e seu impacto vibrante na cena musical.

Filho de Brasil e Jamaica, o gênero musical nasce em ventre baiano, da batuta do mestre Neguinho do Samba e se transforma em um dos pilares da cultura musical da Bahia.

Samba reggae Olodum
Bloco Olodum (Foto: Reprodução)

Samba-reggae não é axé music. 

Samba-reggae, na essência, é uma mistura de samba de roda, um ritmo mais lento e cadenciado que o das escolas de samba do Rio de Janeiro, com o reggae jamaicano de Jimmy Cliff e Bob Marley. 

No gênero, ainda, pitadas do funk americano – derivado da soul music, inspirada no Rhythm and blues e no gospel -, com fortes influências latinas do merengue, da salsa e do candomblé.

“O samba-reggae reúne uma gama de ritmos e tem importância muito forte para a nossa cultura. O gênero é um diferencial de identidade musical que nasce na Bahia e se alastra pelo mundo”, enfatiza a cantora Margareth Menezes.

Samba-reggae é tambor, pandeiro, atabaque, viola eletrônica…

O mestre na bateria

Antonio Luís Alves de Souza é o nome do mestre na bateria que fez surgir o samba-reggae. Nome na certidão de nascimento porque, pelo mundo, ele se tornou conhecido como Neguinho do Samba. Se não fosse o samba-reggae, a atual música baiana não seria o que é.

Quando criança – nascido e criado em Salvador -, Neguinho já usava as bacias de lavar roupa da mãe como “instrumentos de percussão”. Adulto, se tornou um dos maiores percussionistas do país, referência musical, o homem que organizou, reestruturou e modificou a musicalidade baiana, fazendo a capital do estado sentir-se envolvida pelo ritmo. 

Mestre Neguinho do Samba
Mestre Neguinho do Samba (Foto: Reprodução)

O mestre, ainda, é o grande responsável por fazer o gênero atravessar fronteiras e invadir o mundo. Foi ele quem, em 1996, assinou o arranjo do samba-reggae para Michael Jackson, na música “They don’t care about us“, que teve o icônico clipe gravado no Pelourinho.

Leia mais a respeito no texto sobre o bloco afro Olodum.

Neguinho do Samba viveu entre 1955 e 2009. Sua música, entretanto, já é imortal.

Data e local

divergências sobre quando e onde o samba-reggae foi criado, mas não sobre quando o ritmo negro por excelência virou notícia. 

Era o ano de 1986 e o mestre Neguinho do Samba regia a bateria do Olodum, no Pelourinho, centro histórico de Salvador. A música era Faraó, de Luciano Gomes, ainda hoje uma das mais tocadas no carnaval de Salvador e que é considerada a “célula máter” do samba- reggae. 

“…Que mara mara maravilha, ê

Egito, Egito, ê

Que mara mara maravilha, ê

Egito, Egito, ê

Faraó, ó-ó-ó

Faraó, ó-ó-ó…”

https://www.youtube.com/watch?v=5cSpCMwlNhk

No Carnaval de 1987, o Olodum desfila ao som desse refrão e o bloco passa a ser conhecido como o berço do samba-reggae.

Mas Neguinho, antes de ser o Olodum – um dos fundadores, inclusive -, era mestre de bateria do Ilê Ayê e foi no bloco pioneiro, acompanhando a dança das mulheres mais velhas que veio a inspiração para criar o ritmo.

Ele contou o processo:

“Eu reproduzi, no tambor, a maneira como elas iam dançando,

 como mudavam os passos…”

Em seu release, também, o Muzenza, bloco nômade surgido em 1981 no bairro da Liberdade, conta que  “explodiu o reggae de rua com sua banda percussiva, que possui o maior número de variações rítmicas no Estado, e ao fundir elementos do swing afro-baiano ao reggae jamaicano criou o samba reggae”.

Tese, aliás, que o cantor e compositor Carlinhos Brown, outro mestre-inventor da música baiana,confirma: o samba-reggae nasceu no Muzenza, não no Olodum.

