Uma das personalidades mais influentes e versáteis do Brasil, Lázaro Ramos é multiprofissional: ator, cineasta, escritor, ativista… O maior destaque no seu existir, entretanto, é o como ele assume o protagonismo do próprio viver para provocar mudanças, dialogar sobre questões que importam e manter-se conectado com a sociedade.
O que este artigo responde:
Quem é Lázaro Ramos?
Quais as áreas de atuação de Lázaro Ramos?
Como e onde foi a infância e a adolescência de Lázaro Ramos?
Por que Lázaro Ramos é considerado uma personalidade influente?
Quais os principais prêmios recebidos por Lázaro Ramos?
Qual foi o primeiro livro infantil escrito por Lázaro Ramos?
Qual o nome do livro de Lázaro Ramos sobre a questão racial?
Qual é a importância do filme “Medida Provisória”, dirigido por Lázaro Ramos?
Ator, cineasta, apresentador, dublador, escritor, ativista, embaixador da Organização das Nações Unidas para a Infância, cantor se preciso, comediante, vilão, capoeirista, influencer, filósofo, figura relevante para a história do audiovisual… Pioneirismos? A sua existência inteira.
Com jornada única, Luís Lázaro Sacramento Ramos é pessoa negra fundamental neste século XXI, Homem do Ano 2022 na categoria Cinema! Ao lado de Beyoncé, Rihanna, Lupita Nyong’o, Lebron James, Adriana Barbosa e Taís Araújo, em 2017, é colocado entre as personalidades afrodescendentes mais influentes do mundo abaixo dos 40 anos, da Most Influential People of African Descent, organização que aponta todos os anos os afrodescendentes que fazem a diferença.
Oito anos antes, em 2009, além de ser considerado um dos 100 brasileiros mais influentes do ano pela Revista Época, é nomeado embaixador do Unicef – Fundo das Nações Unidas para a Infância, pela credibilidade que tem perante o público e por conta da vinculação que consegue entre sua agenda profissional e sua agenda social dedicada aos direitos de crianças e adolescentes brasileiros.
Lázaro Ramos conjuga o talento artístico com as qualidades pessoais. Dialoga com a sociedade sobre o problema das desigualdades, do racismo e dos efeitos disso para todos.
E só para confirmar o que todos vêem, em 2010, ele recebeu o prêmio Camélia da Liberdade, na categoria “Imprensa”, em reconhecimento a personalidades que promovem ações de inclusão social de afrodescendentes.
E, em 2007, o público adolescente da Capricho – revista criada há 70 anos pela Editora Abril – o colocou na condição de primeiro negro a ganhar o prêmio de Melhor Ator de novelas no Brasil, interpretando o personagem Foguinho em Cobras & Lagartos, no ar em 2006 – a novela também lhe rendeu a indicação ao prêmio Emmy Internacional de Melhor Ator.
Na tela grande
Seguindo a jornada de prêmios, em 2019, o ator recebe o Troféu Oscarito, por sua trajetória no cinema, inaugurada oficialmente com o drama Madame Satã, seu primeiro filme como protagonista que, desde 2015, integra a lista dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine).
Madame Satã, de 2002, dirigido por Karim Aïnouz, conta a história do homem negro João Francisco dos Santos, nascido em 1900, escravizado, que se transformou em renomado malandro, ativista, travesti e destaque nos carnavais do Rio de Janeiro.
Em seu segundo papel como protagonista, ele interpreta André, o tímido desenhista e operador de fotocopiadora em O Homem que Copiava, de 2003.
A primeira performance premiada no cinema, no entanto, acontece em 2005 – Melhor Ator no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, com Cafundó e seu terceiro protagonista, o ex-escravizado João de Camargo, um líder religioso.
De Madame Satã aos dias atuais, foram mais de 30 filmes, vivendo personagens únicos como o “herói popular” aspirante a cantor Roque, em Ó Pai, Ó; o porteiro Geneton na comédia Sorria, Você Está Sendo Filmado; o violinista Laerte em Tudo que Aprendemos Juntos, e o seu primeiro vilão, o sanguinário Nenê do suspense, em Mundo Cão.
A estreia como diretor de cinema acontece em 2019 com Medida Provisória. O filme, devido à pandemia de covid 19, estreou primeiro em festivais internacionais, conquistou prêmios como o troféu de Melhor Roteiro no Indie Memphis Film Fest, e um contrato de exclusividade com a Amazon Studios.
