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•EDIÇÃO•

Bahia, capital Resistência

junho de 2024

Edição Bahia (Imagem: Primeiros Negros)

Esta edição há muito foi pensada, mas ganhou contornos mais firmes em 2023, quando me preparava para a quinta viagem à capital afro do país, onde a gente se sente em casa, apesar de toda a violência, de toda a miséria, de toda exploração do trabalho…

Em Salvador, pulsa em mim, na batida do tambor, a felicidade guerreira. Eu me reconheço e sou reconhecida em um simples caminhar, seja na Ribeira, Cidade Baixa; no Pelourinho, centro; no bairro do Curuzu do Ilê Ayê… E eu caminhei para além dos pontos turísticos. Me permiti viajar na história do povo africano da África, da Bahia, do Brasil…

Bahia, Capital Resistência propõe este percorrer o tempo ancestral.

Por que Capital Resistência?

  • Porque a  Bahia é a região onde ocorreu o maior número de revoltas – 30 só na primeira metade do século XIX ! Montamos uma linha tempo de 1807 a 1838. 
  • Porque muitos dos nossos pioneiros e pioneiras são de lá – elencamos 18, nascidos entre 1830 e 1989.
  • Porque Salvador, a capital da Bahia, é a primeira capital do Brasil e a “capital afro” do Brasil, da “afro conveniência”, na opinião do vereador soteropolitano Silvio Humberto, nosso entrevistado para esta edição. 

É fato que Salvador  tem o maior percentual de pessoas negras na população – 85%! Este número, entretanto, não se traduz em poder político, poder econômico. Ao contrário. Durante o Carnaval 2024, na “capital afro”, evidenciou-se a cor do trabalho informal, mal remunerado, para que a cidade (leia-se: poder público) celebre os milhões arrecadados com o turismo. 

É o povo chamado “cordeiro” que segura as cordas quando o trio elétrico passa, são os ambulantes – amontoados ao longo das ruas com suas caixas de isopor – que garantem uma grana astronômica para músicos famosos, para a cerveja que patrocina o carnaval… Isso para dizer o mínimo.

Na “capital afro”, o trabalho é negro e o lucro é branco. Salvador é a capital com os piores índices de pobreza, desnutrição e desemprego, confirma o mapa de desigualdades que analisa e compara indicadores sociais entre as 26 capitais do país.

A polícia, também, ostenta o primeiro lugar em violência, fruto – registre-se – da opressão secular para reprimir as rebeliões que tiravam o sono dos colonizadores, dos “proprietários” de escravizados, do Império.

E pensar que foi lá que aconteceu a verdadeira história da independência do Brasil, a primeira greve urbana, o resgate da nossa cultura, da nossa força ancestral! É lá que nasce a primeira escola comunitária de educação infantil pan-africanista!

Precisamos seguir nos buscando, nos fortalecendo, enfrentando o desafio – mais que urgente – de eleger os nossos para nos fazer representar para revolucionar, mais uma vez, a história, tomando de volta a nossa cultura, garantindo o respeito à nossa espiritualidade…  

Nossa edição Capital Resistência está abundante em artigos abordando todos estes pontos. E sabemos que estamos longe de contar a história toda!

Vem com a gente.

Tania Regina Pinto