Musicalidade criativa

A história do samba-reggae se mistura com a história dos blocos afro, arremata o presidente e fundador do Ilê Aiyê, Antônio Carlos dos Santos, o Vovô do Ilê:

“O Olodum e o Muzenza foram grandes blocos a usarem a batida característica classificada como samba-reggae. Daí surgiram muitos outros artistas e os blocos de axé incorporaram, inclusive, bandas de blocos afro”.

O fato é que “o samba-reggae é a grande trilha sonora das últimas ideias criativas musicais, ocorridas em Salvador, nos últimos 40 anos”, indicaVívian Caroline, gestora da Banda Didá, a primeira banda de mulheres que tocam tambor do Brasil, criada pelo mesmo Neguinho.

“Hoje, nossos corpos de mulheres negras interpretam o samba-reggae ao seu modo – insiste Vivian. O samba-reggae tem uma gestualidade, uma coreografia e uma narrativa importante, que transborda e exala dos nossos movimentos, da nossa sincronicidade, da nossa plasticidade”.

Muzenza e o reggae

Muzenza é um termo de origem bantu-kikongo, que significa Yaô do Nagôs, nome dado aos iniciados no candomblé de linha de Angola. E o bloco foi criado para homenagear o povo rastafari – movimento religioso surgido na Jamaica na década de 1930 entre negros camponeses descendentes de africanos escravizados .

Em seus primeiros momentos de vida já revela um afro cantado que quer realçar a cultura do povo negro sofrido e sem uma condição mínima de educação, saúde e bem estar social. A ideia do bloco é apresentar um mundo palpável, visível, para as comunidades carentes de Salvador.

Bloco Muzenza
Bloco Muzenza (Foto: Antenor Pereira/Arquivo CORREIO)

E assim, pouco a pouco, o  Muzenza construiu um livro de história em ritmo de Carnaval: cada música, uma aula, celebrando símbolos, datas e personalidades. 
No “currículo musical”, temas como Danças de Iaos, Bob Marley, Cultura Reggae, Guerrilheiros da Jamaica, Rastafari, Afrofuturismo, Cidadania, Nordeste Negro, História da Dança Afro na Bahia, Uma Nação Africana chamada Bahia onde se pratica Reggae, Futebol e Paz, entre outros.

World music

Toda essa produção afro-baiana, nos anos 1990 fica “gringa” e entra para a  categoria world music – denominação que abriga os estilos musicais extra-ocidentais  e se torna uma fatia promissora e dinâmica do mercado fonográfico. 

Antes, na primeira metade do século XX, os contatos do meio musical de Salvador se davam principalmente com a África e o Rio de Janeiro. Depois, nas décadas de 1960, 1970 e 1980, no bojo do movimento negro, os intercâmbios se expandiram em direção ao Caribe e à América do Norte. E, em seguida, aconteceu a mundialização dos intercâmbios musicais.

Michael Jackson Olodum
Em 1996, Michael Jackson retorna ao Brasil para a gravação do clipe da canção “They don’t care about us”, que teve como cenário o Morro Dona Marta, no Rio de Janeiro, e o Pelourinho, em Salvador. Foto: Anibal Philot/Agência O Globo

Os selos especializados, na época, se multiplicaram na Europa e nos Estados Unidos. Diretores artísticos e organizadores de espetáculos percorriam o planeta em busca de artistas populares e aconteceu uma mudança de posição da música produzida na periferia do “Atlântico Negro”, que passa a alimentar os mercados musicais mais importantes do mundo.

Exotismo musical

Esse fluxo global, que coloca a música negra em posição de destaque, repercute fortemente em Salvador – a capital deixa de ser um centro produtor de matéria-prima para ser um centro exportador de musicalidade afro.

O samba-reggae se insere neste novo cenário que privilegia a musicalidade “étnica”, na recriação de sonoridades africanas, mesclando-as com ritmos brasileiros e caribenhos. 

Um exemplo da potência desta nova produção musical de Salvador  no Exterior é o anúncio do Jornal do Brasil, em artigo publicado em 1996: 

A tomada da Bastilha pela cultura baiana – a invasão que começou nos anos 70 agora conquista os franceses com capoeira e samba-reggae”.

Este tipo de “exotismo” musical passou a ser tão interessante para os mercados fonográficos internacionais que o Grammy americano, maior prêmio destinado à música, criou uma categoria específica para reconhecer o trabalho dos artistas. Alguns baianos, inclusive, chegaram a disputá-lo, como o Olodum (Neguinho do Samba), Margareth Menezes e Gilberto Gil.