História global
A assinatura para um novo trabalho com a Amazon, aliás, fez o cineasta Lázaro romper um contrato de 18 anos com a Rede Globo, onde iniciou sua carreira televisiva e fez história interpretando papéis memoráveis, desde sua primeira aparição na série Sexo Frágil, em 2003.
Na tela a Globo, ele “viveu” o solteirão convicto André Gurgel em Isensato Coraação; o capoeirista Zé Maria, em Lado a Lado; o físico quântico, guru pop e mentor filosófico Brian Benson em Geração Brasil – para citar alguns personagens.
Ao lado de Taís Araújo, esteve à frente da primeira produção brasileira protagonizada por um casal negro, racialmente consciente, empoderado e com muito dinheiro – Míster Brau. Ele showman, ela produtora e empresária.
A série, no a partir de outubro de 2015 – e por quatro temporadas -, teve reconhecimento internacional por propor um novo olhar para o povo preto, incluindo no roteiro questões de gênero e de racismo estrutural.
Espelho
Como Lázaro, na mesma Rede Globo, o artista participa da cobertura da 87ª cerimônia de entrega do Oscar; em parceria com a Unesco, estabelece uma nova linguagem para o projeto Criança Esperança, e durante quatro anos apresenta quadros no programa Fantástico.
No talk-show semanal Espelho, no Canal Brasil, interpreta-se como apresentador. Ao longo de 12 anos, dialoga – ele sabe da importância do tempo da fala e do tempo da escuta – com personalidades sobre temas do cotidiano nacional. E não faltam homens e mulheres, negros e negras, de diversas áreas do saber, para falar não só de negritude, mas do nosso olhar para a política, economia, cultura, vida…
Em Espelho, também, um espaço reservado para a literatura negra, outra de suas áreas de atuação.
Lázaro, um escritor
A primeira aposta do artista na literatura infantil acontece aos 21 anos e trata da criança que ele foi, de autoestima. O título do livro? Paparutas, uma referência à Ilha do Pati, em São Francisco do Conde, cidade de origem de grande parte da sua família e onde viveu a infância.
No segundo livro, A Velha Sentada, lançado em 2010, o foco está na relação das crianças com a internet e o poder da imaginação. A escrita dá origem ao espetáculo infantil musical A Menina Edith e a Velha Sentada, conquista o Prêmio Zilka Salaberry em 2014 na categoria Melhor Diretor para Lázaro Ramos e dois Prêmios CBTIJ de Teatro para Crianças, nas categorias Música Original e Texto Adaptado.
Leia mais sobre Lázaro Ramos em A Potência da Literatura Negra.
O terceiro livro infantil é O Caderno de Rimas do João, baseado em expressões curiosas que ouviu de diversas crianças, principalmente seu filho mais velho, João Vicente. Por meio de rimas, o autor tenta explicar temas complexos como corrupção e dinheiro.
Ainda no universo infantil, Lázaro Ramos assina o roteiro e a direção do espetáculo Boquinha… e assim surgiu o mundo – um convite para explorar as aventuras de uma viagem por diversas culturas que tentam explicar, cada uma à sua maneira, a criação do mundo.
Detalhe: a história é baseada em uma dobradura que o ator fazia para brincar com seus filhos e a partir daí responder seus questionamentos sobre a Terra.
Além de teatro infantil, nos palcos, Lázaro Ramos assinou, como diretor, o espetáculo Namíbia, não, de Aldri Anunciação – que, na versão para o cinema, se transformou em Medida Provisória , e ao lado de Taís Araújo, o drama O Topo da Montanha, da autora nova-iorquina Katori Hall, espetáculo que imagina as últimas horas de vida do líder dos direitos civis norte-americanos Martin Luther King Jr, entre outros trabalhos.
E ele segue produzindo, para crianças e adultos.
Na Minha Pele
É o título do primeiro livro de Lázaro Ramos para adultos, lançado em 2017. Foram dez anos de maturação! E o resultado é muita reflexão sobre racismo, cotas, família, afeto e empoderamento.
Ele mistura autobiografia e cotidiano em uma conversa franca e amigável. Infância, adolescência, vida adulta, aspectos íntimos de sua trajetória, vida em família, casamento, nascimento dos filhos, sonhos, escolhas, encontros que mudaram sua vida e a consciência de ser homem negro.