Poder local

O Olodum, aliás, é exemplo de reverberação desse momento da música negra.  Depois de batalhar anos a fio no Pelourinho, sem despertar a atenção, integrando a world music, o grupo consegue penetrar no universo eletrônico dos estúdios e alcançar visibilidade midiática. E mais: estabelece uma conexão com um dos grandes astros do pop internacional, Paul Simon. 

O encontro acontece na passagem o artista pela Bahia, em 1990, para pesquisar os ritmos brasileiros. Ele conhece a produção musical do bloco, fica fascinado e contrata a bateria, sob a regência de Neguinho do Samba, para gravar a canção Obvious Childs, carro chefe do CD The Rhytm of the Saints – álbum vencedor do Grammy, em 1991, na categoria world music, com um milhão de cópias vendidas.

Resumindo…

Se até o final dos anos 1980, qualquer artista que quisesse fazer sucesso tinha que sair da Bahia em direção ao sudeste, com a ascensão do samba-reggae isso deixou de ser necessário. Artistas brancos como Daniela Mercury e Netinho se tornaram milionários sem sair de Salvador.

Daniela Mercury O Canto da Cidade
Capa do disco “O canto da cidade, de Daniela Mercury. (Foto: Marcelo Faustini)

Quanto à musicalidade percussiva inserida na militância política dos blocos afro, se perdeu bastante

A expansão do mercado de música baiana, a penetração do afro-pop no panorama da world music, tem o gosto amargo da apropriação e a alegria em suas letras não combina com a exclusão e a violência vivida pelo povo negro, em especial na Bahia, o estado mais letal do Nordeste brasileiro, onde 100% dos mortos pela polícia em Salvador são negros.

(A informação é da pesquisa “Pele Alvo: A cor da violência policial”, da Rede de Observatórios da Segurança.) 

fontes: G1, Buala,Wikipedia-Muzenza, Bahia, Prosas, Carnaxe,  JStor, Wikipedia-Samba-reggae, G1

Explorando as Raízes e o Ritmo do Samba Reggae: Uma Jornada Musical Afro-Brasileira

Nesta página, você encontrará uma introdução ao samba reggae, um gênero musical cativante com raízes profundas na cultura afro-brasileira. Vamos mergulhar na história do samba reggae, suas características únicas que combinam elementos do samba e do reggae, e seu impacto cultural duradouro, tanto no Brasil quanto além.

• O que é samba reggae? Samba reggae é um gênero musical que combina elementos do samba brasileiro com o reggae jamaicano.
• Quais são as origens do samba reggae? O samba reggae tem suas raízes na cultura afro-brasileira, especificamente na Bahia, onde surgiu na década de 1970.
• Quais são algumas características distintivas do samba reggae? Algumas características incluem ritmos percussivos marcantes, uso de tambores como o surdo e o timbau, e letras que abordam temas sociais e culturais.
• Quem são alguns dos artistas ou grupos mais conhecidos do samba reggae? Alguns dos grupos mais conhecidos incluem Olodum, Ilê Aiyê e Timbalada.
• Qual é o impacto cultural do samba reggae? O samba reggae desempenhou um papel importante na promoção da identidade afro-brasileira, na disseminação da cultura brasileira pelo mundo e na união de diferentes influências musicais.

1 comentário em “Samba-reggae, sagrado e profano”

  1. Olá! Bom dia e com muita licença que lhe peço esse contato inicial senhora Tania Regina. Me chamo Gustavo Duarte e sou um Arte Educador que ama o que faz para e com a comunidade preta de Salvador. Tenho esse projeto que está como indicação de site (https://youtube.com/@penumbrabaiano?si=_54qI1ukRRtWV_mQ) e gostaria de ter a honra de conversar contigo ao vivo para falarmos sobre essa reconstrução e reparação da cultura que se perde e que se silencia cotidianamente, onde nós dois somos parte interessada de que esse silenciamento não continue.

    Para maiores informações, deixo o Instagram @penumbrabaiano para contato mais próximo.

    Abraços!

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