Se vê imerso em perguntas, sem respostas, por temer que seus filhos – João Vicente e Maria Antonia – sofram abordagem policial apenas pela cor da pele (prática naturalizada no Brasil); pensando nos desafios da afetividade do homem negro e da mulher negra, a partir de experiências vividas pelo casal na adolescência, época em que quando ambos eram preteridos ao lugar de “melhores amigos” e nunca de “paqueras”, entre outros ecos ensurdecedores do racismo, presentes na publicidade, nas artes, no mercado de trabalho…
Ao abordar a história negra, destaca a dificuldade de se traçar a nossa genealogia devido ao passado escravidão e o apagamento deliberado de nossa existência humana e reflete do “privilêgio” de ter vivido a infância em uma ilha à influência do Ilê Ayê, bloco afro tradicional, pioneiro no discurso de valorização do negro.
Na Minha Pele instiga o leitor a rever seus (pré)conceitos e reitera a necessidade de o racismo ser assimilado, compreendido, por todos para ser extirpado, arrancado, desenraizado, da sociedade.
Era uma vez…
Lázaro Ramos nasce em Salvador no dia 1º de novembro de 1978. Filho único em uma grande família.
Aos 10 anos, na escola, estuda teatro e interpreta pequenos papéis com o nome artístico Lula Somar – formado a partir das duas primeiras letras do seu nome composto “Lu” de Luís,”La” de Lázaro + “Somar” do sobrenome “Ramos”, ao contrário).
Sua carreira começa pra valer na Salvador da Revolta dos Malês, das Baianas do Acarajé, com o Bando de Teatro Olodum, formado por atores negros. Ele está com 15 anos e decide ser ator.
Mas, na época, era impossível viver de arte. Para pagar as contas, se forma em Patologia e trabalha como técnico de laboratório de análises clínicas.
Lázaro Ramos: Homem do ano
Em novembro de 2022, Lázaro Ramos estreia como diretor de cinema. O filme é Medida Provisória e, de cara, ele recebe o prêmio de Homem do Ano 2022 na categoria Cinema, da GQ Brasil.
Em seu discurso, o ator agradeceu a equipe do filme:
“Acho que até fui indelicado nos outros anos porque, se estou aqui, é porque nunca estou sozinho, é pelos coletivos, as pessoas que estão comigo. Medida Provisória pertence a muita gente, uma equipe que integrou esse movimento forte contra o racismo. Eu pensei em desistir, esse filme foi perseguido, sofreu boicote, acusado de ser irrelevante, mas as pessoas ao meu lado não desistiram. E a gente se une, inclusive, atrás de um Brasil melhor”.
Medida Provisória foi o grande vencendor do Inffinito Film Festival, um dos maiores festivais de cinema brasileiro realizado no exterior. O longa foi reconhecido nas categorias de Melhor Filme, Melhor Roteiro e Melhor Ator Coadjuvante para Seu Jorge.
No elenco, ainda, Taís Araújo, Alfred Enoch – este último conhecido pela participação na franquia Harry Potter no papel do bruxo Dino Thomas -, Aldri Anunciação.
Adaptação de sucesso da peça de teatro Namíbia, Não!, o thriller político Medida Provisória é o primeiro filme de ficção dirigido por Lázaro Ramos e teve sua estreia nos cinemas brasileiros no dia 14 de abril de 2022, competindo com blockbusters internacionais, apesar de filmado em 2019.
A trama se passa num Brasil do futuro em que uma iniciativa de reparação pelo passado escravocrata provoca uma reação no Congresso Nacional, que aprova uma medida provisória que torna impossível a vida de negros e negras no Brasil.
Fontes: Site Oficial, Gaucha ZH, Escrevendo o futuro, Geledés, SP Escola de Teatro, Wikipedia, Adoro Cinema, Veja-Globo, Veja-Influencer , GQ.Globo.com, Globofilmes
Publicado dia 1 de dezembro de 2022
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Adoro o Lázaro Ramos. Grande admiração por sua pessoa, seja como ator e como ativista dos direitos humanos. E fundamental que existam pessoas como exemplo no combate aos preconceitos, ao racismo, e outros males da humanidade, para que a paz e a superação da violência sejam gradativamente implementados.
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